Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, apontado como a principal liderança do PCC nas ruas, foi preso ontem na Bolívia. Ele foi identificado quando tentava renovar um documento falso.
Tuta fugiu do Brasil em 2020 após vazar a informação de que era alvo do Ministério Público. Ele era o principal investigado da Operação Sharks, que tentava desarticular um esquema de lavagem de dinheiro do PCC. Naquele momento, Tuta já era considerado o número 1 do PCC em liberdade.
O PCC tentou plantar informação falsa de que ele foi morto pelo tribunal do crime. Em 2021, o Ministério Público de São Paulo chegou a anunciar que Tuta foi excluído e morto pelo tribunal do crime da facção após ordenar a morte de Nadim Georges Hanna Awad Neto e Gilberto Flares Lopes Pontes, o Tobé, tesoureiro do PCC, sem aprovação formal da cúpula da facção. Porém, depois a promotoria descobriu que se tratava de uma contrainformação por parte da facção para despistar as autoridades.
Tuta estava foragido desde 2024. Foi quando a Justiça de São Paulo o condenou a mais de 12 anos por associação criminosa e lavagem de mais de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019.
Tuta planejou atentado contra autoridades, diz MP
Ele era responsável pelo levantamento de endereços de autoridades e de policiais alvos de possíveis atentados, indicam investigações. Em setembro de 2020, o nome de Tuta foi envolvido em uma carta de três páginas que denunciava possíveis atentados contra um juiz de Rondônia e funcionários do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) em protesto contra a falta de visitas em presídios federais.
Tuta também participou de planos para resgatar lideranças do PCC de presídios federais, diz outra denúncia recebida pelo MP. As informações foram investigadas pelas forças de segurança de São Paulo e o autor, com medo de sofrer represálias do crime organizado, foi colocado no programa de proteção à testemunha.
Ele tinha respaldo dos líderes do PCC presos. Tuta também tinha carta branca da alta cúpula para gerenciar os negócios da facção, principalmente o tráfico internacional de drogas.
Contratado para cargo de R$ 10 mil em Consulado
Tuta foi adido comercial no Consulado de Moçambique em Minas Gerais entre 2018 e 2019, mesmo procurado pela polícia paulista. Ele recebia um salário de R$ 10 mil mensais, informou o ex-cônsul-honorário da República de Moçambique em Minas Gerais, Deusdete Januário Gonçalves, à Justiça de São Paulo.
Ele foi apresentado por ministros-conselheiros da Embaixada de Moçambique no Brasil. Segundo Deusdete, Tuta preenchia todos os requisitos necessários para o cargo e foi contratado com carteira assinada.
A missão de Tuta era indicar ao consulado, a cada dois meses, uma empresa disposta a investir em Moçambique. Para cada contrato, o adido comercial podia receber do governo moçambicano 15% do valor investido pela companhia no país africano. De acordo com Deusdete, o então líder do PCC indicou uma empresa de bateria e outra de lixo, que passaram por uma checagem de idoneidade.
Ex-cônsul diz que Tuta não ostentava riqueza e que chegou para uma reunião em um carro velho. Mas promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) apuraram que ele só viajava de jatinho e ostentava uma vida de luxo quando era adido comercial. Em um dos telefones celulares apreendidos no endereço de Tuta havia fotografias dele em uma aeronave.
Tuta foi desligado após Deusdete ser chamado como testemunha de defesa em um processo sobre lavagem de dinheiro. Deusdete diz que se sentiu desconfortável, chamou a atenção do adido comercial de forma dura e o desligou do consulado.