Favela do Moinho resiste à remoção e denuncia violações no centro de São Paulo

A Favela do Moinho, uma das últimas comunidades remanescentes no centro de São Paulo, vive mais um capítulo da sua longa trajetória de resistência. Localizada próxima à região da cracolândia, a comunidade com cerca de 30 anos de história enfrenta um processo de remoção promovido pelo Governo do Estado, que pretende transformar a área em um parque e construir a nova sede administrativa da gestão paulista.

A ação faz parte de um amplo processo de revalorização imobiliária do centro da capital, impulsionado por políticas de gentrificação que têm como consequência direta a expulsão de famílias de baixa renda para regiões cada vez mais distantes. Segundo o governo, cerca de 90% dos moradores deixaram o local “de forma voluntária”. Mas lideranças comunitárias denunciam que esse discurso ignora o desequilíbrio nas negociações, marcadas por pressão econômica, jurídica e até policial.

“Não houve acordo justo. Muitos moradores aceitaram sair por medo, sem garantias e sob forte insegurança”, relata um dos representantes da comunidade, que preferiu não se identificar.

Ao longo dos últimos meses, o governo do estado passou a tratar a Favela do Moinho como um problema de segurança pública. A presença policial se intensificou e os moradores passaram a ser retratados como ameaça à ordem. A narrativa oficial tentou deslegitimar a resistência dos que permaneceram, majoritariamente famílias que construíram suas casas em alvenaria, acusadas de “favorecimento” ou “privilégio”.

A remoção da Favela do Moinho também escancara a falta de articulação entre os diferentes níveis de governo. A morosidade na condução do caso agravou os conflitos, deixando a comunidade vulnerável. O que se viu foi uma escalada de tensão, com relatos de prisões, feridos e traumas. Uma situação que remete a uma história estrutural do Brasil: a negação sistemática do direito à moradia digna.

O caso chama atenção para o papel do Estado na perpetuação da injustiça urbana. Em vez de garantir permanência com infraestrutura, serviços públicos e regularização fundiária, o poder público opta pelo despejo – abrindo caminho para novos empreendimentos voltados à elite.

“É como se a cidade tivesse donos. Os pobres constroem, resistem, criam redes, mas são sempre os primeiros a serem retirados quando o espaço passa a ter valor de mercado”, critica outro morador.

Somente após ampla repercussão pública e imagens de confrontos circulando nas redes sociais, o governo recuou parcialmente e passou a negociar com os moradores remanescentes. O acordo firmado prevê o pagamento de aluguel social no valor de R$ 1.200 e a oferta de subsídios estaduais e federais para a compra de moradia, totalizando R$ 250 mil por família.

Apesar disso, a comunidade questiona:
Quem será responsabilizado pelas violações cometidas durante as operações?
Por que o direito à permanência nunca é prioridade para quem mora nas favelas?

A luta da Favela do Moinho expõe uma cidade profundamente desigual. Um território construído pela força do trabalho de quem nunca teve acesso pleno aos direitos mais básicos – e que, mesmo assim, é sistematicamente empurrado para fora do mapa.

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