Pesquisadores brasileiros descreveram a primeira espécie do gênero Zavrelimyia já registrada na América do Sul. A espécie, denominada Zavrelimyia ximenesae, foi identificada em exemplares coletados no rio Taborda, em Parnamirim, no Rio Grande do Norte.
O artigo foi publicado na revista científica Zootaxa e é assinado por Galileu Dantas e Neusa Hamada, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e Marcos Pinheiro, colaborador do Laboratório de Entomologia (Labent), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Os exemplares foram coletados em estágio de pupa, fase intermediária do ciclo de vida do inseto, com uma rede específica para ambientes aquáticos. Cada indivíduo foi mantido em tubos com água até a emergência do adulto.
Após isso, os insetos foram analisados com microscópio, fotografados com câmera digital e desenhados à mão com auxílio de tubo de desenho. As medições foram feitas com o programa Cell D. A equipe também utilizou uma armadilha Shannon modificada, com luzes de LED, para capturar adultos em campo.
A nova espécie apresentou características únicas tanto na fase de pupa quanto na fase adulta, podendo ser reconhecida pelo padrão de coloração e pela morfologia da genitália do macho. Essas características permitiram diferenciá-la de outras espécies do mesmo grupo já registradas no continente americano.
Segundo os autores, até o momento, nenhuma espécie formalmente descrita do gênero havia sido registrada no Brasil ou em outros países da América do Sul. A pesquisa ampliou o conhecimento sobre a biodiversidade de insetos aquáticos e contribuiu para estudos taxonômicos e ecológicos relacionados ao grupo.
A espécie pertence à subfamília Tanypodinae. A análise das diferentes fases de desenvolvimento indicou incompatibilidades com a classificação atual do grupo, o que, de acordo com os autores, aponta para a necessidade de revisões taxonômicas mais amplas no gênero.
Os pesquisadores informaram que os próximos passos do estudo envolvem a identificação da fase larval da espécie. Um tipo larval do gênero Zavrelimyia foi registrado anteriormente no estado de Pernambuco, em ambiente semelhante ao do rio Taborda. A equipe acredita que possa se tratar da mesma espécie, mas a confirmação depende da descrição formal da larva.
O nome ximenesae foi escolhido em homenagem à professora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes, docente titular da UFRN e ex-vice-reitora da universidade. Especialista em parasitologia e entomologia médica, Ximenes coordena desde 2004 o Labent, fundado em 2006, voltado ao estudo de doenças endêmicas por meio da observação de insetos transmissores. O laboratório realiza pesquisas que vão da identificação taxonômica ao estudo de ciclos biológicos de mosquitos e flebotomíneos.
Ximenes tem ligação direta com os autores do artigo. Marcos Pinheiro foi seu orientando desde a graduação até o doutorado. Galileu Dantas também foi seu aluno na UFRN e atualmente é pesquisador no Inpa, onde a professora concluiu seu doutorado. Ela soube da homenagem apenas após a publicação do artigo. “Foi uma grata surpresa”, afirmou.
Ao comentar o estudo, Ximenes declarou: “Descobrir uma nova espécie é um sonho de qualquer biólogo. Eu diria de biólogos que gostam da pesquisa, que gostam da ciência, porque traz o novo e a possibilidade de continuar investigando outros caminhos na pesquisa científica”.
Sobre o grupo dos quironomídeos, ela explicou que são utilizados como bioindicadores da qualidade da água. “Quando eu falo de saúde pública, estou falando de saúde ambiental, de animal, de saúde de uma maneira geral: de saúde única”, disse.
Ela também ressaltou que, embora quironomídeos sejam abundantes, são pouco conhecidos. “São pouco conhecidos e existem poucos estudos quando comparados a outros grupos. Talvez isso ocorra porque são mais difíceis de serem identificados, realmente bem complexos. Por isso, quem estuda esses insetos precisa ter bastante tempo e paciência”, concluiu.