Cientistas avançam na criação de antídoto universal contra picadas de cobra

Estudo norte-americano identifica anticorpos com potencial para neutralizar venenos de diversas espécies e abre caminho para um soro de amplo espectro

Pesquisadores norte-americanos deram um passo promissor na busca por um antídoto universal contra picadas de cobra, ao identificarem dois anticorpos amplamente neutralizantes capazes de combater o veneno de diversas espécies peçonhentas. O estudo, publicado na revista científica Cell, teve como base o sangue de Timothy Friede, um ex-mecânico e entusiasta de cobras que se submeteu voluntariamente a mais de 200 picadas e injeções de veneno ao longo de 18 anos.

Friede, natural de Wisconsin, começou os experimentos por conta própria nos anos 1990 com o objetivo de desenvolver imunidade gradual a venenos de cobra, e chamou a atenção da comunidade científica ao divulgar vídeos do processo na internet. Seu caso chamou o interesse do imunologista Jacob Glanville, com quem fundou a empresa CentiVax, responsável por transformar sua imunidade em base para um potencial soro antiofídico de amplo espectro.

No estudo, os cientistas conseguiram isolar os anticorpos LNX-D09 e SNX-B03 do sangue de Friede, e os resultados mostraram que o antídoto desenvolvido a partir deles protegeu camundongos contra o veneno de 19 espécies de cobras altamente venenosas, entre elas várias classificadas como de alto risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Apesar do avanço, especialistas alertam que ainda há um longo caminho até a aprovação de um medicamento para humanos. Serão necessários novos testes em animais de maior porte e estudos sobre segurança, eficácia e viabilidade econômica, já que soros antiofídicos são considerados produtos pouco lucrativos pela indústria farmacêutica, apesar de salvarem milhares de vidas anualmente.

Para Michael Hust, diretor do Departamento de Biotecnologia Médica da Universidade Técnica de Braunschweig, o estudo é significativo, mas sua aplicação ainda depende de muitos testes e validações. Já Andreas Laustsen-Kiel, da Universidade Técnica da Dinamarca, recomenda cautela quanto à ideia de um antídoto universal e defende o foco em soros de eficácia regional ampla, adaptados às serpentes mais comuns em determinadas áreas do mundo.

Enquanto a promessa de um soro único ainda é incerta, o estudo representa um avanço científico inédito, com potencial para revolucionar o tratamento de uma das chamadas “doenças tropicais negligenciadas” e salvar dezenas de milhares de vidas todos os anos.

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