Fortalecimento da Rede Amazônia Negra: Diálogos, Desafios e a Visão para a COP30

O segundo dia do encontro da Rede Amazônia Negra (REAN) reuniu representantes do movimento negro no miniauditório da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), marcando um momento de importantes depoimentos e articulações.

Arlete Anchieta, do Fórum Permanente de Afrodescendentes do Amazonas (FOPAAM), destacou o papel de Mestre Cristiano na coordenação da REAN e a importância do encontro para analisar, discutir e unir as vozes negras da Amazônia. Ela ressaltou a atuação do FOPAAM em diversas frentes, como o Comitê de Equidade dos Funcionários da Saúde e os conselhos de segurança e de promoção da igualdade racial. “Esta é uma luta antirracista, uma luta que envolve negros e brancos”, afirmou, conclamando à união por uma sociedade mais justa.

Mestre Cristiano Correia do Santos expressou sua satisfação em realizar o primeiro encontro da REAN no Amazonas, com a participação de representantes de diversos estados. Ele enfatizou o objetivo de fortalecer as políticas públicas voltadas à população negra na Amazônia, com impactos positivos na saúde, educação, segurança e igualdade racial.

Letícia Alves de Oliveira, Gerente da Promoção da Igualdade Racial e Respeito à Diversidade Religiosa, representou a pasta no fórum, destacando o trabalho de articulação com os movimentos sociais de negritude para fortalecer as políticas de ações afirmativas no Amazonas. Ela apontou como principal desafio garantir que as políticas de igualdade racial sejam prioridade no governo e na sociedade, enfrentando a falta de estrutura, orçamento limitado e o racismo institucional.

Rose Maria Alves, do Movimento de Mulheres Negras do Amazonas, psicóloga e doutoranda da UFAM, compartilhou a ligação de sua formação com os movimentos sociais e seu trabalho com mulheres, crianças e adolescentes. Ela ressaltou a importância da “Marcha das Mulheres Negras do Amazonas” e o processo de formação política da REAN para dar visibilidade às populações do vasto e diverso território amazônico. “Dentro da saúde a gente racializa, a gente dá essa visibilidade a raça, a cor, e se percebe que dentro desse processo as mulheres negras infelizmente, são as que mais sofrem”, alertou.

Em transmissão ao vivo, Gilberto Leal, liderança do movimento negro nacional, abordou a diáspora africana no Brasil e a importância do africanismo como movimento de resistência. Ele destacou a necessidade da participação da juventude e de um posicionamento ideológico de esquerda contra o avanço da direita. Francisco das Chagas Silva enfatizou a convergência da diáspora no fortalecimento e diversidade dos movimentos e a necessidade de superar o “custo amazônico” para a mobilização através da comunicação e integração.

O terceiro e último dia do evento ocorreu no município de Presidente Figueiredo, com foco nos desafios e perspectivas da REAN na região amazônica, especialmente em relação à pauta ambiental e à COP30.

Gláucio da Gama Fernandes, presidente do Conselho Estadual de Promoção de Igualdade Racial (CEPIR-AM), falou sobre a importância de sensibilizar os municípios para a criação de conselhos e departamentos de igualdade racial, com a adesão ao SINAPIR. Ele também mencionou a atuação do CEPIR-AM em diversos fóruns e a situação da anemia falciforme no Amazonas.

Carmen Rocha, moradora de Presidente Figueiredo, relatou o início do movimento com a União para a Igualdade Racial, abrangendo comunidades indígenas, negras e LGBTQIAP+, e seu engajamento com a REAN para amplificar as demandas dessas comunidades.

Paulo Axé encerrou o encontro reforçando o objetivo de fortalecer a região através da formação e união da militância negra, considerando as particularidades da Amazônia em relação a políticas de educação, saúde e, principalmente, meio ambiente. Ele destacou que a importância da pauta ambiental para a REAN antecede a COP30, estando ligada à ancestralidade e à religiosidade. “…sem natureza não tem orixá, não tem religiosidade e não tem a magia, a magia criativa e transformadora, que é a nossa luta…”, afirmou.

Paulo Axé apontou os grandes desafios geográficos da Amazônia como um obstáculo para a articulação, com altos custos de deslocamento e a falta de transporte rápido. Ele propôs o uso da tecnologia e o fortalecimento de coletivos com CNPJ para a captação de recursos como formas de superar esses desafios.

Ao final, Paulo Axé ressaltou a responsabilidade do Brasil como o segundo país com a maior população negra fora da África, defendendo a coesão e a coligação com o continente africano, reconhecendo as particularidades da identidade negra brasileira. Ele concluiu abordando o desafio do movimento negro indígena em relação ao não cumprimento da lei pelo poder público, reforçando o papel dos movimentos sociais em tensionar, dialogar e fiscalizar.

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