Cresce a demanda por cuidadores de idosos no Brasil

Cada vez mais essenciais nos lares brasileiros, os cuidadores de idosos têm observado a demanda por seus serviços crescer na última década. O motivo? O envelhecimento da população brasileira. De acordo com o IBGE, o número de pessoas com 60 anos ou mais na Bahia foi de 1,5 milhão (2014) para 2,3 milhões (2024). Hoje, famílias de todo o país enfrentam o desafio de garantir assistência qualificada para seus entes queridos e encontram nos cuidadores a ajuda que precisam – social, física e mentalmente.“Ser cuidadora é ser um depósito de amor, carinho, cuidado e respeito pelo idoso e sua história. O idoso não precisa somente de cuidados fisiológicos, por exemplo, ele precisa ser ouvido. Precisamos ser bons ouvintes e mesmo que a história que ele te conte seja a mesma todos os dias, devemos sentar e prestar atenção, ouvir com paciência e atenção como se fosse a primeira vez”, afirma a técnica em enfermagem e cuidadora de idosos Irá Souza dos Santos, de 35 anos, que atualmente atende três idosos.A formação na área de enfermagem é altamente recomendada para quem deseja atuar como cuidador de idosos, mas investir em capacitação contínua faz toda a diferença na qualidade do atendimento. Irá, por exemplo, aprimorou seus conhecimentos ao realizar um curso focado no cuidado ao idoso, onde aprofundou temas essenciais como as comorbidades mais frequentes na terceira idade e os sinais de agravamento. Para a cuidadora Joyce de Jesus Sena, de 28 anos, que integra a equipe da empresa Ser Cuidado, essa preparação constante é fundamental.“A busca constante por conhecimento somado à prática diária da profissão é um elemento essencial para o aperfeiçoamento e comodidade do paciente”, explica Joyce, que é cuidadora há cerca de sete anos e afirma: o aumento da busca por este tipo de profissional vai muito além do envelhecimento da sociedade.“Tem muita relação também com as demandas do dia a dia de cada família, a disponibilidade de tempo e com a inexperiência diante de cada quadro clínico e fragilidade do paciente”, explica. E essa capacitação ampla é essencial pois o que é demandado no cuidado desses idosos é muito plural.“O idoso do século XXl é uma miscelânea de perfis”, aponta a docente de enfermagem e coordenadora de graduação UniFBV Wyden, Andréa Tavares.“Tem aqueles que estão acamados, que são dependentes nos mais variados níveis de complexidade, como também os autônomos, mas que, por sua faixa etária, é sugerida a supervisão de suas atividades. O risco de queda torna-se hoje o grande vilão e talvez, a principal causa da necessidade da figura do cuidador. Apesar do aumento de doenças ligadas à perda cognitiva, muitos idosos têm as suas funções preservadas, mas a mobilidade reduzida pode vir a ser um fator complicador”, explica a docente, que é franqueada do Cuidare Paiva/Cuidado com Pessoas.Empatia e humanidadeUm bom cuidador, antes de tudo, afirma a advogada especialista em direito de família e sucessões, Maria Clara de Magalhães Guimarães Rigaud, precisa ser uma pessoa humana e empática – e isso ela conseguiu de sobra: sua mãe, Maria Lucia Magalhães Guimarães, de 77 anos, tem duas incríveis cuidadoras. Diagnosticada com vasculite aos 44 anos, Maria Lucia precisou amputar bilateralmente as duas pernas e perdeu neurônios responsáveis pela condução do sono e memória recente. Nos primeiros 20 anos ela realizava suas atividades de forma independente com auxílio de próteses, mas o quadro se agravou nos últimos 10 anos, tornando impossível que ela ficasse sozinha.Assim, as cuidadoras entraram em cena, Mara em 2016 e Mercês em 2019. “Sem elas seria simplesmente impossível que eu trabalhasse, viajasse ou mesmo praticasse atividade física. Hoje elas realmente fazem parte da família, vibramos com suas conquistas e elas demonstram um carinho e cuidado imensos com minha mãe. Mara, por exemplo, sempre que encontra jenipapo na feira, compra especialmente para ela e Mercês, em cada evento da sua família, separa docinhos pensando na minha mãe. Tivemos realmente muita sorte”, afirma muito agradecida Maria Clara Guimarães Rigaud.Essa segurança e cuidado que Maria Clara e sua mãe encontraram em Mara e Mercês é o que a consultora de vendas Rita Ribeiro espera encontrar, no futuro, para a sua mãe, a aposentada Altanira Abreu Ribeiro, atualmente com 89 amos, uma senhora ativa e com uma lista de atividades que ama fazer durante o dia, como crochê. Ela não possui cuidadora no momento, mas a família contratou uma pessoa que vai no lar da matriarca – que mora algumas casas depois da filha Rita, sua caçula – em dias intercalados para faxinar e deixar o almoço da semana pronto.Mas isso, claro, não mantém a Altanira longe da cozinha. Vira e mexe ela está lá preparando uma salada colorida ou suco fresco.“Eu e meus irmãos entendemos que em algum momento ela vai precisar de alguém ajudando em outras tarefas e no acompanhamento básico de sua saúde, então nossa preocupação é achar uma profissional que funcione para ela, que é uma idosa ativa e com autonomia, mas que precisa de companhia e alguém que monitore sua saúde, como a pressão e a glicose. Testamos algumas (pessoas) por um tempo, mas ficou claro que uma empregada alguns dias da semana é o suficiente, ao menos por enquanto”, explica Rita RibeiroVocação“Para mim o que faz uma pessoa ser uma boa cuidadora é ter vocação para o trabalho que desempenha. Ou seja, gostar de cuidar”, afirma Valdirene Souza Silva, filha da aposentada Hilda Nunes de Souza, de 68 anos. Sem poder andar, fazendo uso de medicamentos contínuos para não ter crises convulsivas e precisando de cuidados 24 horas por dia -, a família passou um bom tempo cuidando da matriarca.“Mas a verdade é que antes de termos cuidadoras, a gente ficava muito limitado e às vezes nem conseguíamos dar a atenção que ela realmente necessitava. Por isso é de grande importância que os cuidadores façam cursos, até mesmo para saber como agir em caso de emergência”, explica Valdirene.Há mais de sete anos à frente da Cuidare Barra (empresa especializada em cuidar de pessoas), o administrador e empresário Antônio Carlos Moreira de Almeida lembra que “o envelhecimento é um processo natural e, em dado momento, essa debilidade e redução de autonomia vai surgir”. E com a população cada vez mais longeva – a atual expectativa de vida dos brasileiros ultrapassa os 76 anos (IBGE) – essa mão de obra tem sido cada vez mais necessária.“E não só para os idosos. O público mais jovem, entre 40 e 45 anos, com depressão crônica e outros diagnósticos neurológicos, tem crescido na busca por cuidadores”, explica.É inegável o grande papel que os cuidadores de idosos exercem nos lares brasileiros na atualidade, mas a docente de enfermagem Andréa Tavares chama atenção para o fato dos cuidadores não poderem se tornar o mundo dos idosos. “Conhecer pessoas, ‘pertencer’, adquirir novos hábitos, aprender ‘coisas novas’, como hobby e idiomas, ativam e formam novas conexões neuronais, preditoras de melhores níveis cognitivos e de neurotransmissores, como os hormônios do sono e da felicidade. É imperativo lembrar que cuidadores não substituem familiares e a necessidade de socialização do idoso, por mais autônomos que estes o sejam”, aconselha.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.