
por Felipe Borges, para o Pragmatismo
Em menos de uma semana, o fisiculturismo brasileiro perdeu dois atletas jovens e promissores, ambos com apenas 30 anos. As mortes de Guilherme Henrique, conhecido como Gui Bull, e de Wanderson da Silva Moreira, colocaram em evidência os riscos de um esporte que cresce rapidamente no país, mas ainda carece de debates mais abertos sobre saúde, segurança e suporte aos competidores.
Broncoaspiração e luto repentino: a morte de Gui Bull
Guilherme Henrique morreu na última terça-feira, 6 de maio, vítima de asfixia por broncoaspiração. A informação foi confirmada pela médica e namorada do atleta, Jéssica Belenello, que se manifestou pelas redes sociais após o falecimento.
Nas publicações, Jéssica fez questão de rebater especulações e comentários maldosos que associavam a morte ao uso de anabolizantes, prática que, embora comum no meio, não teve relação com o caso segundo ela:
“A causa da morte do Gui não foi ‘suco’, como muitos desinformados e maldosos andaram dizendo. […] Foi asfixia por broncoaspiração e não tem relação alguma com as especulações absurdas que já circularam por aí.”
Em um texto emocionante, a namorada compartilhou a dor da perda e os planos interrompidos: “Era eu por você, e você por mim. Você foi… sem mim.”
Gui Bull era biólogo, consultor esportivo e estudante de Nutrição. Nascido em Maringá (PR), formou-se pela Universidade Estadual do Pará, onde também fez mestrado e doutorado em Bioquímica. Encontrou no fisiculturismo uma forma de expressão e de disciplina. Sua morte abalou a comunidade esportiva.
Parada cardiorrespiratória durante competição: a tragédia de Wanderson Moreira
Menos de quatro dias depois, no sábado (10), o fisiculturista Wanderson da Silva Moreira morreu durante uma competição em Campo Grande (MS). Natural de Rondonópolis (MT), Wanderson participava do evento Pantanal Contest, realizado em um clube da cidade. Segundo o boletim de ocorrência, ele sofreu uma parada cardiorrespiratória ao lado de um amigo, que relatou à polícia que o atleta tinha hipertensão.
Equipes do evento e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tentaram reanimá-lo por mais de uma hora, com uso de massagens cardíacas, choques, medicação e intubação. Ele não resistiu.
Mesmo diante da morte, a competição prosseguiu normalmente. A organização do evento não se manifestou até o fechamento desta matéria.
Wanderson era pai de dois filhos e havia feito uma promessa à esposa dias antes da competição: “Hoje vim sem você, mas farei o possível para levar mais uma para casa”, escreveu ele em suas redes sociais.
O treinador do atleta lamentou a perda: “Não era só um atleta, era um grande amigo, um homem de coração imenso.”
Silêncios e exigências extremas
As mortes de Gui Bull e Wanderson escancaram um lado silencioso do fisiculturismo. Embora os casos não tenham relação direta entre si, ambos mostram os limites físicos, emocionais e estruturais enfrentados por atletas que, muitas vezes, competem sob enorme pressão e sem suporte integral.
O Pantanal Contest, onde Wanderson faleceu, é um dos maiores campeonatos da modalidade no Centro-Oeste. A competição é organizada pela National Physique Committee (NPC) e classifica atletas para eventos internacionais como o Mr. Olympia Brasil e o Arnold Classic South America — disputas que demandam níveis elevadíssimos de preparação física e estética corporal.
No Brasil, o fisiculturismo se expandiu nos últimos anos com o crescimento de academias, a popularização do uso de suplementos e o culto à imagem nas redes sociais. Porém, a estrutura de apoio físico e psicológico para atletas ainda é insuficiente. Não há protocolos amplamente divulgados de segurança em competições, nem políticas claras de prevenção e acompanhamento médico contínuo para os competidores.
Mais do que estética
O fisiculturismo é um esporte que exige sacrifícios extremos — físicos, mentais, financeiros. Os corpos esculpidos no palco muitas vezes mascaram rotinas exaustivas, privações alimentares severas, uso de substâncias controversas e falta de garantias básicas de saúde. A pressão por resultados e visibilidade tem levado jovens atletas a ultrapassarem seus próprios limites, muitas vezes sem retorno.
As mortes de Gui e Wanderson, além do luto, deixam um alerta. O Brasil precisa discutir com mais seriedade o que está por trás da musculatura. O glamour das redes sociais não pode encobrir a negligência com a vida dos atletas.
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O post Dois fisiculturistas brasileiros morrem em menos de uma semana; namorada rechaça anabolizantes como causa do óbito apareceu primeiro em Pragmatismo Político.