Uma comissão de delegados da Polícia Civil de Alagoas está investigando a morte de Gabriel Lincoln Pereira da Silva, o adolescente de 16 anos que morreu durante perseguição feita por policiais militares, na noite do último sábado, 3, em Palmeira dos Índios, no Agreste de Alagoas.
Em entrevista na sede da Delegacia-Geral da PC, em Jacarecica, na tarde desta quarta-feira, 7, o delegado Alexandre Leite, diretor da DPJ3 (Diretorias de Polícia Judiciária), deu mais detalhes sobre as investigações.
“Já teve início no próprio domingo mesmo, a equipe local já deu início às diligências. Fez a coleta de imagens, que pegou todo o percurso da perseguição. No entanto, no local do fato, um ponto que fica a mais ou menos a 300 metros de distância da última câmera. Então, não deu para ser registrado o momento do fato. As diligências vão prosseguir com as oitivas de populares, de familiares, as requisições junto ao IC (Instituto de Criminalística) dos exames da arma de fogo que a PM informou que foi apreendida com o menor. Ver a capacidade dessa arma de uso e saber se ela foi utilizada recentemente”.
A Polícia Militar deu a versão de que Gabriel teria desobedecido a uma ordem de parada durante rondas e atirado contra os policiais, que revidaram. A família do adolescente, no entanto, contesta a declaração da polícia, afirmando que ele era inocente. Os familiares também questionaram a conduta dos militares envolvidos.
“Essa arma já foi encaminhada ao IC para realização do exame pericial. Ela tem número de registro, mas não está no sistema da Polícia Federal. Então, não dá para saber a origem dessa arma de fogo”, contou o delegado.
Durante o velório de Gabriel, a Polícia Científica recolheu amostra para realizar o exame residuográfico e fazer a análise no laboratório forense.
“Foi coletado o material na segunda-feira, durante o velório. Mas já me foi passado pela perícia que, por esse lapso temporal do fato até a coleta do material, o exame tem uma chance grande de estar prejudicado exatamente por esse lapso de mais de 36h”, disse o diretor da DPJ3.
O repórter Alan Garcia, da TV Pajuçara, questionou se esse resultado do exame residuográfico então deve ou não fazer muita diferença para a investigação. “Isso, não vai nos dar certeza, não vai dar segurança para nenhum dos caminhos”, respondeu o delegado.

A comissão é composta pelas Diretorias de Polícia Judiciária 1 e 3, além da Delegacia de Homicídios da 5 Região, tendo como responsáveis, respectivamente, os delegados Sidney Tenório (diretor da DPJ1), Alexandre Leite, (diretor da DPJ3) e delegado João Paulo Tenório, (coordenador da DH da 5ª Região).
“Em todos os casos de repercussão, essa questão da comissão é mais uma garantia para investigação, para toda equipe que está investigando, de pressões externas, de população, de familiares de vítimas, qualquer tipo de pressão externa. É uma questão de praxe nesses casos de repercussão”, explicou o delegado Alexandre Leite.

Veja abaixo mais trechos da entrevista com o delegado:
O que a perícia na arma de fogo que os policiais alegaram ter apreendido pode apresentar?
– “Uma das grandes provas vai ser a perícia nessa arma de fogo que foi apreendida com o menor. Ela vai apresentar se aquela arma foi utilizada recentemente, se ela tem potencial de uso. Informações que serão bastante úteis para investigação”.
Perícia nas armas dos militares e na viatura
– “Foi me passado pelo próprio delegado João Paulo Tenório hoje, que foi solicitada a perícia nas armas dos militares da guarnição, e na viatura. Enquanto isso, foram registradas fotografias da viatura e das armas. A perícia já foi solicitada. Acredito que a perícia da viatura vai ocorrer o quanto antes. E a das armas é uma questão interna da perícia, vamos solicitar urgência”.
“(Essas armas dos militares) Estão no CISP (Centro Integrado de Segurança Pública). Foi informado pelo 10º Batalhão da PM que estão no CISP de Palmeira dos Índios e serão encaminhadas para perícia”.
Depoimentos
– “Já tiveram início no dia de ontem os depoimentos de populares que estiveram próximo ao local. Outras intimações estão ocorrendo hoje e amanhã também, para, no mais tardar, na próxima semana estarmos realizando as oitivas”.
Quando os familiares e os policiais serão ouvidos?
– “Os familiares, a tendência é que sejam ouvidos na próxima semana. Quanto aos militares, serão ouvidos ao final da coleta desses elementos de informação”.
Os policiais foram afastados das ações ostensivas. Foi um pedido da Polícia Civil?
– “Não, isso é protocolo administrativo da Polícia Militar”.