Educação financeira para crianças: passo a passo por faixa etária

Falar sobre dinheiro com crianças ainda é um tabu para muitos brasileiros. No entanto, especialistas garantem que quanto antes esse diálogo começar, melhor será para o desenvolvimento das crianças. A educação financeira desde a infância pode ser decisiva para formar adultos mais conscientes, responsáveis e preparados para lidar com o dinheiro. Pensando nisso, diversas escolas, como o Colégio Helyos, em Feira de Santana, já estão incluindo a educação financeira em suas propostas curriculares.“A educação financeira é fundamental para formar cidadãos conscientes e preparados para lidar com o dinheiro. Desde cedo, ajuda crianças e adolescentes a desenvolverem habilidades como planejamento, controle de gastos, poupança e consumo consciente, além de promover autonomia e responsabilidade — competências essenciais em todas as fases da vida”, destaca Márcia Firmino, coordenadora pedagógica do Programa A TARDE Educação.“Não é preciso transformar a educação financeira em algo complicado. Ela deve ser apresentada de forma leve, prática e, principalmente, adequada à idade”, explica Márcia Silva, gerente de investimentos do Sicredi.Finanças para crianças: passo a passo por idadeDesde os primeiros anos de vida, é possível iniciar o contato com o universo do dinheiro. Entre 3 e 5 anos, brincadeiras como lojinha com moedas de brinquedo e cofrinhos coloridos ensinam noções básicas de valor, escolha e limite.“É uma fase em que o lúdico faz toda a diferença. Mostrar que o dinheiro cresce quando guardado é um ensinamento simples, mas que marca”, destaca Márcia Silva.Durante o Ensino Fundamental I (geralmente dos 6 aos 10 anos), as crianças podem aprender noções simples de economia.“Como a diferença entre o que se quer e o que se precisa, o conceito de poupar e como planejar pequenas compras. Atividades práticas, como uma ‘feirinha’ escolar, são bastante eficazes — algumas contas bancárias infantis já oferecem essa funcionalidade”, sugere Márcia Firmino.No Colégio Helyos, a educação financeira é aplicada do 2° ao 5° ano com atividades que simulam situações reais.“Do 2° ao 4° ano, os estudantes recebem um salário mensal com a moeda da escola, somado aos bônus acumulados nas aulas de inglês ao cumprir tarefas, como participar das aulas e seguir os combinados. O descumprimento das regras gera multas, podendo deixar alguns com saldo negativo. Ao final de cada unidade, eles pagam o aluguel da cadeira e podem comprar itens na lojinha, ingresso de cinema, workshop e participar de leilão”, conta Valesca Pantoja, coordenadora de Inglês do Fundamental I do Colégio Helyos.

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No 5° ano, os alunos participam do projeto Helyos Life Game. “Durante o ano letivo, os alunos formam equipes que representam famílias em um jogo da vida. O objetivo principal é resolver desafios que envolvem temas como fontes de renda, orçamento, gasto com consciência, tipos de investimentos, como proteger seu dinheiro, impactos do consumismo e crédito. Ao final do jogo, a equipe que obtiver mais saldo, investimentos e patrimônio é a vencedora”, explica a coordenadora.No final do Ensino Fundamental I, o conceito de orçamento e responsabilidade entra em cena. Gráficos e tabelas ajudam a tornar as comparações mais visuais. “É quando o jovem começa a entender que toda escolha tem um custo”, afirma Márcia Silva.No Ensino Fundamental II, com adolescentes entre 11 e 14 anos, o foco pode ser orçamento pessoal, metas financeiras, juros e noções do sistema bancário, segundo Márcia Firmino.“Também é o momento ideal para discutir o consumo consciente e a influência da publicidade”, diz.No Ensino Médio, geralmente dos 15 aos 17 anos, Márcia Firmino sugere aprofundar conteúdos como crédito, endividamento, investimentos, impostos e empreendedorismo. “É importante conectar os temas à realidade dos jovens, abordando assuntos como planos de carreira, independência financeira e projetos de vida”.Por que a falta de educação financeira prejudica jovens ao sair do ensino médioPara o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Naércio Aquino Menezes Filho, a ausência de educação financeira compromete a formação dos jovens.“Os alunos acabam tendo muita dificuldade, quando concluem o ensino médio, para entender e aplicar os conceitos de educação financeira no seu dia a dia”, avalia o professor.Segundo ele, a dificuldade do brasileiro em pagar contas, calcular juros ou investir é reflexo direto da falta de preparo nas escolas. “Seria interessante adicionar, dentro das disciplinas existentes, como matemática e geografia econômica, os conceitos financeiros básicos”, propõe.Entre os conteúdos que deveriam ser priorizados, Menezes Filho cita o cálculo de juros simples e compostos, além de exemplos de aplicações acessíveis à população. Mas ele alerta: “Só incluir esses estudos no currículo não garante que eles cheguem efetivamente aos alunos. A ausência de gestão pública, a falta de professores qualificados e o desinteresse estudantil ainda fazem parte da realidade da educação pública no Brasil.”Sob a supervisão do editor Fábio Bittencourt

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