Ode à cidade acelerada de terra vermelha que invade os sapatos

Parauapebas acorda cedo. Bem antes do sol despontar, já há luzes acesas, motores roncando e gente saindo apressada de casa, como se a cidade tivesse medo de perder a hora. Aos 37 anos, essa menina do sudeste do Pará carrega no colo uma história que parece ter sido escavada a picareta: minério de ferro, suor e sonhos entrelaçados em suas ruas.

Ela nasceu meio tímida, agarrada à Serra dos Carajás, quando as primeiras máquinas chegaram para rasgar a terra e tirar dela o ferro que alimentaria o mundo. Em pouco tempo, de vila pacata virou cidade acelerada, dessas que engolem estradas e levantam prédios num piscar de olhos. O minério corre nas veias de Parauapebas, mas quem a mantém de pé mesmo são as mãos calejadas de seus moradores — muitos deles vindos de longe, de um Brasil inteiro que foi se encaixando por aqui como peça de quebra-cabeça.

Gente do Maranhão, do Piauí, do Ceará, de Minas, do Sul e do Sudeste: um Brasil em miniatura circula pelo mercado municipal, lota as escolas, constrói casas, abre comércio, dá risada na praça, reza nas igrejas e samba nas noites quentes de domingo. Parauapebas é a soma dos sotaques, dos temperos, das saudades que vieram na bagagem e das histórias que ganham corpo nas calçadas.

O comércio, aliás, não fica atrás. São lojas de tudo, camelôs de quase tudo e sonhos de absolutamente tudo. Do pequeno vendedor ambulante ao empresário da cidade, todos sabem que Parauapebas não se faz só de minério: vende-se esperança a granel, todo dia.

Mas há também os contrastes. Há quem veja na cidade apenas cifras, enquanto outros a enxergam como chão de futuro. Há quem lamente a terra vermelha que invade os sapatos, e quem enxergue nela o batom da terra mãe, que colore cada canto da cidade. Há quem reclame do calor, mas quem entende sabe: Parauapebas não seria Parauapebas sem um sol que cozinha os dias e apressa as noites.

Com 37 anos, Parauapebas já tem rugas de progresso e cabelos brancos de desafio. Cresceu rápido, sem muito tempo para arrumar o quintal ou cuidar das feridas. Mas se há algo que ninguém duvida é do coração enorme dessa cidade: um coração que bate ao som das britadeiras, ao compasso das conversas de boteco, no embalo das festas de rua e no silêncio das manhãs de domingo.

Parauapebas é dessas cidades que não cabem só no mapa. Ela mora na memória de quem chegou, de quem ficou, de quem um dia partiu. E, no fundo, de quem entende que viver aqui é, todos os dias, cavar um pouco mais fundo — não apenas o minério, mas os sonhos, os encontros, os amores e os recomeços.

Feliz aniversário, Parauapebas. Que venham mais anos, mais histórias, mais gente. Porque, por aqui, o que não falta nunca é vida. (Ulisses Pompeu)

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.

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