ArcelorMittal otimista com projeto bilionário no Espírito Santo

Jorge Oliveira disse que ArcelorMittal tem novos planos de crescimento

|  Foto:
Kadidja Fernandes/AT

Apesar da “invasão” de aço importado no mercado brasileiro, a ArcelorMittal está otimista sobre a confirmação de seus investimentos já anunciados para o Espírito Santo, na unidade Tubarão, e que somam R$ 4 bilhões.A implantação dos projetos das linhas de Laminação de Tiras a Frio (LTF) e galvanização são previstos para começar em 2026, com operação para 2029, cronograma que pode ser revisto por causa do aumento na quantidade de aço estrangeiro — sobretudo da China. Mas o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jorge Oliveira, revelou que está otimista com a renovação, pelo governo federal, da atual medida de defesa comercial, que vence no próximo dia 31. Ele acredita que soluções serão adotadas pelo governo federal para frear a “concorrência desleal”, como o aumento nas tarifas de importação para o aço produzido no país asiático. O diálogo com o governo do Estado e com a União é um dos focos para solucionar problemas urgentes, como as consequências do “tarifaço” promovido pelo presidente dos EUA, Donald Trump.O executivo, acompanhado do diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal, João Bosco Reis da Silva, visitou ontem a Rede Tribuna. Recebido pelo superintendente de Comunicação Alexandre Gabriel, pela diretora comercial Lenise Loureiro, pelo diretor de jornalismo Luciano Rangel e pela diretora da TV Tribuna/Band Janine Jordain, Oliveira conheceu as redações e estúdios de A Tribuna, da TV Tribuna/Band e do portal Tribuna Online, onde, em entrevista ao editor de Economia Rafael Guzzo, gravou o videocast Histórias Empresariais.A Tribuna — O investimento no LTF e na linha de galvanização em Tubarão, com cifras que chegam a R$ 4 bilhões, pode não se tornar realidade? Jorge Oliveira — Se a importação de aço continuar crescendo na velocidade que tem acontecido, será um fator de risco para o investimento, por exemplo, no prazo de implantação. Mas não quero dizer, neste momento, que será impeditivo, porque ainda não temos decisão contrária ao investimento. E o que a empresa espera como solução?Nós estamos em um mês bem crítico, porque a medida (de defesa comercial) vence no dia 31 de maio, e a gente acredita e espera de forma confiante que o governo irá renovar a medida em curso. E estamos discutindo com o governo alternativas à medida porque, mesmo com ela, a importação de aço segue crescendo no Brasil.O senhor poderia explicar o que estabelece essa medida de defesa comercial?Ela é um processo de “cota mais tarifa”. O produto que ultrapassa 30% está no regime de cota; já abaixo de 30%, ele não fica no regime de cota. Até o volume da cota, é aplicado o imposto já existente no Brasil, de cerca de 10,8%. Acima da cota, aplica-se 25% de imposto de importação. No regime de cota, hoje, há 11 produtos de um pleito do setor de 18 produtos. Sete produtos ficaram de fora. E qual a situação atual das importações de aço pelo Brasil?A importação continua subindo. O primeiro trimestre apresenta um crescimento de mais de 30% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Mas, de qualquer maneira, é fundamental a renovação do regime (de cotas) atual. Obviamente que se ele pudesse ser renovado e incrementado, seria melhor ainda. Mas queremos que o diálogo com o governo continue para buscar alternativas mais eficazes para que, de fato, interrompa o crescimento da importação de aço.Tivemos em abril uma queda muito grande nas exportações. Isso já é efeito do tarifaço?Houve uma queda de preço, mas não uma queda de vendas. Em termos de volume de vendas, nós estamos fazendo de acordo com o que a gente planejava. Mas esse é um efeito que pode acontecer, e a gente acredita que o Brasil está cuidando disso e vai colocar a renovação (da defesa comercial) em medidas mais robustas.Como andam as conversas com o governo federal?Boas e frequentes, com o Instituto Aço Brasil. Vemos o entendimento do governo cada dia maior sobre a importância disso. A indústria do Brasil precisa ser retomada, e o governo tem no seu planejamento a reindustrialização. E o setor do aço é fundamental para isso.Quantas pessoas o setor emprega hoje no País?O setor do aço emprega mais de 120 mil pessoas diretas, mais de 3 milhões de pessoas de forma indireta. Isso gera riqueza, emprego de qualidade e gera, de fato, a matéria-prima para industrializar o Brasil. Entendemos que a coisa está caminhando em um diálogo positivo e que o governo vai renovar e buscar medidas mais eficazes.A empresa enxerga hoje alguma prática que seja considerada anticoncorrencial?Há processos de antidumping (medida de defesa comercial que um país aplica para combater a exportação de produtos a preços inferiores aos praticados no mercado interno do país exportador) de vários produtos de aço produzidos no Brasil colocados no governo federal, que estão em análise. Esses processos estão progredindo dentro do governo, e a gente espera que tenham decisões importantes nos próximos meses. Posso citar dois produtos: a bobina frio e a bobina galvanizada, que fazem parte do projeto aqui (para Tubarão). Para esses dois, o governo declarou, há poucos meses, potencial de dano acima de 67%.Existe chance de redução de quadro de funcionários, no futuro, caso nada seja feito?Neste momento, nós não temos planos para isso. De novo: nós estamos na crença e no trabalho de que as coisas vão ser resolvidas e nós vamos encontrar junto ao governo as medidas de proteção para que resolva a concorrência desleal.Há evidentemente um otimismo quanto à guerra comercial. E sobre a economia como um todo, também? O crescimento da taxa de juros que o Banco Central está administrando por causa da inflação, que faz sentido no médio e longo prazos, está deixando o custo do crédito mais alto. O segundo semestre vai ser de observação, para entender se esse efeito vai afetar a demanda, além do problema da importação. Acho que as duas coisas caminham juntas.Como é a situação da ArcelorMittal globalmente hoje?O grupo está sólido, com alavancagem positiva. Esse grupo sólido escolheu o Brasil como um dos países para investimento. A ArcelorMittal acredita no Brasil.Há outros projetos relevantes no planejamento?Temos coisas que ainda não podemos divulgar. Temos apetite de seguir crescendo, verticalizando. Ou seja, transformando placa em produto galvanizado, por exemplo, como é aqui no Espírito Santo.A demanda por carros elétricos está ajudando o setor? Acho que a questão da eletrificação também é assunto novo e que vai ter sua maturação no mercado. A gente vê crescendo no mundo, mas o equilíbrio vai chegar em um momento. Se a soma de tudo for mais consumo, ou seja, que a população possa ter mais carro, obviamente isso será bom para nossa empresa e para a sociedade.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.