A assistente social Isabela Silva, do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Assú, alertou sobre os casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes no município. Segundo ela, as ocorrências não são raras: “Eu trabalho no CREAS desde 2020 e infelizmente, compartilho com vocês que já atendi — e não foi só uma vez — esse tipo de situação. Acontece aqui”, disse ela, durante entrevista na Rádio Princesa Assú.
A fala integra as ações do Maio Laranja, campanha nacional de enfrentamento à violência sexual infantojuvenil, cujo marco é o dia 18 de maio. “Todos os municípios do Brasil devem passar o mês de maio inteiro desenvolvendo atividades de prevenção, sensibilização e educação, para que a gente consiga proteger mais nossas crianças e adolescentes”, disse Isabela.
A assistente social explicou as diferenças entre abuso e exploração sexual. “Abuso sexual é qualquer tipo de ação que esteja acontecendo com a criança ou adolescente no sentido de toques, visualização, exposição. Não precisa haver ato sexual para ser caracterizado. Já a exploração sexual envolve dinheiro ou troca de favores, e geralmente é cometida por alguém com poder sobre a criança”, explicou.
Isabela citou um caso atendido no CREAS em que uma adolescente de 13 anos mantinha relação com um homem de 35. “O pai e a mãe tinham ciência, diziam que ela gostava dele. A irmã mais nova contou, durante uma atividade na escola, que ele levava pipoca, deu um celular. Isso é exploração. Não é só dinheiro. Às vezes é uma cesta básica, um sorvete. Aproveita-se da vulnerabilidade”, afirmou.
O CREAS está realizando ações em escolas de Assú durante o mês. “Até o fim do mês, dois dias na semana, a gente vai em escolas diferentes. Estaremos na escola comunitária Bela Vista. Nos dividimos em duplas para trabalhar com diferentes públicos. As ações são práticas: com criança, é no chão, com desenho e conversa na linguagem dela”, relatou. Para adolescentes, os temas são abordados com linguagem adequada à idade.
Além das atividades nas escolas, haverá a tradicional caminhada do Maio Laranja no centro da cidade. “Será na terça-feira, dia 20. Sairemos da Escola José Correia até a Praça da Matriz, com carro de som, distribuição de panfletos e palavras de ordem. Vamos gritar que basta de violência”, disse.
Isabela também orientou sobre como identificar sinais de abuso: “Uma mudança brusca de comportamento deve ser observada. Uma criança que era agitada e fica introspectiva, ou vice-versa. Além disso, comportamentos sexualizados incompatíveis com a idade podem indicar que algo está errado”. Ela afirmou que “a maior parte das situações de abuso acontecem dentro de casa, com pessoas de confiança, como padrasto, avô ou vizinho”.
Por fim, reforçou a importância do diálogo entre pais e filhos. “Desde pequenos, já devemos ensinar o que é intimidade, o que pode ou não pode ser tocado. É preciso estabelecer uma relação de confiança. Um dos grandes agravantes é que o abusador consegue convencer a criança de que a culpa é dela. A criança precisa saber que pode contar com os pais”, concluiu.