Um grito pelo Velho Chico: comitê denuncia Governo Federal por “apropriação” de R$ 15 milhões que seriam investidos na preservação do rio

O mês de maio marca o lançamento da tradicional campanha anual do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) para preservação do Velho Chico, rio que beneficia 18 milhões de brasileiros matando a sede, levando riqueza e cultura. Este ano o tema da campanha é “Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração”, com uma série de atividades coordenadas até o dia 3 de junho, quando será realizada a 12ª edição do evento com uma intensa programação na Universidade de Brasília (UnB).

Seria mais um ano feliz não fosse o comitê ter sido surpreendido com uma triste notícia, o corte de 33% dos recursos da cobrança pelo uso da água, que foi aprovado pelo Congresso Nacional, na LOA 2025. Por lei, esses recursos devem ser integralmente repassados aos comitês de bacia e o não cumprimento da lei ameaça a execução e ampliação de importantes ações custeadas pelo CBHSF, como capacitações, projetos, obras de infraestrutura e programas de requalificação ambiental.

O TNH1 viajou a Brasília a convite da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e conversou com o presidente da instituição, Maciel de Oliveira, que falou sobre investimentos possibilitados pelo recurso administrado pelo comitê na região banhada pelo rio São Francisco, em Alagoas; assista:

“Nós tivemos muitos investimentos dos recursos em Alagoas, por exemplo o modelo de gestão do canal do sertão alagoano. O comitê que fez esse estudo e entregou ao Governo de Alagoas, realizamos a maior obra de abastecimento de uma comunidade indígena no Brasil lá em Porto Real do Colégio, povo kariri xocó, nós elaboramos programas de saneamento rural em várias comunidades, inclusive entregamos na semana passada um em Inhapi, tivemos mais de 10 milhões investidos em abastecimento de água em Piaçabuçu, município que sofria com a salinidade da água, estamos fazendo saneamento do Centro Histórico de Penedo”, elencou.

Maciel de Oliveira também explicou o motivo do comitê falar em apropriação indébita de recursos por parte do Governo Federal. “Esses recursos não são do orçamento da União, são dos usuários da água, que pagam a água, aqueles que captam grandes quantidades do rio São Francisco e pagam pela outorga. Esse recurso é arrecadado pela Agência Nacional da Agua (ANA) e volta 100% para a bacia do rio para ser investido em programas e projetos que o comitê define”, disse, acrescentando que o valor arrecadado está sendo confundido pelo Governo Federal como parte do orçamento.

“Esse ano o governo entendeu como se fosse um orçamento da União, então ele cortou 33% desse recursos da cobrança. No caso do São Francisco é um impacto de 15 milhões de reais, ou seja um enorme prejuízo. Esse recurso é de repasse obrigatório, não é um recurso que pertence à União, por isso que uma apropriação indébita. O Governo não poderia cortar ou contingenciar porque não o pertence”, explicou o presidente do Comitê. 

 

Coletiva de imprensa Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração

Coletiva de imprensa Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração

Coletiva de imprensa Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração

Coletiva de imprensa Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração

 

O vice-presidente do Comitê, Marcus Vinícius Polignano, foi enfático ao dizer que o corte ameaça o povo ribeirinho de todo o País.

“O que o congresso fez foi uma irresponsabilidade ambiental, social. Cortar dinheiro de quem já não tem, quem sofre é quem mais precisa. Esse recurso é do povo do Rio São Francisco e precisa ser respeitado. Foram muitos anos de dedicação de tanta gente para chegar onde chegamos. Agora não podemos deixar isso acontecer e retroceder. Isso tudo está ameaçado [programas e ações do comitê]. O rio é de integração nacional e tem que ter o mesmo peso político, não pode ser tratado como um qualquer. O comitê requer o respeito que esse rio merece”, alertou.

Campanha 2025

O Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d’água do país, volta ao centro das atenções com o lançamento da campanha nacional “Vire Carranca. Um grito pelo Velho Chico. Unidos pelo rio da integração”. Em 2025, a mobilização chega a Brasília, em uma iniciativa estratégica do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que busca ampliar o diálogo com os poderes públicos e colocar a preservação do rio como prioridade na agenda nacional.

A escolha da capital federal como palco da campanha não é por acaso. Ao levar a mobilização para o centro das decisões políticas, o CBHSF pretende reforçar a importância de uma gestão participativa e eficaz das águas, ao mesmo tempo em que chama a atenção da sociedade para a grave situação do Velho Chico.

Conhecido como o “Rio da Integração Nacional”, o São Francisco é fonte de vida e sustento para milhões de pessoas. Abastece cidades, irriga plantações, gera energia e mantém viva a cultura de comunidades tradicionais ao longo de seu extenso percurso. Porém, o rio enfrenta ameaças severas: poluição, desmatamento, assoreamento e uma preocupante redução em seu volume de água.

A campanha surge como um chamado coletivo à responsabilidade. O CBHSF propõe uma atuação conjunta entre governos, instituições ambientais, setor privado, pesquisadores e comunidades locais para reverter o quadro de degradação. Mais do que um gesto simbólico, “virar carranca” representa a união de vozes em defesa do São Francisco — uma exigência de compromisso com a vida e o futuro do rio.

Em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP 30 e o debate sobre sustentabilidade e energias renováveis ganha força no mundo, a campanha ganha ainda mais relevância. É hora de transformar a preocupação em ação. E, para isso, o grito pelo Velho Chico precisa ecoar forte — em Brasília e por todo o país.

Assista ao vídeo sobre a campanha em 2025:

A reportagem tentou contato com a Casa Civil e Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para saber sobre o corte dos R$ 15 milhões, mas não conseguiu resposta até a publicação deste material, deixando espaço aberto para resposta.

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