Na tarde desta quinta-feira, 15 de maio, o plenário da Câmara Municipal de Natal ficou lotado de afeto, resistência e reivindicações. Mães atípicas da capital potiguar tomaram a Casa do Povo para dizer, com todas as letras, o que querem da cidade para garantir dignidade a seus filhos com deficiência.
A audiência pública inédita, proposta pela vereadora Thabatta Pimenta (PSOL), reuniu mães, autoridades, ativistas e representantes de instituições públicas e coletivos em um momento histórico de escuta ativa.
Com o tema “O que as mães atípicas querem para Natal”, a audiência deu protagonismo a quem há anos cumpre sozinha uma missão que deveria ser de todos. Ecoaram no plenário da CMN relatos sobre a falta de apoio nos serviços de saúde e de educação e de descumprimento de direitos básicos por planos de saúde. O encontro serviu como plataforma para transformar vivências em proposições concretas de políticas públicas inclusivas.
“A gente só quer o básico”, resumiu a vereadora Thabatta Pimenta, mãe atípica e propositora da audiência. Em sua fala, destacou que foi justamente essa luta por justiça e por respeito aos direitos do filho com deficiência que a trouxe ao Parlamento Municipal. “Queremos que nossos filhos vivam com dignidade. Essa audiência foi um espaço para escutar, reivindicar e propor”, declarou.
A vereadora aproveitou para anunciar duas proposições aprovadas na sessão ordinária desta quinta-feira: a criação do Dia Municipal da Mãe Atípica, a ser comemorado anualmente em 15 de maio, e a instituição da Comenda Mãe Atípica Helena Fernandes, “em homenagem à trajetória singular e o inestimável legado de Helena Fernandes de Queiroz Carvalho, uma figura emblemática na luta pela inclusão social da pessoa com deficiência de Natal e do nosso estado. “Desde o nascimento de sua primeira filha em 1982, Helena dedicou sua vida com profunda abnegação e incansável empenho à causa da inclusão”, lembrou.
Durante o debate, Josueni Conceição, mãe da pequena Gabriela, autista de 5 anos, ressaltou o cotidiano de sobrecarga enfrentado por mães atípicas: “A gente quer respeito aos direitos dos nossos filhos. A gente briga com o SUS, com o plano de saúde, com a Secretaria de Educação. A gente está adoecendo enquanto tenta garantir o que já é lei”, desabafou.
Ivan Baron, ativista e embaixador da educação anticapacitista do MEC, reforçou: “Momentos como esse precisam se repetir. É preciso dar ouvidos a quem vive essa realidade todos os dias. A política pública tem que começar escutando a base”.
Representando o promotor Guglielmo Castro, coordenador do COAP/MPRN, a assessora Mariana Azevedo, do afirmou que a instituição tem papel essencial na defesa dos direitos coletivos e que os direitos das mães atípicas e de seus filhos se enquadram nessa responsabilidade. “Estamos aqui para escutar e também para agir. O Ministério Público acolhe denúncias, investiga os casos e cobra soluções. É essencial que essas mães saibam que podem e devem recorrer aos nossos canais quando seus direitos forem violados”, destacou. O MPRN recebe denúncias pelo WhatsApp (84) 99994.6057.
Também participaram do debate a vereadora Brisa Bracchi (PT) e o vereador Eribaldo Medeiros (Rede), apoiando o diálogo e o reconhecimento das demandas das famílias atípicas.
A audiência foi marcada por depoimentos potentes, como o da mãe Leda Ferreira, que administra um grupo com cerca de 500 mães atípicas: “Na prática, a inclusão ainda é pouca. A gente quer inclusão de verdade.”
O coordenador municipal de políticas públicas para pessoas com espectro autista, Helvécio Martins, reforçou: “Ouvir é necessário. A política pública precisa ser construída junto com quem vive a realidade.”
Compuseram ainda a mesa dos trabalhos Bruna Oliveira, presidente do Coletivo de Famílias Atípicas do RN; Cláudia Carvalho de Queiroz, coordenadora do Núcleo de Saúde da Defensoria Pública do RN; e Bruno Henrique Saldanha, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da OAB/RN.
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