A China consolidou-se como o principal investidor estrangeiro no Brasil nos últimos 14 anos, com aportes totais de US$ 66 bilhões entre 2007 e 2022, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) compilados pela embaixada chinesa. Esses recursos transformaram setores estratégicos da economia brasileira, com destaque para energia, infraestrutura e, mais recentemente, tecnologia e mobilidade elétrica.
No setor energético, que concentra quase metade dos investimentos (US$ 32,5 bilhões), empresas estatais chinesas como a State Grid e a China Three Gorges (CTG) assumiram papel central. A State Grid opera o Linhão de Belo Monte, que distribui energia renovável para mais de 60 milhões de brasileiros e gera cerca de 5 mil empregos diretos. A CTG, por sua vez, controla 11 usinas hidrelétricas no país.
A infraestrutura nacional recebeu US$ 25 bilhões, com projetos que estão modernizando a logística brasileira. Destaque para o Porto de São Luís (MA) e a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). O ambicioso projeto da Ferrogrão, que ligará Mato Grosso ao Porto de Miritituba (PA), também conta com forte interesse chinês.
Nos últimos anos, os investimentos começaram a migrar para novas fronteiras. A partir de 2025, as montadoras chinesas BYD e GWM iniciarão a produção de veículos elétricos e híbridos em Camaçari (BA) e Iracemápolis (SP), com potencial para gerar milhares de empregos e reposicionar o Brasil no mercado global de mobilidade limpa.
No agronegócio, a cooperação avança em tecnologias como biotecnologia, agricultura de precisão e uso de drones. Uma parceria entre a ANAC e a autoridade de aviação chinesa viabilizou, por exemplo, o uso de drones da DJI para pulverização agrícola em larga escala.
Esses investimentos têm impactado profundamente a economia brasileira. Segundo especialistas, além de injetar capital, os chineses trazem tecnologia de ponta e ajudam a qualificar a mão de obra local. A BYD, por exemplo, estima criar cerca de 10 mil empregos diretos em sua fábrica na Bahia.
No entanto, analistas apontam desafios. Cerca de 67% dos investimentos são realizados por empresas estatais chinesas, o que gera debates sobre soberania e dependência tecnológica. Além disso, a crescente competição entre China e EUA por recursos minerais estratégicos, como níquel e lítio, pode afetar projetos futuros no Brasil.
Com esses investimentos, o país asiático não apenas se consolidou como principal parceiro comercial do Brasil, mas também como agente transformador de sua base produtiva. Os próximos anos devem testemunhar uma expansão ainda maior dessa parceria, especialmente em setores ligados à transição energética e à economia digital.