
“Quando voltei para falar com ela, meu contato já estava bloqueado e eu já tinha levado o golpe”, relata Pedro Tortoriello, vítima de estelionato em Juiz de Fora. O homem fez um anúncio por rede social e começou a conversar com uma pessoa, interessada em um computador. Ao trocarem números de celular, negociaram a venda e, no momento do pagamento, Pedro recebeu e-mails, que seriam comprovantes do acerto. Entretanto, ele não tinha ideia de que eram fraudulentos.
Apesar de não ter ciência do que estava por vir, a vítima ainda se culpou em partes. “Foi um mole meu também, com certeza. Poderia ter verificado pelo aplicativo e não olhei. Deixei para fazer isso no momento em que eu já tinha entregado para o motorista levar o produto para ela”, lamenta. Nesta quarta-feira (14), Pedro descobriu que seu computador foi recuperado. “Sabemos que é difícil recuperar essas coisas. Os responsáveis até são encontrados, mas a parte dos bens é mais complicada. Fiquei muito feliz, pois tenho essa máquina há mais de cinco anos.”
Pedro foi uma das vítimas de uma mulher, de 27 anos, presa em flagrante pelos crimes de organização criminosa, lavagem de capitais e receptação, que também será indiciada por estelionato em série, com base nas provas reunidas. A investigação a aponta como responsável por uma série de fraudes envolvendo a simulação de negociações de produtos eletrônicos, como videogames, notebooks e computadores, por meio de sites e redes sociais.
Até o momento, duas vítimas foram formalmente identificadas, mas a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) acredita que o número seja ainda maior – pelo menos oito a dez. A corporação ainda destaca que há indícios de que os golpes tenham sido aplicados em diversos bairros de Juiz de Fora, cidades da região e até mesmo em outros estados.
A operação Game Over foi deflagrada na manhã desta quarta-feira, com foco na repressão ao crime de estelionato cometido por meio de plataformas digitais de compra e venda de produtos. Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão, os policiais localizaram no apartamento da investigada, no Bairro Santa Terezinha, diversos equipamentos eletrônicos de procedência suspeita, incluindo fones de ouvido, HDs externos, periféricos gamers e computadores. Um dos objetos foi reconhecido como pertencente a uma das vítimas, alvo da suspeita no dia anterior à ação policial. A PCMG estima que os bens apreendidos representem entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.
A Polícia Civil afirma que segue com as investigações, com o objetivo de identificar os proprietários dos itens apreendidos, bem como possíveis receptadores. “Todos os envolvidos serão intimados para prestar esclarecimentos. Caso fique constatado que agiram com dolo ou negligência, poderão responder pelo crime de receptação. Mesmo nos casos em que não houver responsabilização penal, os bens poderão ser restituídos às vítimas legítimas.”

Aplicação do golpe
Conforme o delegado Samuel Neri da Silva, responsável pela investigação, os trabalhos começaram ainda em setembro de 2024. O titular da 7ª Delegacia da Polícia Civil explica que o golpe começava quando a vítima anunciava um determinado bem, normalmente eletrônico, em plataformas digitais. A partir disso, a suspeita entrava em contato com a pessoa, com foto falsa e telefone em nome de terceiros. “O modus operandi dela era negociar com a vítima no ambiente virtual. Quando ajustava o preço do bem, falsificava um e-mail de pagamento e disparava para a vítima, que acreditava estar recebendo, pois supostamente recebia confirmação da venda.”
Na dinâmica, assim que ela enviava o e-mail de comprovação, um motoboy já estaria disponível para retirar o bem na casa da vítima. “Como às vezes há uma demora para verificar no aplicativo, até porque alguns deles possuem um atraso, a pessoa achava que estava tudo normal e deixava o bem ser levado”, esclarece. Para outras pessoas, a suspeita utilizava ambientes de conversa virtual e falsificava comprovante Pix. O delegado também conta que outra vítima, que comprou um dos bens da suspeita de estelionato, foi identificada. Como conseguiu comprovar que não sabia da origem ilícita, não foi presa.
Alguns dos motoentregadores que fizeram parte da ação foram identificados pela PCMG. Entretanto, o delegado Samuel reforça que os trabalhadores eram contratados, sem qualquer vínculo com a investigada. Apesar disso, não descarta que algum deles possa ter relação com o golpe, já que a suspeita se classifica, também, como motoentregadora. “Pela investigação, percebemos que se trata de uma quadrilha organizada com outros envolvidos. A casa da mulher servia não só de moradia, mas como depósito.”
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