A viagem do presidente Lula à Rússia e à China é mais um movimento geopolítico do Brasil para se manter no tabuleiro das potências globais. A agenda do Brasil nestes países tem um caráter fundamental na articulação política em um momento no qual os Estados Unidos travam uma batalha comercial agressiva com os grandes players do mundo.Em 2024, o comércio bilateral entre Brasil e Rússia atingiu recorde histórico, de US$ 12,4 bilhões, representando aumento de 9% em relação a 2023. As exportações atingiram US$ 1,4 bilhão, um aumento de 8% em relação à 2023, mas temos US$ 11 bilhões de importações brasileiras (aumento de 9%) na relação comercial. O que o Brasil buscou na viagem não é segredo, isto é, uma balança mais favorável no campo das exportações que favoreça o ambiente de negócios das empresas brasileiras com a Rússia. A busca por fertilizantes russos, essenciais para o agronegócio brasileiro, é um ponto sensível, especialmente em meio às sanções que afetam os fluxos comerciais russos. A cooperação com a Rússia nesse setor também demonstra a habilidade do Brasil em se manter pragmático diante de um cenário conturbado de polarização internacional.A agenda internacional do presidente Lula a partir de sábado (10) inclui participar do Fórum China-CELAC, reforçando o caráter pragmático da política externa brasileira. A agenda também envolve a assinatura de acordos bilaterais em áreas como comércio, inovação e desenvolvimento sustentável, visando diversificar exportações e atrair investimentos chineses em setores estratégicos para a economia brasileira. O fortalecimento das relações econômicas com a China é ainda mais estratégico. Neste momento, os chineses são o principal parceiro comercial do Brasil, já que em 2024, o Brasil exportou US$ 94 bilhões para a China, um valor que representa 28% do total exportado pelo país e 41,4% do superávit comercial brasileiro no âmbito global.Lula montou uma comitiva numerosa para a China, incluindo ministros e empresários brasileiros de olho na atração de investimentos para o Brasil. Está em andamento 48 acordos em negociação bilateral que podem ser anunciados como resultado da viagem ao país oriental. Também está no radar a visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil em julho deste ano.A agenda econômica de Lula com a Rússia e a China acena para uma aproximação econômica e política estratégica. Ampliando as relações com ambos os países pertencentes ao BRICS, a política externa brasileira joga xadrez se antecipando às incertezas globais. A empreitada diplomática reflete a ambição do Brasil em recuperar sua voz no cenário global e consolidar parcerias em áreas cruciais para o desenvolvimento econômico nacional.Cláudio André de Souza é professor adjunto de Ciência Política da Unilab e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB).
A agenda de Lula na Rússia e China
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