Uso de bikes elétricas cresce em Salvador

As motivações de quem usa bicicleta elétrica são variadas: ganhar tempo, economizar com o combustível ou com a passagem de ônibus, ou optar por um meio de transporte sustentável. No ano passado, segundo estimativa da Associação Brasileira do Setor de Bicicleta – Aliança Bike, foram comercializadas entre 56 mil e 60 mil e-bikes no Brasil, um aumento de mais de 10% em relação ao ano anterior, confirmando uma tendência de crescimento que aos poucos pode ser vista nas ruas das grandes cidades.O entregador de aplicativo baiano Kayque de Oliveira Santos, 31 anos, ajudou a engrossar a estatística. Em dezembro, ele trocou a bike tradicional pela elétrica, que ainda está pagando, mas já avalia que o custo-benefício está sendo bom. “Está facilitando muito meu trabalho, posso pegar corridas mais longas, não faço tanto esforço físico, não gasto combustível e não preciso de habilitação”, elenca Kayque.Ele conta que usa o meio de transporte tanto nas entregas do iFood quanto no deslocamento de casa, no Nordeste de Amaralina, ao seu outro trabalho na Pituba – ele também é segurança em uma loja.“Ando mais pela região da Pituba, Itaigara, Armação e Tancredo Neves, bairros onde tem bastante ciclovia e ciclofaixas”, diz Kayque, acrescentando que o preço ainda desanima seus colegas de trabalho, mas que o valor baixo da manutenção e da carga elétrica acabam compensando.Demanda reprimidaOs preços podem variar de R$ 5 mil, os modelos mais básicos, até R$ 70 mil, as importadas top de linha. Kayque usa o modelo Fast 1.000 w da Sol Bikes Elétricas, com pedal assistido, ou seja, que é acionado quando ele começa a pedalar. Para conseguir comprar a e-bike, fez uma parceria com a concessionária da marca criada pelo empresário baiano João Marinho, que fica na Pituba.A empresa nasceu há seis anos no Rio de Janeiro, mas durante a pandemia transferiu a operação para Salvador. E se prepara para expandir os negócios com a instalação, em setembro, de uma montadora de bike e scooters elétricas no município de Santanópolis, próximo a Feira de Santana, cidade natal de João. Será a primeira montadora fora da Zona Franca de Manaus, de onde sairão os vários modelos produzidos em uma fábrica parceira chinesa, na cidade de Shenzhen.“Nossa expectativa é triplicar as vendas e reduzir os preços das bikes em 30%, tornando-as acessíveis a todas as classes sociais, e ajudando a melhorar a mobilidade sustentável no País”, afirma João, que comercializa cerca de 500 bikes por ano.Atualmente, as e-bikes da Sol custam entre R$ 6 mil e R$ 15 mil e os preços variam de acordo com a potência do motor, autonomia da bateria, capacidade de transporte, acessórios e afins.João identifica três perfis de público: o jovem de 20 a 30 anos, que usa para trabalhar; o adolescente de família de alta renda, que usa para lazer; e pessoas acima de 60 anos, para pequenos deslocamentos. Mas entre os idosos, diz, a preferência são os triciclos. O empresário acredita que há uma “demanda reprimida”, que pode ser atraída pelos preços mais acessíveis, e cita o exemplo de uma parceria com o iFood, que flexibilizou a compra de e-bikes para pessoas como Kayque.Aos 67 anos, a engenheira química Williane Lopes Carneiro comprou uma e-bike Track há um ano e meio por outros motivos. Ela é assídua nos passeios de fim de semana do grupo Pedal das Meninas, e conta que perdeu muito o condicionamento físico com a parada obrigatória da pandemia. Não conseguia mais acompanhar e ficava sempre cansada. Experimentou um modelo elétrico que pesava cerca de 25 kg, mas achou pesada demais, pois seu objetivo também é pedalar para se exercitar. A solução foi uma Track com pedal assistido de 16,5 kg, quase o mesmo peso de uma bicicleta convencional.“Achei a coisa mais maravilhosa do mundo, o motor fica em stand by e só ligo quando estou ficando para trás. Apesar de cara, acho que vale muito a pena”, considera Williane, acrescentando que não se sente segura para pedalar sozinha pela cidade e sempre usa os equipamentos de segurança pessoal- luva, capacete, roupa especial e sapato fechado.“Nós andamos na rua, então é preciso ter cuidado, já tomei uma queda por causa de um buraco”, conta.Os equipamentos de segurança, de acordo com a resolução 996 do Código Nacional de Trânsito (Contran), de 2023, incluem indicador de velocidade, buzina, sinalização dianteira, traseira e lateral e espelho retrovisor do lado esquerdo. E determina a circulação em ciclovias, ciclofaixas ou seguindo o sentido da via.“A legislação considera a bicicleta um veículo, seja ela de propulsão humana ou elétrica, mas muita gente não usa os EPI´s”, pondera o tenente coronel Luide Souza, especialista em trânsito e professor da Escola Pública de Trânsito do Detran-BA. Ele fala que e-bikes com potência de motor até 1.000 w e velocidade de 32 km/h não precisam de carteira de motorista ou emplacamento.‘Modal novo’Na opinião do tenente, as e-bikes são mais seguras, por exemplo, que as patinetes elétricas, pois têm muito mais estabilidade. No entanto, como todo meio de transporte, há riscos. Por isso, ele aconselha que os usuários façam um treinamento antes de se arriscarem pelas ruas. “As bikes ainda são um modal novo na nossa cidade, apesar dos investimentos que a prefeitura e o estado têm feito. Mas ainda temos muito a avançar, pois durante muito tempo o Brasil só beneficiou quem podia adquirir um carro”, afirma o tenente Luide, acrescentando que é preciso investir em mais vias exclusivas e campanhas de educação e conscientização para a boa convivência entre ciclistas, pedestres e demais transportes.O empresário Túlio Franco, da Go By Eletric – que tem uma loja em Ondina e uma em Praia do Forte – chama a atenção para a parcela de responsabilidade do usuário. Para ele, as pessoas pensam nos veículos elétricos como “um brinquedo”, e não estão muito dispostos a se informar sobre regras e legislação, e até mesmo a realizar aulas e test drive, por isso as vezes fazem compras equivocadas. “Um detalhe que acho importante é as pessoas não usarem fones de ouvido quando andarem de e-bikes, pois podem provocar acidentes”, diz Túlio, que defende que o futuro da mobilidade é elétrico, e já está acontecendo.
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