Morre Divaldo Franco, maior líder espírita da Bahia

Maior líder espírita da Bahia e um dos principais nomes da doutrina recente no Brasil, o baiano Divaldo Franco faleceu na noite desta terça-feira, 13, aos 98 anos, em Salvador. A informação foi confirmada pela assessoria da Mansão do Caminho, mesmo local onde ele morreu, por volta das 20h, devido a uma falência múltipla dos órgãos.O quadro de saúde do médium se tornou bastante delicado nos últimos meses. Ele havia finalizado seu tratamento contra um câncer de bexiga, mas começou a apresentar complicações como dificuldades em se hidratar e manter uma alimentação adequada. Com isso, foi preciso implementar uma sonda gástrica para que Divaldo recebesse os nutrientes necessários. O diagnóstico do câncer veio em novembro de 2024, após um desconforto urinário. Em dezembro, ele iniciou o tratamento com sessões de radioterapia, associadas a uma ‘pequena dose’ de quimioterapia. Em meio ao tratamento, Divaldo seguia com suas atividades habituais no Centro Espírita Caminho da Redenção (CECR), que integra a famosa Mansão do Caminho, seu trabalho social de maior fama.O velório de Divaldo Franco será nesta quarta-feira, 14, das 9h às 20h, no Ginásio de Esportes da Mansão do Caminho. A cerimônia será aberta ao público.Uma vida dedicada a féConsiderado um dos mais consagrados oradores e médiuns da atualidade, sendo embaixador do Espiritismo no mundo todo, Divaldo Pereira Franco nasceu na cidade de Feira de Santana, na Bahia, no dia 5 de maio de 1927. Ele era o caçula do casal Francisco Pereira Franco e Anna Alves Franco, que teve outros 12 filhos, dos quais cinco faleceram antes mesmo de Divaldo nascer.Desde muito pequeno, Divaldo Franco relatava sinais de mediunidade. Aos quatro anos, transmitiu à mãe um recado de uma senhora que dizia se chamar Maria Senhorinha, nome da avó materna falecida no parto da própria Anna, a mãe do menino. Desconfiada, Anna levou Divaldo à tia Edwiges, que o criou, e ao descrever com detalhes a aparência da mulher, o menino comoveu a tia, que reconheceu na descrição a falecida mãe. Esse foi o primeiro de muitos contatos espirituais marcantes que se tornariam frequentes ao longo da infância de Divaldo.Durante a infância e adolescência, Divaldo enfrentou perseguições espirituais e traumas pessoais. Aos sete anos, passou a ser atormentado por um espírito vingativo, o “Máscara-de-Ferro”, com quem tivera desavenças em uma vida passada. Além disso, sofreu com o suicídio da irmã Nair, cuja alma sofrida passou a lhe aparecer pedindo ajuda. Anos depois, Nair reencarnou como uma menina doente, acolhida por Divaldo até sua morte aos nove anos. A morte traumática do irmão José, por aneurisma, também o abalou profundamente, a ponto de causar-lhe uma paralisia inexplicável.A cura de sua paralisia marcou o início da vida espírita de Divaldo. Uma médium conhecida, Dona Naná, identificou a presença do espírito perturbado de José e, com orações, conseguiu libertar o jovem da influência espiritual, permitindo que ele voltasse a andar. Dona Naná também revelou a força de sua mediunidade e o apresentou à Doutrina Espírita. Com apoio da família e de outros médiuns, Divaldo se mudou para Salvador em 1945, iniciando a trajetória que o tornaria um dos mais importantes nomes do Espiritismo no Brasil.Divaldo realizou mais de 20 mil conferências e seminários em 71 países, e possui mais de 250 livros psicografados. Em parceria com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira (26/10/1924-21/11/2013), ele fundou a Mansão do Caminho, em 15 de agosto de 1952, instituição de assistência social que atende a pessoas carentes na capital baiana. O nome foi dado em homenagem à Casa do Caminho, criada pelos primeiros cristãos.O primeiro prédio da Mansão do Caminho estava localizado no bairro da Calçada. Três anos depois, a sede foi transferida para o seu atual endereço no bairro de Pau da Lima. Com mais de 300 funcionários e 400 voluntários, o espaço atende cerca de 3 mil crianças, que passam por atendimento médico e ficam nas creches.Chico Xavier e Divaldo Franco

|  Foto: Reprodução

Divaldo Franco era um contemporâneo de Chico Xavier, o maior ícone do Espiritismo brasileiro. O baiano e o mineiro mantinham uma grande amizade desde a juventude de Divaldo, ao qual Xavier dizia ter “uma estrela na boca”. No entanto, em 1952, Divaldo foi acusado por integrantes da Federação Espírita Brasileira de copiar mensagens psicografadas por Chico. O médium mineiro acreditou na denúncia, o que gerou um afastamento que durou 22 anos. Só em 1974 a reconciliação aconteceu, quando Chico decidiu superar a mágoa.“Sempre o amei muito”, afirmou Divaldo ao relembrar a relação com o colega. Apesar da reconciliação, parte da comunidade espírita ainda questiona a autenticidade de sua mediunidade. Críticas como as de Wilson Garcia, membro do conselho curador da Fundação Herculano Pires, são um exemplo disso. Segundo ele, Divaldo recebe inspirações de sua mentora espiritual, Joanna de Ângelis, mas desenvolve os conteúdos de acordo com suas próprias ideias e estilo, o que colocaria em dúvida a origem mediúnica de suas obras.Esse tipo de crítica tem raízes antigas. Herculano Pires, falecido em 1979 e um dos mais respeitados estudiosos e tradutores das obras de Allan Kardec, dedicou parte de sua vida a questionar a mediunidade de Divaldo. Apesar disso, a trajetória do médium baiano continuou marcada por seu trabalho assistencial, seus livros e palestras, consolidando sua influência no movimento espírita brasileiro e internacional.Literatura vastaDenominado de “Semeador de Estrelas”, Divaldo é autor de mais de 250 obras espíritas, em parceria com mais de 200 autores espirituais. O Espírito Joanna de Ângelis, sua mentora espiritual, ditou-lhe mais de 70 obras mediúnicas.Divaldo Franco relata que, em 1949, viveu uma experiência marcante: “Foi nesse ano que, pela primeira vez, senti uma vontade irresistível de escrever, acompanhada por uma sensação estranha no braço e uma ansiedade difícil de descrever”, recorda no livro ‘Primícias do Reino’. Esse episódio foi o início de sua trajetória como médium psicógrafo, quando recebeu a primeira mensagem espiritual assinada por Marco Prisco, intitulada ‘Na subtração e na soma’.Desde então, o acervo psicográfico de Divaldo cresceu de forma notável, abrangendo uma ampla diversidade de temas. Seus textos tratam de questões sociológicas, filosóficas, religiosas, históricas, psicológicas, psiquiátricas e místicas, além de abordagens voltadas para o público infantojuvenil e reflexões ético-morais, sempre com forte conteúdo doutrinário e educativo.A variedade de formas textuais é outro destaque do trabalho mediúnico de Divaldo. Suas obras incluem narrações, descrições, dissertações, contos, crônicas, poesias, preces, artigos científicos, cartas, mensagens espirituais, textos jornalísticos e ensaísticos.

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