Você já deve ter circulado por Belém e se deparado com sacas de caroços de açaí ou mesmo restos de podas de árvores à espera do caminhão de coleta de resíduos sólidos para o devido descarte. Isso, quando não acontece deste material ser jogado de maneira irregular pelas vias, colocando em risco a passagem de veículos e pedestres. O problema, no que depender de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), está prestes a ser solucionado com um ‘plus’: ajudando no desenvolvimento sustentável do agronegócio. É a pesquisa Uso do Biochá na Produtividade Agrícola.O engenheiro agrônomo Cândido Ferreira Neto coordena o estudo que tem sido feito há dois anos e meio. “É um projeto que visa utilizar esses resíduos que nós temos em grande quantidade na nossa região, como caroço de açaí, castanha do Pará, restos de materiais como folhas, caules, restos de poda. Estamos usando vários tipos de resíduos e transformando em biocarvão ou biochá”, explica. O pesquisador conta que essa transformação ocorre por meio de técnicas de queima, a chamada pirólise, onde se observa a temperatura e o tempo de queima ideal. “Esse material tem várias utilidades que a gente já vem trabalhando, colocando em solo para melhorar a estrutura dele”.Leia mais:Caroço de açaí é usado para fazer sabonetes e cosméticosReutilização do caroço de açaí é fonte de renda no ParáNeste trabalho com o solo é que entram as culturas agrícolas, como milho, feijão, alface, jambu e coentro. “Estamos fazendo as experiências em níveis, várias doses, aplicações de concentrações diferentes do biochá em solo para ver qual a concentração melhor e ver a produtividade desses vegetais”, pontua Neto. “Já vimos que o biochá tem uma grande capacidade: ele consegue reter muito bem a água. Então, essa retenção de água já tem uma situação de diminuir a deficiência hídrica. Em solos que, em épocas menos pluviométricas, menos chuvosas, você incorpora o produto e esse solo tem uma capacidade maior de reter essa água”, destaca.“Então, esses vegetais vão sofrer menos com a falta de água no solo. Além disso, quimicamente, já observamos que o biocarvão tem nutrientes essenciais para a planta. Ao mesmo tempo, ele tem a qualidade de fornecer nutrientes no solo, que vai melhorar o crescimento e o desenvolvimento dessas plantas”, cita Cândido Neto. “Isso diminui também o potencial de adubação. Muitas vezes, alguns nutrientes não precisam ser adubados, porque eles já fornecem gradativamente alguns nutrientes para esse solo. Tanto que o nosso resultado vem mostrando essa melhoria e esse crescimento dessas plantas quando a gente aplica esse biochá”, afirma.Quer ler mais notícias do Pará? Acesse o nosso canal no WhatsApp!SUSTENTABILIDADEO reaproveitamento dos resíduos contempla a preservação ambiental. “Você vê quantas toneladas de caroço de açaí são jogadas por dia no lixo? Estamos convertendo ele em uma utilidade dentro da agricultura para recuperar também o solo, porque ele vai ter uma matéria orgânica específica. Além do que, ele também ajuda a diminuir a perda de carbono. Sequestro de carbono. Esse material retém carbono estável por mais tempo no solo, então, como a gente está querendo diminuir esse CO2 na atmosfera por causa do efeito estufa, a utilização dele também no solo demora mais a liberar esse carbono para a atmosfera”, explica. “Estamos utilizando um material que iria pro lixo para melhorar a produtividade agrícola de vários vegetais, diminuindo a liberação de gás carbônico para a atmosfera e o carvão, quando aplicado no solo, melhora não só a fertilidade, mas também seu pH”, lista.Cândido Neto frisa que essa correção do solo se dá porque a maior parte do solo paraense é ácido. “O biochá melhora consideravelmente o pH do solo. Isso é importantíssimo. Um pH muito ácido compromete o crescimento das raízes dessas plantas, que ajudam na absorção de água e nutrientes. O pH ácido faz com que muitos dos nutrientes que estão no solo, a planta não absorva”.Essa característica apontada pela pesquisa ajuda a reduzir o processo de calagem, que corrige o pH do solo e tem um custo elevado para os agricultores. “Com esse biochá, você pode fazer essa calagem temporariamente ou diminuir a quantidade dela”.O estudo envolve vários profissionais e acadêmicos do curso de Agronomia da Ufra e abrange, a partir de agora, profissionais envolvidos com florestas e fruticultura, que também passarão pela experiência com o biocarvão. “Vamos trabalhar com as frutas e florestas também para o crescimento melhor dessa produção de mudas, crescimento e produção de frutíferas. Em breve, vamos começar a testar junto aos produtores”.
Caroço do açaí pode melhorar solo agrícola
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