O sonho da casa própria foi o que levou Rubenilda Bandeira Miranda, de 38 anos, a se instalar no Residencial Magalhães, em Marabá. A presidente da Associação dos Moradores do bairro, localizado no núcleo São Félix, tem muito a contar, já que há seis anos atua como intercessora das mais de mil pessoas que residem no local e sofrem diariamente com as mazelas da pobreza extrema.
Por ter sua história recente intrinsecamente ligada ao Magalhães, Rubenilda se torna a emissária responsável por dissecar a trajetória do Residencial. Os planos do movimento de ocupação foram traçados em um grupo de WhatsApp, explica ela. Então, na noite de 27 de abril de 2019, às 20h, Rubenilda e seus colegas entraram no bairro.
“Desde então, estamos aqui nessa guerra”, diz em tom definitivo.
Presidente da Associação desde aquela época, ela enumera os problemas que os recém-chegados enfrentaram. Não havia água potável para beber e apenas um poço abastecia os moradores. O líquido precioso que jorrava daquela fonte improvisada era utilizado no preparo das refeições, no banho e nas demais necessidades da população. No princípio, o cartão-postal do Magalhães era um lixão localizado na entrada do bairro. Hoje, após uma longa luta de Rubenilda, um veículo passa diariamente para coletar os resíduos.
Nos últimos anos, a ocupação pouco avançou em questões estruturais, direito à moradia e qualidade de vida. A água encanada nunca chegou, a energia elétrica, apesar de regularizada, é cobrada a um preço alto e a manutenção é precária, assim como a iluminação pública. As poucas conquistas foram garantidas graças à intervenção do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). Não obstante, os residentes estão reféns de ações de reintegração de posse, três delas já foram movidas, mas os moradores resistem.
“A maioria das pessoas que reside aqui, de fato, são famílias que não têm casa, que precisam estar aqui”, sustenta.
O cenário da extrema pobreza é um pano de fundo na vida dos mais de mil habitantes do Residencial, muitos considerados ‘pessoas carentes’. E se antes o maior desafio enfrentado por eles era a falta de energia elétrica, agora é a saúde.

“Aqui não tem postinho de saúde. Teve uma moça que me procurou pedindo ajuda para uma consulta com clínico geral. E assim, esse médico em todo lugar você acha, mas aqui a gente não consegue”, lamenta. Ela ressalta que as ruas não são trafegáveis, o que dificulta a passagem de ambulâncias e viaturas da polícia.
Diante de tantas barreiras, os escassos avanços que os moradores conquistam com muita luta não são suficientes para mudar a realidade daquele bairro. Muitas das casas que não foram ocupadas servem como abrigo para o tráfico de drogas. Com frequência, homicídios e prisões são registrados por lá, um retrato da marginalização de um bairro marcado pela pobreza de sua população.
Os poucos que conseguiram prosperar ali, construindo seus pequenos comércios — desde frutarias a farmácias —, lucram em cima das necessidades básicas dos moradores. Ir embora não é uma opção, uma vez que teriam que voltar para o aluguel, situação inviável, considerando que já é difícil sobreviver nas casas ocupadas.
Apesar de garantidos por lei, o direito à moradia, saneamento básico, saúde, educação e tantos outros é negado aos ocupantes do Magalhães, seja por suas histórias pregressas, ou pelo preconceito da sociedade em relação àqueles que invadem pedaços de terra desocupados. Ainda que ela não perceba, as palavras e reflexões de Rubenilda são um espelho para a vida desumana à qual boa parte daquelas famílias é relegada.

CENÁRIO DO TRÁFICO
Como ocorre em muitos bairros periféricos, o tráfico de drogas também invadiu o Residencial Magalhães e a preocupação de muitos moradores é que ele influencie adolescentes e jovens da comunidade.
(Luciana Araújo)
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