
Com experiência em quadrinhos para a Turma da Mônica, Hafis Aidar de Carvalho foi diagnosticado em 2018. Aposentado operou no Hospital de Base (HB) em São José do Rio Preto (SP) há dois meses. Cirurgia não representa a cura dos distúrbios do movimento, mas alivia os sintomas. Aposentado com Parkinson volta a desenhar após cirurgia no cérebro em Rio Preto
Um ilustrador aposentado de 72 anos, diagnosticado com Parkinson, uma doença degenerativa que afeta o cérebro, voltou a desenhar após uma cirurgia no cérebro que ajudou na recuperação do movimento em São José do Rio Preto (SP).
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Hafis Aidar de Carvalho foi diagnosticado em 2018, durante uma consulta com neurologista. Entre os sintomas que sentia estavam: rigidez, lentidão, dificuldade para levantar, engolir, falar e, principalmente, dificuldades motoras que afetam a habilidade de desenhar.
Hafis Aidar de Carvalho voltou a desenhar após a cirurgia do Parkinson em Rio Preto (SP)
Hafis Aidar de Carvalho/Arquivo pessoal
Hafis revelou ao g1 que sempre foi apaixonado por quadrinhos. Em 1972, trabalhou como ilustrador freelancer para o autor Maurício de Sousa, com quem aprendeu a desenvolver melhor os traços. À época fez ilustrações para a Turma da Mônica.
Com o avanço da doença, o aposentado viu as atividades simples do dia a dia, como segurar um copo e abotoar a camiseta se tornarem desafiadoras. O desenho, que sempre foi algo natural, parecia uma realidade cada vez mais distante.
Foi nesse cenário que decidiu buscar alternativas médicas. Após conversas com neurologistas e especialistas em distúrbios do movimento, Hafis optou por realizar a cirurgia de estimulação cerebral.
Paciente com Parkinson volta a desenhar após cirurgia com eletrodos no cérebro
“O que me motivou a lutar contra a doença foi o desenho, eu estava com traços muito primitivos, infantis, miúdos”, relembra Hafis.
Sete anos depois do diagnóstico, Hafis operou, no dia 24 de fevereiro deste ano, pelo convênio no Hospital de Base (HB). Instantaneamente, o paciente lembra que sentiu o corpo reagindo positivamente aos estímulos (assista o vídeo acima).
“Quando o doutor pediu para eu mexer a mão, fazia com mais facilidade. Senti meu corpo reagindo. Foi maravilhoso. Naquele momento senti Deus agindo”, celebra Hafis.
Hafis voltou a desenhar após a cirurgia no cérebro em Rio Preto (SP)
Hafis Aidar de Carvalho/Arquivo pessoal
O homem recebeu alta hospitalar dois dias depois da cirurgia. Se operado no particular, a operação custa em torno de R$ 250 mil. Após o procedimento, Hafis experimentou uma melhora significativa nos sintomas.
Com a recuperação, o aposentado retomou a rotina de desenho. Inspirado pelos personagens de quadrinhos, que sempre admirou, começou a desenvolver novas histórias.
“Me sinto muito bem, com muita vontade de viver, voltei a sonhar. A cirurgia foi um sucesso, mudou minha vida. Hoje valorizo cada detalhe, cada movimento. Não posso perder tempo, me sinto uma criança”, celebrou Hafis.
Como foi a cirurgia?
Raio-x de crânio com a mira do eletrodo de quatro polos implantado no paciente Hafis em Rio Preto (SP)
Hospital de Base/Divulgação
O neurologista, coordenador do ambulatório de transtornos do movimento, Fábio de Nazaré, detalhou que a cirurgia é recomendada para pacientes como Hafis, que apresentam complicações motoras significativas.
“Os pacientes respondem muito bem com medicamentos que suplementam a dopamina, mas, ao longo do tratamento, podem apresentar complicações motoras, que respondem melhor com a intervenção cirúrgica, melhorar a resposta que o paciente vinha tendo aos tratamentos convencionais”, comenta o especialista.
Nesse caso, o neurocirurgião responsável pelo Serviço de Neurocirurgia Funcional do HB, Carlos Rocha, de 47 anos, informou que a cirurgia envolve a estimulação cerebral profunda, com a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro, conectados a um dispositivo semelhante a um marca-passo, que envia impulsos elétricos para regular a atividade cerebral.
Hafis Aidar de Carvalho diagnosticado com Parkinson volta a desenhar após cirurgia no cérebro em São José do Rio Preto (SP)
Hafis Aidar de Carvalho/Arquivo pessoal
O objetivo, de acordo com ele, é reduzir os sintomas motores do Parkinson, como tremores e rigidez. No caso, a cirurgia ocorre com o paciente acordado , para que os médicos possam avaliar a resposta do corpo aos estímulos elétricos, ajustando parâmetros conforme necessário.
“A cirurgia é minimamente invasiva, com dois pequenos furos no crânio para introduzir dois eletrodos no cérebro. Dura em média quatro horas, são utilizadas tomografia e ressonância de alta resolução”, exemplifica o médico.
A bateria do eletrodo, de acordo com Carlos, dura de 15 a 20 anos, o que torna o procedimento definitivo, porém não representa a cura dos distúrbios do movimento. No caso, o Parkinson é uma doença crônica, incurável e progressiva.
De acordo com Hafis, a cirurgia reduz em 50% a dose medicamentosa que o paciente costuma tomar antes de fazer o procedimento e ajuda na redução dos sinais da doença. Dados enviados ao g1 mostram que o hospital faz uma cirurgia de distúrbio motor pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por mês.
“Se forem usadas baterias não-recarregáveis, elas duram de três a cinco anos. O paciente não fica curado, ele tem uma melhora importante dos sintomas motores, tem o foco na melhora da qualidade de vida e funcionalidade do paciente”, salienta o médico.
Simpósio
Hospital de Base de Rio Preto (SP)
Divulagação
A Fundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Funfarme) vai realizar um simpósio de transtorno do movimento, de quinta-feira (1º) a sábado (3), das 8h às 18h30. Na abertura, mais de 200 pacientes confirmaram presença.
O encontro terá palestras interdisciplinares sobre cuidados e qualidade de vida voltadas para pacientes, familiares e cuidadores, além de relatos de superação que prometem inspirar e emocionar o público.
Transtornos do movimento são doenças que causam movimentos involuntários, como tique e tremor, sendo a doença de Parkinson uma das mais conhecidas.
Mais de 150 profissionais de todo o Brasil estão inscritos para este evento, que também celebra os 15 anos da primeira cirurgia para implante de marca-passo cerebral para o tratamento de Parkinson, realizada no HB.
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