Por que o novo papa escolheu o nome Leão XIV? Entenda o significado

Ao adotar o nome Leão XIV, o novo papa Robert Francis Prevost não apenas homenageia Leão Magno – o lendário pontífice que deteve Átila às portas de Roma no século V – mas envia um sinal claro: seu pontificado buscará equilibrar a força doutrinal da tradição católica com os desafios da Igreja no século XXI. Eleito nesta quinta-feira 8 com pelo menos 89 dos 133 votos no conclave, o primeiro papa americano da história sucede Francisco em um momento de profundas transformações no catolicismo global.

Antes do americano, foi Gioacchino Pecci, em 1878, o último a selecionar o nome Leão como marca do papado. Leão XIII, que governou a Igreja de 1878 a 1903, é lembrado como um papa de visão social avançada para sua época. Sua encíclica Rerum Novarum (1891) lançou as bases da Doutrina Social da Igreja, abordando direitos trabalhistas e justiça social. Ele também buscou diálogo com o pensamento moderno, valorizou o estudo da filosofia tomista e redefiniu o papel da Igreja diante dos desafios do século XIX, abandonando pretensões políticas em favor de uma autoridade espiritual e intelectual.

Segundo estudiosos do Vaticano, o novo papa demonstra, ao adotar o nome Leão XIV, o desejo de unir a firmeza teológica e pastoral de Leão I com a modernidade, diplomacia e sensibilidade social de Leão XIII. A escolha pode ser vista como uma síntese entre tradição e renovação.

Prevost, que pertence à ordem agostiniana, ocupava até então o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos — uma função-chave na estrutura do Vaticano, com grande influência na nomeação de líderes da Igreja ao redor do mundo. Em fevereiro deste ano, foi promovido por Francisco a cardeal-bispo, o que ampliou ainda mais seu protagonismo dentro da Cúria Romana.

Em seu primeiro discurso na Praça de São Pedro, o novo pontífice agradeceu ao papa Francisco e indicou que pretende manter o caminho de reformas e diálogo com os desafios contemporâneos. Com raízes nas Américas e olhos voltados para o futuro, Leão XIV abre um novo capítulo no catolicismo global.

Prevost, nascido em Chicago há 69 anos e cidadão peruano desde 2015, torna-se o primeiro pontífice vindo dos Estados Unidos. Em sua primeira aparição pública na sacada da Basílica de São Pedro, o novo papa prestou homenagem ao antecessor, Francisco, a quem deve dar continuidade nas reformas e no diálogo com o mundo contemporâneo.

Leão Magno

A adoção do nome Leão XIV remete diretamente a Leão I, o 45º papa da Igreja, que governou entre os anos 440 e 461. Famoso por seu papel pacificador, Leão Magno convenceu o temido Átila, rei dos hunos, a recuar e poupar Roma de uma invasão, em 452. Anos depois, ao intervir junto aos Vândalos liderados por Genserico, evitou a destruição da cidade e preservou importantes basílicas.

Além de seu protagonismo político, Leão I teve forte influência teológica, principalmente no Concílio de Calcedônia, ao definir a doutrina das duas naturezas de Cristo — divina e humana — e combater heresias da época. Seu pontificado foi marcado ainda por ações de caridade e firme defesa da primazia de Roma. Por seu impacto duradouro, foi o primeiro papa a receber o título de “Magno” e é um dos únicos reconhecidos como Doutor da Igreja.

Quem é Robert Prevost

Robert Prevost carrega uma trajetória marcada pelo serviço pastoral. Atuou como missionário no Peru nos anos 1980, onde ganhou fluência em espanhol e conhecimento aprofundado sobre a realidade da Igreja na América Latina. Serviu por uma década em Trujillo e, mais tarde, foi nomeado bispo de Chiclayo, permanecendo até 2023.

Integrante da ordem agostiniana, da qual chegou a ser superior global, Prevost ocupava até recentemente o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos — uma das mais relevantes estruturas da Cúria Romana. Em fevereiro deste ano, foi promovido a cardeal-bispo por Francisco, reforçando sua presença estratégica nos bastidores do Vaticano. Com Leão XIV, a Igreja ganha um líder com raízes americanas e alma latino-americana.

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