O clima da Terra sempre passou por transformações, mas nunca em um ritmo tão vertiginoso quanto agora. O aquecimento global deixou de ser uma ameaça distante e se tornou uma realidade urgente, com impactos que já afetam o funcionamento de ecossistemas inteiros. Nesse contexto, a professora Courtney McGinnis, da Quinnipiac University (EUA), alerta que o verdadeiro desafio das mudanças climáticas não está apenas na elevação das temperaturas, mas na velocidade com que essas alterações ocorrem.”Historicamente, as mudanças climáticas da Terra geralmente ocorreram ao longo de milhares a milhões de anos. Atualmente, as temperaturas globais estão aumentando em cerca de 0,2 grau Celsius por década”, destaca McGinnis, em artigo publicado na plataforma The Conversation Brasil e reprodudizo pelo portal Metrópoles.CONTEÚDO RELACIONADOPirarucu invade rios de São Paulo e põe população em riscoCaramelo: cavalo símbolo da enchente no RS ganha nova vidaGrupo Legendários invade área protegida no interior de MinasPara ilustrar essa aceleração, a especialista compara o fenômeno a um carro em movimento. Quanto mais combustível – leia-se: emissão de gases do efeito estufa – for despejado, mais o clima acelera rumo ao colapso. No século 21, as temperaturas globais estão subindo mais de três vezes mais rápido do que no século anterior, um ritmo que tem alterado profundamente os habitats de plantas e animais.Quer mais notícias de meio ambiente? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.MIGRAÇÃO DE ESPÉCIESUm dos efeitos mais alarmantes é a migração precoce ou forçada de diversas espécies. Para sobreviver, organismos estão buscando refúgio em regiões mais frias, como latitudes elevadas ou áreas montanhosas. Peixes avançam em direção aos polos, e até abelhas, adaptadas ao frio por seus corpos felpudos, estão abandonando áreas ao sul para se fixarem em zonas mais frescas. “Isso pode aumentar a concorrência com as populações de abelhas existentes”, observa a professora.Mas a migração não resolve tudo. Muitas plantas dependem de polinizadores para sua reprodução, e essa interdependência sofre com o desencontro provocado pela chamada incompatibilidade fenológica – o descompasso entre o florescimento das plantas e o surgimento dos polinizadores.DESENCONTRO ENTRE POLINIZADORES E PLANTASCerca de 75% das espécies vegetais na América do Norte contam com animais como abelhas, borboletas, pássaros e morcegos para dispersar sementes e pólen. “Um em cada três pedaços de comida que você come depende de um polinizador, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA”, reforça McGinnis.Com o aquecimento global, muitas plantas estão florescendo antes do esperado, enquanto os insetos seguem seus ciclos tradicionais, baseados na duração do dia e na temperatura. Quando finalmente emergem da hibernação, podem encontrar flores já desabrochadas ou murchas. Por outro lado, se os polinizadores aparecerem cedo demais, podem não ter alimento suficiente para sobreviver.ABELHAS EMERGINDO ANTES DO ESPERADOEssa realidade já é comprovada por estudos com abelhas nos Estados Unidos. A data de emergência desses insetos foi antecipada em mais de dez dias nos últimos 130 anos, sendo que o ritmo se intensificou nas últimas décadas. “Nos últimos 50 anos, a data de emergência está quatro vezes mais rápida”, informa McGinnis. Isso significa que, em 2020, as abelhas estavam surgindo oito dias antes do que em 1970.O descompasso tem reflexos diretos na agricultura. Segundo pesquisa recente citada no artigo, a polinização inadequada já causa perdas anuais de 3% a 5% na produção global de frutas, vegetais, especiarias e nozes. E o impacto pode ser ainda maior nos ecossistemas, que se tornam menos resilientes diante de eventos extremos como incêndios, secas ou enchentes.ESPÉCIES AMEAÇADASAlém da crise climática, polinizadores ainda enfrentam ameaças como perda de habitat e uso intensivo de pesticidas. Por isso, McGinnis defende medidas urgentes para mitigar o aquecimento global. “A adoção de medidas para reduzir as atividades que provocam o aquecimento global pode ajudar a manter essas espécies prósperas e desempenhando suas funções na natureza no futuro”, conclui.
Aquecimento global afeta relação entre abelhas e flores
Adicionar aos favoritos o Link permanente.