Local em que Adolf Hitler se matou, há 80 anos, hoje é um estacionamento

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Reprodução/Google Maps

Há exatos 80 anos, nesta quarta-feira (30), Adolf Hitler se matou com um tiro na têmpora direita em seu bunker no centro de Berlim. Não foi exatamente um ato desesperado, mas uma decisão planejada aos detalhes, ruminada por dias com assessores diretos e nazistas de alta patente. Eva Braun, companheira de anos e com quem ele havia se casado na véspera, foi encontrada morta ao seu lado, envenenada com cianureto.Era o meio da tarde. Hitler tinha almoçado e se despedido dos mais próximos. Já tinha matado a cachorra e seus filhotes. Magda, mulher de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista, tentou convencer o chefe a fugir em um encontro de última hora. O líder, porém, já havia desistido há dias de qualquer alternativa, após o longo rompante diante de seus oficiais reproduzido em tons dramáticos no filme “A Queda”, de 2004.Tropas aliadas e soviéticas espremiam a Alemanha há meses. O Exército Vermelho já tomava parte da capital alemã. Encurralado, Hitler dormia no bunker desde janeiro. A instalação começou a ser erguida antes da guerra, como parte de uma reforma no prédio da antiga chancelaria. Quando a Alemanha perdeu a soberania aérea da Europa, em 1943, o ditador sentiu a necessidade de mais proteção e encomendou uma reforma a Albert Speer, seu arquiteto predileto, em que a grossura das paredes mais do que dobrou, chegando a quatro metros de cimento armado.A informação consta de um painel instalado na Gertrud-Kolmar Strasse, número 14, uma rua no centro da capital alemã. O endereço está no Google, mas não com a ênfase de outros pontos históricos de Berlim. Atrás da placa de informações, um estacionamento de terra batida e algumas árvores servem a moradores de prédios das redondezas. É o que existe hoje no lugar do Führerbunker, o bunker de Hitler.Um ponto de referência para encontrá-lo é curiosamente o Memorial do Holocausto, monumento em homenagem aos 6 milhões de judeus exterminados pelo regime nazista. São 2.711 blocos de concreto escuro, que criam uma sensação de gravidade em quem os percorre. Isso, é claro, se for possível ignorar a movimentação intensa de turistas e pessoas tirando selfies.Voltada para a memória do genocídio, a instalação, que completa 20 anos na próxima semana, quando se celebra a rendição alemã, está a meio quarteirão de outras muitas toneladas de concreto, bem mais antigo, que protegiam um verdadeiro labirinto de abrigos subterrâneos. Boa parte deles, incluindo o Führerbunker, foi parcialmente destruída pelos soviéticos em 1947.Outras tentativas de varrer do mapa as instalações ocorreram nas décadas seguintes, quando a área pertencia à Alemanha Oriental. Nos anos 1980, a destruição completa foi descartada pela complexidade de remover tanto concreto. O que restou foi nivelado com entulho e terra e virou estacionamento.O local não atrai multidões, como o Memorial do Holocausto, o Portão de Brandemburgo e a Potsdamer Platz, outros pontos turísticos próximos, mas está no roteiro de visitas guiadas e excursões escolares. Em Berlim, tropeça-se na história a cada esquina, mas, se um dia a intenção foi não criar um ponto de peregrinação, até aqui a sobriedade tem funcionado.Em 30 de abril de 1945 a preocupação de desaparecer era de Hitler. Ao ouvirem o tiro disparado no quarto, auxiliares entraram e se depararam com o líder nazista morto em um sofá, ao lado de Eva Braun. Cumpriram então a última parte do ritual determinado pelo chefe com 200 litros de gasolina. Os corpos foram envoltos em cobertores, levados ao jardim que ficava sobre a fortificação e incinerados.Hitler não admitia se render e, segundo algumas versões, temia acabar como Benito Mussolini, que foi morto e pendurado pelos pés no teto de um posto de gasolina em Milão dois dias antes, em 28 de abril. O líder fascista tentava fugir para a Espanha do ditador Francisco Franco, mas foi capturado pelos partisans, a resistência italiana. A imagem do Dulce, humilhado e desfigurado, era exatamente o que Hitler não queria e não permitiu.O que sobrou do seu corpo incinerado teria sido jogado em vala comum. O sumiço rendeu diversas investigações e histórias fantasiosas de fuga, como a que o colocava em um submarino rumo à Argentina ou em uma base secreta na Antártida. Sua morte, em termos legais, só foi confirmada em 1956 na Alemanha. O serviço secreto soviético, a pedido de Josef Stalin, teria obtido restos mortais do nazista e guardado a informação para tumultuar a vida de rivais europeus e americanos no início da Guerra Fria.Hitler talvez tenha antecipado que a imagem sobre-humana que criou para si, fruto de propaganda, manipulação de notícias e muita repressão, teria um futuro mais promissor se não houvesse um corpo ou túmulo para ser venerado como mortal. “Minha esposa e eu escolhemos a morte para evitar a vergonha da destituição ou da capitulação”, ditou à secretária Traudl Junge como determinação para constar em seu testamento.Ou talvez apenas estivesse abusando de drogas, que tomava por condições de saúde e também por vício. Os últimos meses no bunker, que o painel da Gertrud-Kolmar Strasse faz questão de frisar, nada tinham de confortável, junto com a expectativa de uma derrota iminente, fizeram Hitler aumentar o consumo de narcóticos, de acordo com estudiosos.Oito décadas mais tarde, a ideologia e a estética nazistas continuam atraindo. O enorme esforço que o governo e a sociedade alemã se submetem para manter viva as atrocidades do Terceiro Reich convive com recidivas. Na última campanha eleitoral, em uma live com Alice Weidel, do partido de extrema direita AfD, Elon Musk declarou que os alemães deveriam parar de se punir por uma culpa que era de seus avós e bisavós.O bilionário queria justificar o voto em uma legenda populista, que tem integrantes investigados por neonazismo e discurso de ódio. Com uma plataforma que vai da deportação em massa de imigrantes ao fim das torres de energia eólica, passando pela saída da União Europeia, a AfD não só alcançou o segundo maior número de cadeiras no Parlamento como já lidera nas últimas pesquisas de intenção de voto.Uma semana após a morte de Hitler, em 7 de Maio de 1945, o almirante Karl Dönitz, que sobrou no comando do país, assinou o ato de rendição militar da Alemanha. Ficou estabelecido que as tropas da Wehrmacht entregariam as armas até as 23h01 do dia seguinte, 8 de maio, ou 9 de maio para os russos, quando se encerrou o conflito na Europa.

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