Caro leitor,
Imagine encontrar uma cápsula do tempo com 145 anos de idade!
Nossa história começa em 5 de junho de 1880, durante a visita de Dom Pedro II, da Imperatriz e de sua comitiva à Província do Paraná. Em Paranaguá, organizou-se uma recepção solene. Na presença de Suas Majestades e autoridades, realizou-se a cerimônia de bênção da pedra fundamental da estrada de ferro que ligaria Paranaguá a Curitiba. O ato foi conduzido pelo Padre José F. da Silva, com a participação de Dom Pedro II, do Ministro Manuel de Macedo e do Presidente da Câmara, Manoel Ricardo Carneiro.
A pedra fundamental trazia a inscrição:
“Compagnie Générale de Chemins de Fer Brésiliens. No dia 5 de junho de 1880, na augusta presença de Suas Majestades Imperiais e sob a administração do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Conselheiro Manoel Buarque de Macedo, e do Presidente da Província do Paraná, Manoel Pinto de Sousa Dantas Filho, teve início a construção da Estrada de Ferro de Paranaguá a Curitiba.”
Para marcar o momento, Dom Pedro II utilizou uma colher de prata, feita especialmente para a ocasião, gravada com a dedicatória:
“A Companhia Geral de Estradas de Ferro Brasileiras. Sua Majestade inaugurou a Estrada de Ferro do Paraná em 5 de junho de 1880.
Diretor de Trabalho: Comendador Antônio Ferrucci.”
Além da pedra fundamental, foi enterrada uma cápsula de ferro contendo moedas e jornais da época, registrando para a posteridade aquele momento histórico. O local escolhido foi o cruzamento das ruas Independência e Misericórdia com o Largo Duque de Caxias, onde futuramente seria construída a nova estação.
Na ocasião, Dom Pedro II declarou oficialmente iniciadas as obras, autorizadas pelo Decreto nº 5.912, de 1875, e contratadas conforme o Decreto nº 6.995, de 1878, com a Compagnie Générale de Chemins de Fer Brésiliens, seguindo os planos aprovados pelo Decreto nº 6.504, de 1877.
O Presidente da Câmara Municipal, Manuel Ricardo Carneiro, lavrou um auto detalhado sobre o evento, assinado por Suas Majestades e por diversas personalidades ilustres.
Encerrada a cerimônia, que durou cerca de quinze minutos, a multidão aclamou Dom Pedro II e celebrou a ferrovia como um símbolo de progresso para a província.
À noite, Paranaguá resplandecia. Luzes e bandeiras enfeitavam a cidade, enquanto duas bandas de música percorriam as ruas, entoando melodias vibrantes. O povo seguia o cortejo em festa, entusiasmado, proferindo vivas ao Imperador, ao Paraná e à cidade de Paranaguá, em uma celebração que se estendeu até altas horas.
Agora, leitor, convido-o a imaginar: onde está essa cápsula? Nunca foi encontrada. Se algum dia você visitar o local, pare por um instante, olhe ao redor e reflita: será que ela ainda está lá, oculta sob o solo, esperando para ser descoberta?
(199) LEITE, Zemm. O Imperador em Paranaguá. O Itiberê, dezembro de 1925, p. 17.