Estresse e pressão: Carpini precisa de mais do que folga no Vitória

Me interesso bastante pelas entrevistas do técnico Carpini. Delas sempre é possível extrair pontos interessantes. Há algumas semanas o treinador, ao reclamar (com razão) da sequência absurda de jogos, disse que uma hora a conta deste excesso ia chegar. Até mais do que a parte física, a conta do aspecto mental já chegou. Basta vermos o nível de incomodo que algumas perguntas geram ao treinador, que óbvio, analisa o jogo com um olhar muito além do resultado.

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E diante da falta das vitórias, surgem os questionamentos do trabalho. O contexto que leva ao momento sem os três pontos não é analisado, o que irrita profundamente o treinador. É nessa questão que vejo Carpini com margem para melhora. Com tantos argumentos possíveis para responder tais perguntas incomodas, a irritação na condução das respostas é desnecessária. Mas também compreendo que a mencionada falta de paciência é fruto de muito estresse. Com 31 jogos, o Vitória é, ao lado do Bahia, a equipe do Brasil que mais jogou no ano.Por 15 vezes até aqui no ano Carpini teve apenas dois dias de preparação de um jogo para o outro. Algo surreal e de muito estresse, sem dúvidas. Esta semana, pela primeira vez na temporada, o Leão tem um intervalo de seis dias entre um jogo e outro. A primeira providência do treinador foi engatar dois merecidos dias de folga para todo o elenco, inclusive para ele. Embora a ciência do esporte entregue um ótimo recurso para a avaliação física, como é o caso do teste de CK, útil para investigar cansaço e suspeita de lesões musculares nos atletas, não há ainda como quantificar o tempo necessário de recuperação emocional a um indivíduo envolvido em situações de estresse.Cada situação é muito específica e vai muito além do trabalho. Envolve família, momento da vida, entre outros inúmeros detalhes que passeiam por nossa mente. Espero, sinceramente, que os dois dias de folga tenham sido importantes para Carpini se recuperar do estresse mental, algo fundamental para que o seu trabalho possa ser desenvolvido ainda com mais eficência no comando técnico do Vitória, clube que ele mostra total prazer em trabalhar: por isso, deu uma negativa a consultas de Santos, Grêmio e Vasco nas últimas duas semanas.Transparência além do necessárioPois bem, o campo de batalha retórica reserva recursos mais inteligentes do que propriamente o confronto. Deixo aqui como sugestão para Carpini uma melhor utilização da transparência, algo que o treinador já faz uso. De forma objetiva, o treinador, que busca sempre trazer o torcedor para a realidade do clube, pode responder perguntas que considere fora de contexto através dos exemplos que tem vivenciado no Rubro-negro. Mas segurando a onda na irritação. Ao ser questionado pela falta dos três pontos (o Leão empatou os últimos três jogos), um argumento útil é a pontuação em jogos difíceis, contra adversários tecnicamente superiores. Sim, perdeu de um limitado Cerro Largo em casa e se complicou na Sul-americana… São situações que podem ocorrer no futebol.Tom inapropriadoNa coletiva após o 1×1 com o Grêmio, Carpini comparou os seis pontos atuais com o ponto conquistado pelo clube nos primeiros seis jogos do Brasileiro no ano passado. Fez bem, mas em tom inapropriado. A projeção do discurso na mídia influencia a percepção da opinião pública, fundamental para o treinador comandar com o apoio do torcedor, mesmo diante de momentos complicados.*Angelo Paz é jornalista e responsável pela coluna Resenha Rubro-Negra.

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