
Enquanto obras de modernização avançam no terminal, imóvel continua deteriorado há 17 anos; disputa judicial entre União e massa falida da Vasp impede uso ou venda do edifício. Fachada de prédio que pertenceu à Vasp
Reprodução/TV Globo
A Aena, concessionária que administra o Aeroporto de Congonhas, anunciou oficialmente o início das obras de ampliação do terminal. Mas, ao lado do canteiro de obras, um prédio abandonado chama a atenção: é a antiga sede da Vasp, empresa aérea que teve a falência decretada em 2008.
O edifício fica na Praça Comandante Lineu Gomes, na esquina com a Avenida Washington Luís, em frente ao aeroporto. Sem uso há mais de 15 anos, o prédio se transformou em um esqueleto urbano, com estruturas expostas e veículos da antiga frota da companhia abandonados e corroídos pela ferrugem em uma das garagens.
“Ver desse jeito, abandonado, deve estar cheio de bicho… Dá dó, cara”, lamenta Gerson Mendes, ex-funcionário da empresa e hoje sorveteiro, que trabalhou no prédio no fim dos anos 1990.
A situação do imóvel reflete uma disputa judicial iniciada em 2010 entre o governo federal e a massa falida da Vasp. A Justiça chegou a autorizar a venda do edifício para pagar dívidas trabalhistas da empresa com ex-funcionários, mas o governo federal entrou com recurso, alegando que o prédio pertence à União desde 1946.
A Advocacia-Geral da União (AGU) afirma que é inviável qualquer acordo com a massa falida e aguarda decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O processo ainda não tem data para ser julgado. Já o administrador da massa falida, por ser vinculado ao Judiciário, não comenta casos em andamento.
O impasse judicial impede qualquer tipo de reforma, venda ou reaproveitamento do espaço, mesmo com uma sentença favorável à massa falida em primeira instância.
Enquanto isso, o entorno do prédio será transformado. De um lado, a Aena já iniciou a construção de um novo terminal de embarque. Do outro, devem ser erguidos um shopping center e uma loja de materiais de construção. O prédio da Vasp, porém, seguirá isolado.
“Estamos construindo um novo terminal. Do outro lado também têm empreendimentos. E vai ficar ali aquele esqueleto, sem ser cuidado, sem zeladoria. Um grande desperdício”, afirma Marcelo Bento, diretor de relações institucionais da Aena.
Para a professora Helena Ayoub Silva, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a permanência do prédio vazio representa um desperdício de infraestrutura urbana. “É o mesmo absurdo que acontece com os prédios vazios no centro da cidade. A gente vê pessoas vivendo na rua e, ao mesmo tempo, edifícios assim, abandonados. Que sociedade é essa que estamos construindo?”, questiona.
Ela defende a ocupação do imóvel com novos usos. “Um prédio desses, num lugar com toda a infraestrutura, não precisa de um gênio para encontrar uma solução. É só usar a cabeça.”