O trânsito nas estradas e cidades baianas tem exigido cada vez mais atenção e responsabilidade de motoristas e pedestres. Episódios recentes, como o acidente na BR-242, na proximidade de Ruy Barbosa, que envolveu 11 pessoas, sendo nove membros de uma mesma família, e teve grande repercussão, além de outro entre Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio, onde três irmãos perderam a vida após o carro cair de uma ponte, despertam para a importância da prudência e atenção ao volante. Esses casos ganham ainda mais relevância no contexto do Maio Amarelo — campanha internacional que, todos os anos, mobiliza a sociedade para reduzir os índices de sinistros nas vias e reforça que atitudes simples e defensivas podem salvar vidas.Esse tipo de alerta é imprescindível diante de um cenário em que somente de janeiro a abril deste ano, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 1.060 ocorrências nas rodovias federais que cortam a Bahia, com 1.304 pessoas feridas e 145 mortes. Em 2024, foram mais de quatro mil acidentes em todo o estado. Na capital, os dados da Transalvador mostram que, apenas no primeiro trimestre, aconteceram 909 acidentes com feridos e 22 com mortes. As avenidas Contorno, Luiz Viana Filho, ACM, Octávio Mangabeira, Afrânio Peixoto e Silveira Martins estão entre os trechos com maior número de registros, o que indica onde a atenção precisa ser redobrada a fim de evitar acidentes, principalmente os fatais, como o que ocorreu com o primo da psicóloga Fernanda Ferrari.“Em 2003 perdi meu primo em um acidente de carro e até hoje sinto muita falta dele e tristeza pela fatalidade. Éramos muito unidos. O acidente ocorreu quando ele voltava de carro [para a região da Graça] da Cidade Baixa quando cochilou por segundos. Para desviar de um ônibus, ele jogou o carro em uma mureta da Avenida Contorno. Ficou muito ferido, perdeu muito sangue porque atingiu a femoral e não resistiu. Independentemente do acidente dele, que foi uma fatalidade, acho que os ônibus descem a Avenida Contorno com muita velocidade. Além de o trânsito ser meio caótico e inseguro nessa região”, observa a psicóloga.Outra perda foi a da Servidora Pública Federal, Fernanda Aragão Damasceno, que perdeu o padrasto em uma rodovia baiana. “No réveillon de 1994/1995, na rodovia que liga a cidade de São Félix a Maragogipe, meu padrasto conduzia o veículo e foi a óbito em razão do acidente, por traumatismo craniano. Um primo dele, que era o carona, sobreviveu. Quando ele saiu de Salvador com destino a Maragogipe já era noite e, após passar por São Félix, última cidade antes de Maragogipe, ele passou direto em uma curva e colidiu frontalmente com uma árvore. Chegou a ser socorrido, mas faleceu no hospital. Na minha opinião, as condições precárias dessa rodovia contribuem muito para ocorrência desses acidentes. É uma rodovia sem iluminação e sem a sinalização conhecida como ‘olho de gato’, que evita que os motoristas saiam dos contornos da pista, que foi o caso de meu padrasto. Além disso, tem baixa luminosidade e não tem indicação clara na via, que fizeram com que ele não visse a curva”, conta.Para a auxiliar de serviços gerais, Ana Lúcia Santos, que perdeu o irmão, em 2016, a falta de responsabilização do causador do acidente reacende o inconformismo sobre a morte do ente querido. Ela conta que o motorista que bateu na moto e atropelou o seu irmão fugiu do local sem prestar socorro, o que poderia ter salvado a vida dele. “Não imaginei que perderia meu irmão em um acidente de moto. Ele era muito responsável, só pilotava com capacete e nunca em alta velocidade. Foi em 2016 quando ele estava voltando do interior pela BR-324, perto de Simões Filho, um carro bateu nele, atropelou e fugiu, não prestou qualquer socorro. Ele não resistiu e morreu lá mesmo, sozinho. Nunca achamos quem fez isso.”, lamenta Ana Lúcia.Além do elevado número de condutores que foge do local em que causou o acidente – considerado pelo código penal brasileiro como crime passível de detenção – um fator também causador de acidentes é o inadequado estado de conservação das rodovias.Para o sacerdote e advogado Frei Antônio Expedito Martins, a tristeza o abateu em dezembro de 2012, quando perdeu sua irmã em um acidente de trânsito na mesma rodovia em que Ana Lúcia perdeu seu irmão. “Ela estava de carro, na BR-324, vindo de Feira de Santana pra Salvador. O fato ocorreu porque ela tentou desviar de um buraco no asfalto. Com isso, ela perdeu o controle e o carro virou. Ela morreu no local. De lá pra cá tantos outros acidentes têm ocorridos nessa mesma região. Paga-se pedágio com constantes aumentos e as estradas continuam esburacadas, sendo um risco ao direito à vida. As estradas devem estar a serviço das pessoas de forma segura”, ressalta o sacerdote.
Acidentes reforçam a necessidade de mais responsabilidade no trânsito
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