
Na metrópole, soros antiveneno são encontrados na UPA Vila Cristina e a Santa Casa. Dependendo do bairro onde o paciente mora, percurso até elas pode chegar a 30 minutos. Piracicaba foi a cidade com maior número de acidentes com animais peçonhentos em 2024 no estado de SP
Comunicação Butantan
Classificada como a cidade com o maior número de acidentes com animais peçonhentos no estado de SP em 2024, Piracicaba (SP) possui duas unidades de saúde que fazem distribuição dos soros antiveneno.
Eles estão disponíveis na Hospital Santa Casa – Avenida Independência, 953, Alto – e an Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Vila Cristina – Rua Dona Anésia, 950, Jaraguá.
📲 Participe do canal do WhatsApp do g1 Piracicaba
Para entender como é feita a seleção dos pontos de distribuição do antiveneno, o g1 procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba. A pasta esclareceu que a escolha dos locais que ofertam o soro é feita pelo governo estadual.
Em resposta, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) disse que acompanha constantemente os acidentes causados por animais peçonhentos por meio do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), e que a distribuição é feita de forma estratégica.
“Os soros para tratamento das vítimas das picadas são disponibilizados em estabelecimentos de saúde estrategicamente distribuídos para que toda a população receba o atendimento adequado no prazo de 1 hora e 30 minutos após o acidente”, informou a pasta.
Atendimento de urgência 🚨
Prédio da UPA Vila Cristina, em Piracicaba
Isabela Borghese/ Prefeitura de Piracicaba
No painel de monitoramento de acidentes por animais peçonhentos, lançado pela SES nesta quinta-feira (15), a recomendação é que o atendimento em casos de picadas, em especial de crianças de até 10 anos, seja realizado o mais rápido possível.
Com área total de 1.378 km², Piracicaba conta com quatro UPAs, que realizam atendimento de urgência 24 horas, sendo a unidade Vila Cristina a única com fornecimento de soro antiveneno. A Santa Casa é o segundo local onde é possível encontrar a substância.
Os dois pontos, no entanto, fornecem tipos diferentes de soros, manipulados de acordo com o animal envolvido no incidente. Confira abaixo:
UPA Vila Cristina – escorpiônico (escorpião)
Santa Casa de Piracicaba – brotrópico (jararaca), crotálico (cascavél), elapídico (coral), escorpiônico (aranha marrom), aracnídico (aranha armadeira) e lonômico (taturana)
Considerando a extensão da cidade e a distribuição dos tipos de soros em cada local, os distritos da cidade, em geral, estão localizados a uma distância maior das unidades.
O distrito de Santana, por exemplo, está a 19 km da Santa Casa, e 18 km da UPA Vila Cristina. São, em média, ao menos 30 minutos de viagem – usando o carro como meio de transporte.
Dificuldade no controle
Em nota, a prefeitura da cidade explicou sobre o trabalho realizado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e relatou a dificuldade em controlar e exterminar alguns dos animais.
Segundo o centro, os aracnídeos são muito resistentes aos produtos químicos, mas a situação fica ainda mais difícil com os escorpiões, devido a um mecanismo que os permite captar moléculas no ambiente.
O uso de inseticida contra os escorpiões não consegue fazer controle da reprodução e acaba fazendo com que eles deixem seus abrigos e procurem por outros, favorecendo o aumento na ocorrências dos acidentes com pessoas e outros animais.
Um dos métodos para controles destes animais, segundo o CCZ, é o controle de baratas em bueiros da cidade, pois são a principal fonte de alimento no ambiente urbano.
“O CCZ realiza semanalmente a captura de escorpiões em cemitérios da cidade para controle populacional e mitigar a ocorrência de acidentes. Todos os escorpiões capturados são enviados ao Instituto Butantan-SP para coleta de veneno e posterior produção de soro antiescopiônico”, explicou a prefeitura.
