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As algas marinhas, frequentemente vistas como incômodo por banhistas quando se acumulam em excesso na faixa de areia das praias, têm ganhado novo protagonismo no litoral capixaba: tornaram-se objeto de pesquisa e fonte de renda para empreendedores ligados à chamada “economia do mar”.Com propriedades nutricionais valiosas, essas espécies vêm sendo utilizadas em diversas aplicações, como alimentação animal, formulação de medicamentos e produção de fertilizantes para o cultivo agrícola.Um exemplo de sucesso é a startup Algasbio, criada no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Piúma, no litoral Sul. A empresa conseguiu transformar algas marinhas em adubo e hoje comercializa uma linha de produtos que utilizam esses organismos como matéria-prima.Os fertilizantes custam, em média, R$ 47 e são vendidos por meio do site e das redes sociais da empresa, em diferentes tamanhos. Segundo o engenheiro de pesca e CEO da startup, Igor Fontes, culturas como soja, milho, café, tomate e hortaliças podem se beneficiar dos produtos. “Produtores que adotaram bioestimulantes à base de macroalgas relatam aumento de produtividade de 10% a 30%, dependendo da cultura e do manejo.”A eficácia das algas se deve, em grande parte, à sua composição mineral. Segundo o professor Agnaldo Martins, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), esses organismos possuem alta concentração de sais minerais, absorvidos do ambiente marinho.“Todos os elementos químicos que existem na crosta terrestre estão presentes no mar. De ‘A’ a ‘Z’ na tabela periódica. A água se torna um coquetel de tudo e fonte de todos os nutrientes minerais essenciais, absorvidos mais facilmente pelas algas.”Essa riqueza nutricional faz das algas uma alternativa promissora não só para a agricultura, mas também para a alimentação humana e animal. Exemplo é a empresa Alinutri Nutrição Animal, de Viana, que utiliza algas na fabricação de rações para cães e gatos.Dois tipos são usados: a alga “lithothamnium calcareum”, calcária e que se desenvolve nas profundezas frias do oceano; e a “schizochytrium sp.”, microalga rica em ômega 3, diz o doutor em Nutrição Animal e gerente técnico da Alinutri, Douglas Haese.Até remédio para HIV e Alzheimer
Laurencia dendroidea: medicinal
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Medicamentos fabricados a partir de algas marinhas têm mostrado grande potencial como aliados no combate a doenças graves, como Alzheimer, leucemia, HIV e esquistossomose.No Instituto Butantan, em São Paulo, três compostos presentes em algas marinhas vermelhas da espécie “Laurencia dendroidea” foram estudados e demonstraram ser aliados no tratamento da esquistossomose, doença provocada por um parasita e contraída a partir de água contaminada.“Elatol, rogiolol e obtusol demonstraram atividade significativa contra causador da doença, inibindo completamente a sua reprodução e a liberação dos ovos”, diz uma publicação de 2022.A utilização delas no tratamento do Alzheimer e do HIV foi estudada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).Uma pesquisa conduzida pela bióloga Talissa Harb, do Instituto de Biociências (IB) da USP, chegou a investigar as propriedades químicas e bioativas de extratos naturais de 15 amostras de algas, coletadas nos estados do Espírito Santo, Ceará e Paraíba, identificando substâncias presentes nos extratos das macroalgas que podem inibir a transcriptase reversa, enzima encontrada no vírus causador da Aids.Saiba maisBiodiversidade420 espécies: é a quantidade aproximada de diversidade de macroalgas abrigadas no litoral do estado do Espírito Santo, sendo a grande maioria de algas vermelhas (Rhodophyta).No litoral capixaba, é comum observar as algas na areia da praia, em um fenômeno natural chamado de “arribadas de algas”. Nele, as algas se destacam do substrato e são levadas pelas ondas até as praias, onde passam a ser um recurso disponível para a retirada e fabricação de produtos.Atualmente, o principal produto fabricado a partir de algas arribadas no Estado é o biofertilizante, que pode ser utilizado na adubação agrícola e também de plantas ornamentais, segundo o diretor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão do Ifes Campus Piúma, André Batista de Souza.EconomiaAs macroalgas arribadas são um recurso biológico disponível e pode trazer ganhos econômicos consideráveis na formulação de produtos, ainda mais por ser um recurso biodegradável em um momento que há escassez de recursos naturais.Elas se tornam um problema para as prefeituras quando permanecem na praia, pois impactam diretamente o turismo, tornando fácil sua aquisição, sendo necessário apenas o gasto com sua retirada da praia.A utilização das algas arribadas a partir de uma colheita gerenciada não traz grandes impactos para o meio ambiente, explica o professor.Cuidados ambientaisPorém, sua utilização consciente deve ser considerada, a fim de garantir sua sustentabilidade e dos ecossistemas que dependem delas.A colheita excessiva pode impactar os ecossistemas costeiros, uma vez que as algas dispersam seus propágulos para reprodução ao se desprenderem de seus substratos e também por remover areia junto com sua coleta e acelerar processos erosivos.Assim, não é recomendado retirar todo o conteúdo de macroalgas arribadas da praia, deixando pelo menos 30% delas no local.