Em viagem à Ásia, Nunes ignora críticas e defende estacionamento no Minhocão; veja argumentos de urbanistas e da prefeitura


Obras em trecho da Rua Amaral Gurgel começaram na segunda (28). Município diz que espaço funcionará de forma experimental. Para urbanistas, medida privilegia transporte individual. Em viagem ao Japão, Nunes mostra modelo de viaduto verde que quer trazer para São Paulo
Em viagem à Ásia, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), defendeu nesta terça-feira (29) as obras anunciadas pelo vice dele na parte de baixo do Elevado João Goulart, o Minhocão, para instalar bolsões de estacionamento para carros. A proposta tem sido criticada por urbanistas.
Em mensagem enviada à GloboNews, o prefeito afirmou que o objetivo das intervenções é “deixar o Minhocão mais bonito e funcional” para a população.
“Terão trechos com estacionamento, terão trechos de jardins. Vamos deixar mais bonito e funcional”, disse o prefeito, que está em viagem à China e ao Japão desde a semana passada, ao lado da esposa, Regina Nunes.
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Nunes enviou à GloboNews o vídeo de um viaduto que viu durante a viagem e que deseja usar de modelo para a cidade. No vídeo, é possível ver um viaduto com bastante verde e plantas ornamentais penduradas na parte de cima, além de jardins embaixo (veja vídeo no alto).
Entretanto, a proposta anunciada pelo vice-prefeito, Mello Araújo (PL), é bem diferente do modelo citado pelo prefeito.
O bolsão a ser criado vai do número 20 ao 482 da Rua Amaral Gurgel e tem cerca de 500 metros de extensão (foto abaixo).
Trecho na Rua Amaral Gurgel, em São Paulo
Reprodução/Google Street View
Um parecer da Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) aponta que a implantação das vagas no local é possível mediante três alterações:
Adoção de vagas lineares, pois a ocupação da vaga a 45° (diagonal) não permitirá manter a ciclovia e trazer riscos à segurança no momento em que o motorista fizer manobras de saída;
A alteração da ciclovia para bidirecional nos trechos entre os pilares, preservando a circulação de ciclistas nas extremidades das quadras;
Implantação de gradis nos pontos de curvas para segurança de ciclistas e pedestres.
Argumentos pró e contra
As obras têm sido alvo de muitas críticas de especialistas e parlamentares de oposição ao prefeito na Câmara Municipal.
Abaixo, veja o que dizem a Prefeitura de SP e urbanistas sobre o estacionamento sob o Minhocão:
Argumentos da Prefeitura de SP:
O projeto será implantado inicialmente de forma experimental em somente um trecho para a sua viabilidade ser avaliada.
A ciclovia que já existe no local será mantida, sendo que alguns ajustes serão feitos para adequação à nova geometria.
Segundo o prefeito, o objetivo é deixar a área mais funcional.
Nunes também pretende fazer jardins na parte de baixo e colocar plantas ornamentais na de cima para deixar o Minhocão “mais bonito”.
Argumentos dos especialistas:
Proposta vai na contramão das legislações municipais e federais sobre mobilidade urbana ao não priorizar o transporte coletivo e estimular o transporte individual.
Há risco de piorar o trânsito na região, já que prevê parada de carros na faixa da esquerda.
Reduzirá o espaço destinado à ciclovia, que hoje tem duas faixas e passará a ser unidirecional.
Se o bolsão de estacionamento for expandido até a Avenida São João, atrapalhará o corredor de ônibus, impactando milhões de pessoas para criar algumas dezenas de vagas.
Prefeitura não informou se houve estudo de viabilidade nem o apresentou.
Especialistas ressaltam que não houve nenhum debate com a sociedade.
Prefeitura de SP inicia obras para criar estacionamento debaixo do Minhocão
Impacto
Segundo Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana, o avanço do projeto foi recebido com espanto e aponta que milhões de pessoas serão impactadas direta e indiretamente:
A obra vai na contramão do que a cidade precisa para a mobilidade urbana, que é priorizar o transporte coletivo e ativo e desestimular o transporte individual. Vai piorar o trânsito na região, porque vai ter parada de veículo na faixa da esquerda.
Ele pondera ainda que, se for expandida para a Avenida São João, haverá impacto na circulação dos ônibus na região.
“Vai destruir o corredor de ônibus, que é superimportante para toda a região da Zona Oeste, de Pirituba, de Brasilândia. Vai impactar milhões de pessoas para criar, no máximo, 20, 30 vagas. Completamente equivocada, sem propósito, sem planejamento, sem diálogo, não passou por nenhum dos conselhos. É assustador que esteja avançando um projeto assim”, destacou.
O vereador Nabil Bonduki (PT) disse que acionou a Justiça para que as obras sejam paralisadas.
“Eu e a vereadora Renata Falzoni (PSB) entramos com uma Ação Popular contra a prefeitura para parar as obras do estacionamento sob o Minhocão. Na manhã desta segunda-feira, as máquinas começaram a quebrar as calçadas sem qualquer debate público, planejamento, avaliação técnica ou estudo sobre a drenagem do local – por que tanta pressa, coronel Mello de Araújo?”, questionou.
Nabil, que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, diz que o projeto contraria os princípios de mobilidade urbana da Lei Federal e do Plano Diretor porque incentiva o uso do carro.
“Para completar, o problema que o vice-prefeito quer maquiar – das pessoas em situação de rua no local – continuará, porque ainda sobrará espaço a ser ocupado. Reitero a necessidade de investir em políticas públicas de saúde mental e habitação para uma vida digna”, completou o vereador.
O que diz a prefeitura
A prefeitura não respondeu se houve estudo prévio de viabilidade da obra, quando o projeto ficará pronto, qual será a capacidade de veículos e quais as regras de utilização do bolsão.
“A ciclovia que já existe no local será mantida, sendo que alguns ajustes serão feitos para adequação à nova geometria. O projeto experimental conta com desenvolvimento da CET e implantação da Secretaria Municipal das Subprefeituras”, afirmou em nota a gestão municipal.
Abaixo, veja a íntegra da nota da prefeitura:
“A Prefeitura de São Paulo informa que o projeto de um bolsão de estacionamento será implantado inicialmente de forma experimental em somente um trecho sob o viaduto (Minhocão) para avaliação de viabilidade.
Importante ressaltar que a ciclovia que já existe no local será mantida, sendo que alguns ajustes serão feitos para adequação à nova geometria.
O projeto experimental conta com desenvolvimento da CET e implantação da Secretaria Municipal das Subprefeituras.”
Prefeitura de São Paulo inicia obras na parte de baixo do elevado João Goulart, o Minhocão, nesta segunda (28).
Reprodução
Prefeitura de São Paulo inicia obras na parte de baixo do elevado João Goulart, o Minhocão, nesta segunda (28).
Reprodução
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