Maior número de casos em SP
O ranking estadual de acidentes com animais peçonhentos, lançado na quinta-feira pelo SES, informa que Piracicaba registrou o maior número de casos em 2024, com 1.834 incidentes. Aparecem na sequência Ribeirão Preto, com 1.579 casos, e Campinas, com 1.326.
A maioria das ocorrências foi com escorpiões e envolvendo pessoas entre 20 e 39 anos.
Ao longo dos últimos dez anos, Piracicaba já ultrapassou a marca de 2 mil notificações por quatro vezes. Uma delas, foi em 2023. Neste ano, já foram 615 acidentes. Veja no quadro:
Maioria dos casos com escorpiões
De acordo com a Vigilância Epidemiológica Municipal, em 2024, foram 1.240 acidentes com escorpiões.
Desde 2007 foram 26,9 mil notificações. Destas, 17,2 mil envolveram picadas de escorpião, o que representa 64% do total.
O que fazer em caso de acidente com escorpião em Piracicaba? Saiba onde buscar atendimento
Piracicaba é naturalmente endêmica para ocorrência natural de escorpiões, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Segundo a pasta, isso ocorre por conta da geografia, das condições hidrográficas, geológicas, climáticas e ambientais.
“Os escorpiões se adaptaram a utilizar a rede de esgoto como ambiente ideal para viver. Ali há fartura de alimento [baratas e outras pragas], condições ideais de umidade e temperatura e onde não há predadores para eles”, explica a bióloga responsável pelo setor de sinantrópicos do Centro de Controles de Zoonoses (CCZ), Regina Lex Engel.
“Assim, vivem perfeitamente nesses locais, onde se abrigam, se reproduzem, se locomovem, e por onde têm acesso ao interior dos imóveis através dos ralos e sistemas de esgoto da cidade”, completa Regina.
Segundo análise da Secretaria de Estado da Saúde, o crescimento das cidades e as mudanças climáticas influenciam no cenário.
Faixa etária e sexo
Já em relação à faixa etária, a maioria das notificações é relacionada a pessoas entre 20 e 39 anos.
Em todas as faixas etárias, a maioria das vítimas são homens. Confira abaixo:
Caso Jamily
Das 26,9 mil notificações registradas na cidade desde 2007, em nove as vítimas não resistiram e morreram. Entre elas, está Jamily Vitória Duarte, de 5 anos, que morreu em agosto de 2023, após picada de escorpião. A família afirma que houve falha no atendimento à garota e o caso é investigado pela Polícia Civil e Ministério Público.
LEIA MAIS:
Prefeitura de Piracicaba diz que UPA tinha soro antiescorpiônico, mas desidratação dificultou aplicação em criança
Médica que atendeu Jamily diz a CPI que não sabia que havia soro em UPA
Enfermeira afirma que não teve treinamento para atuar em UPA
VÍDEO: mãe de vítima relata problemas em atendimento
CPI aponta supostas fraudes em prontuário e sequência de erros
Patrícia das Graças Adriana Duarte, mãe de Jamily, contou que após a filha sofrer a picada correu até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vila Cristina, e só depois de mais de uma hora recebeu a informação de que não havia o soro antiescorpiônico na unidade.
A menina foi transferida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até a Santa Casa, onde recebeu a medicação, mas o quadro já tinha se agravado e ela não resistiu.
Menina de 5 anos morre após ser picada por escorpião em Piracicaba
Dois dias após a morte de Jamily, a Prefeitura de Piracicaba afirmou que a UPA tinha soro antiescorpiônico, mas que não foi aplicado na menina porque ela estava desidratada, o que dificultava o acesso.
“Como a Santa Casa tem uma estrutura de referência, [e as equipes] optaram por bem levá-la diretamente à UTI”, explicou o então secretário de Saúde, Douglas Yugi Koga.
Já a Associação Mahatma Gandhi, que administra a UPA, informou na ocasião que também abriu uma apuração sobre o caso assim que teve conhecimento sobre ele.
Jamily Vitória Duarte, de 5 anos, morreu após ser picada por escorpião em Piracicaba
Arquivo pessoal
VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e região
Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba