História do xamã amapaense inaugura o triênio do centenário da escola e marca abordagem inédita aos costumes afro-indígenas na Sapucaí
RIO DE JANEIRO – A Estação Primeira de Mangueira anunciou, na última sexta-feira (16), o enredo que levará para a Marquês de Sapucaí no Carnaval 2026: “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”. A proposta celebra a vida e os saberes de Mestre Sacaca, figura emblemática do Amapá, e representa um marco inédito na história da agremiação ao abordar diretamente os costumes afro-indígenas.
Assinado pelo carnavalesco Sidnei França, o enredo mergulha na ancestralidade e nas tradições do extremo Norte do Brasil, ao mesmo tempo que dá início ao triênio comemorativo do centenário da escola, que será celebrado em 2028.
A história de Mestre Sacaca
Raimundo dos Santos Souza, mais conhecido como Mestre Sacaca, nasceu no Amapá. De origem negra e indígena, o homenageado ficou conhecido por seus profundos conhecimentos sobre as ervas, raízes, seivas e elementos naturais da região amazônica. Conhecido como “doutor da floresta” em diferentes cidades das terras Tucujus, ele usava sua sabedoria ancestral para curar doenças e cuidar da comunidade por meio de garrafadas, unguentos, chás e simpatias, práticas que também difundia em livros e programas de rádio locais.
Sacaca também foi marabaixeiro (alguém que pratica ou participa do marabaixo, uma manifestação cultural afro-amapaense que combina música, dança e ritual). Participou ativamente da maior manifestação cultural desse estado, e integrou-se ativamente ao carnaval do Amapá, outro importante festejo da região. Foi Rei Momo por mais de 20 anos, além de fundar blocos e escolas de samba do estado. Tornou-se um defensor e estimulador dos tambores da Amazônia Negra.
Nascido em 1926, o Xamã Babalaô – como foi chamado em uma canção póstuma composta por Ricardo Iraguany e Enrico Di Miceli – ainda é presente na memória do povo amapaense. Sua família segue perpetuando seus saberes, conhecimentos e vivências.
Sacaca, cujo nascimento se aproxima do centenário, dedicou sua vida à defesa da floresta e das tradições, práticas e culturas afro-indígenas. Por essa razão, a Mangueira, contadora de diferentes histórias brasileiras, celebra essa figura que é uma das caras do nosso país diverso e de dimensões continentais.
“Estamos falando de algo inédito na historiografia da Mangueira: tratar de costumes afro-indígenas. Mesmo no Brasil, muitas vezes ainda predomina uma visão monolítica sobre a Amazônia, com muitas narrativas e personagens ainda inexplorados ou sem ter a devida atenção”, avalia Sidnei França, carnavalesco da Mangueira. “Com sua vocação de contar ‘outras histórias’, a Mangueira vai apresentar Mestre Sacaca, um legítimo representante dessa floresta afro-indígena”, conclui.
O centenário verde e rosa
Com este enredo, a Estação Primeira de Mangueira inicia a trilogia que culminará na celebração de seus 100 anos, em 2028. Fundada em 1928 por ícones como Cartola, Carlos Cachaça e Zé Espinguela, a escola é uma das mais tradicionais do país. Detentora de 20 títulos do carnaval carioca, a Mangueira é símbolo de resistência, cultura e memória, marcada pelas cores verde e rosa e pela sua capacidade de dar voz às muitas histórias brasileiras.
A presidente da agremiação, Guanayra Firmino, é a primeira mulher eleita para o cargo em toda a história da escola. A quadra da Mangueira está localizada no bairro que lhe dá nome, no Rio de Janeiro.
O vídeo de divulgação do enredo está disponível nas redes sociais da escola, e a logo oficial será publicada em breve no site oficial: https://mangueira.com.br
O post Mangueira anuncia enredo de 2026 com homenagem a Mestre Sacaca e à Amazônia Negra apareceu primeiro em ANF – Agência de Notícias das Favelas.