Pouco a pouco, os 133 cardeais do conclave que escolheu Leão 14 revelam detalhes que permitem montar uma parte do quebra-cabeças da eleição que define os rumos da Igreja Católica.O cardeal de Toamasina, em Madagascar, Désiré Tsarahazana, cometeu uma indiscrição sobre a mais confidencial das informações do conclave: o número de votos obtidos por cada cardeal.Na saída do encontro do papa com os cardeais neste sábado (10), Tsarahazana disse a jornalistas italianos que Robert Prevost teve “bem mais de cem votos”, sendo que 89 eram necessários para atingir os necessários dois terços dos eleitores. Quebrar o sigilo sobre a contagem de votos é passível até de excomunhão, segundo a “constituição apostólica”, documento que rege o conclave.CONTEÚDOS RELACIONADOS: Recorde de cardeais desafia Vaticano e prolonga ConclaveConclave: faça agora um tour virtual pela Capela SistinaOutros jornais trouxeram detalhes novelescos. Segundo o Il Messaggero, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, um dos favoritos a suceder Francisco, estava sentado logo atrás de Prevost nas votações na Capela Sistina.Tagle afirmou que o americano lhe perguntava como se comportar. E que, no quarto escrutínio, que o elegeu, Prevost estava “respirando fundo” e aceitou uma bala oferecida pelo próprio Tagle. “Foi meu primeiro ato de caridade perante o novo papa”, brincou o filipino.O principal favorito do conclave, o cardeal italiano Pietro Parolin, divulgou uma carta no diário Il Giornale di Vicenza, de sua província natal. “Entendo a torcida [por mim], mas é necessária a lógica da Igreja”, acrescentou Parolin, que deu mais algumas informações sobre o conclave. “Creio não revelar nenhum segredo se escrevo que um longuíssimo e caloroso aplauso seguiu-se a aquele ‘Eu aceito’ que o tornou o 267º papa da Igreja Católica.”Quer mais notícias do mundo? Acesse nosso canal no WhatsAppO francês Dominique Mamberti, que na função de protodiácono do Colégio de Cardeais foi encarregado de pronunciar as famosas palavras “Habemus papam”, contou ter ficado surpreso com a escolha do nome Leão 14. Mamberti disse que estava em uma boa posição na Capela Sistina para ver o rosto de Prevost no momento em que o americano aceitou ser papa.”Ele estava na primeira fila, entre os cardeais da ordem episcopal [os primeiros a votar]. Eu estava em uma posição lateral, mas podia vê-lo bem. Estava emocionado. É natural: estava acontecendo uma mudança total em sua vida. Mas estava sereno quando pronunciou a fórmula com a qual aceitou a eleição.”A versão dele coincide com a de Parolin: “Fiquei impressionado com a serenidade que transpirava do rosto [de Prevost] em momentos tão intensos e, em certo sentido, dramáticos, porque mudam totalmente a vida de um homem.”Outro cardeal francês, Jean-Paul Vesco, de Argel, afirmou ter havido um momento em que todos os cardeais “sentiram que era ele”: “Eu sabia que o Espírito Santo estaria lá. Não saberia dizer em que momento. Foi uma evidência nos votos que eram expressados.”O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, revelou à Folha que achou o conclave deste ano “mais sereno” que o outro de que participou, 12 anos atrás, quando Francisco foi eleito após a renúncia de Bento 16. “Após o papa Francisco, a Igreja recolheu unanimidade maior do que no pós-Bento 16, que renunciou em um momento de muita turbulência. Portanto, um clima de bem maior serenidade”, analisou.A suposta demora na única votação do primeiro dia, que levou mais de três horas, deveu-se a uma longa palestra do cardeal Raniero Cantalamessa. Conhecido pregador, Cantalamessa foi convidado a falar aos demais cardeais sobre os 1.700 anos do Concílio de Niceia, que dirimiu importantes controvérsias sobre os dogmas da Igreja.”É claro que o primeiro dia tem todas as explicações, palestra, organização e tudo mais”, disse à reportagem o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta. “Mas evidentemente conclave não tem hora marcada. Os horários quem marca é o povo que está fora. A gente nem vê passar o tempo.”
Revelações de cardeais ajudam a montar quebra-cabeças do conclave
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