Usados como ferramentaspara alcançar resultados rápidos, cada vez mais medicamentos desenvolvidos para fins médicos têm entradona rotina de quem frequenta academia, enquanto especialistas alertam para osriscos do uso indiscriminado dessas substâncias. Há Alguns anos a promessa deacelerar o metabolismo e aqueima de calorias fez os termogênicos ganharem holofotes, assim como os anti-inflamatórios e o alívio quedão aos músculos. O medicamento da vez é atadalafila, que trata disfunção erétil e tem sido exaltada por sua ação vasodilatadora, supostamente melhorando a vascularização edesempenho físico. “Não existe respaldo científico para o uso da tadalafilacomo pré-treino”, afirma omédico urologista e doutorpela Universidade de SãoPaulo, André Costa Matos.Existem explicações que poderiam falar, justamente,contra esse benefício, como odesvio do fluxo de sangue para locais que não são importantes nos exercícios físicos. “O uso sem indicação podecausar efeitos colaterais comocongestão nasal, cefaléia,azia,dores musculares e descolamento de retina. Também Nãose conhece os efeitos de longoprazo em jovens com intuitoesportivo, pois a droga não foiestudada com essa finalidade”, reforça. O urologista aponta aindaque as pessoas podem desenvolver tolerância ao usoda medicação e perder o benefício eventual.“A tadalafila é um inibidorda enzima fosfodiesterase tipo 5 e atua relaxando a musculatura lisa, presente nos vasos sanguíneos, próstata e pênis, por isso é indicado paratratamento de hipertensãopulmonar, obstrução da bexiga pelo aumento benigno dapróstata disfunção erétil. Poresse motivo vem aumentandoa crença que essa substânciapode aumentar a capacidadepulmonar e a performancemuscular”, explica. Existe a possibilidade deefeitos colaterais mais gravesem pacientes com insuficiência cardíaca ou que usam nitratos, porém, de uma maneira geral, a droga parece serrelativamente segura, completa o médico. Mas pode serdinheiro jogado fora”, diz André Costa Matos. O advogado Tercio RobertoPeixoto Souza sempre teveuma vida ativa e práticasmais diversas atividades físicas – do baba de final de semana a maratona–e confessa: “Achava que o ‘rendimento’ a que ela (Tadalafila) se propõeera outro”, comenta. Apesardo humor, Tercio aponta a seriedade da situação. “A automedicação é arriscada. Quem busca bem-estare longevidade precisa de umcaminho sustentável. O quesei é que alguns medicamentos têm o potencial de atrapalhar a performance e mesmo alterar o metabolismo demodo a favorecer lesões”,afirma o advogado, que é aluno do Studio de TreinamentoDesportivo (STD).Efeitos preocupantes Um dos proprietários do STD, o profissional de educação física especializad oem treinamento desportivo. Carlos Albuquerque (Chokito) recorda que entre 2023 e 2024 houve uma febre do uso de insulina (usada no tratamento de diabetes e casos de obesidade mórbida) de forma desnecessária. “Além dos efeitos colaterais, tivemos alunos que tiveram efeito rebote: voltaram a aumentar de peso até2x mais que tinha antesda administração do medicamento”, relata ele. Chokito conta que já atendeu alunos que usarampré-treinos à base de cafeína,taurina e outros estimulantes,que geraram cefaléia, enjôo ecrises de ansiedade. “Não precisamos de estimulantes, precisamos deuma alimentação equilibrada e do estímulo certo dosexercícios para gerar efeitosvasodilatadores, adrenérgicos, e reparadores para onosso corpo. Esses estimulantes e medicamentos sãoaltamente prejudiciais àsaúde e podem, inclusive,ser fatais. Infelizmente ouso indiscriminado é crescente”, lamenta. Em todos esses casos, aorientação do profissionalde educação física é a mesma: parar o uso imediatamente. “E procure um endocrinologista e um profissional da nutrição para atrelar um planejamento direcionado à demanda e necessidade do seu organismo”, aconselha Chokito. No caso do operador deprocessos químicos LucasLeonídio Clímaco dos Santos, o único medicamentoque usou foi o anti-inflamatório depois de um treinomais intenso. “A princípio eu buscava nacorrida a perda de peso.Quando fui conhecendomais sobre o esporte, percebi que a perda de peso sóé uma das consequênciaspositivas. Se está sentindoincômodo pela atividade física, busque um acompanhamento com um profissional e ele irá passar o medicamento correto. Jamaisse automedique”, alerta. Saúde física e mental “O culto ao corpo perfeitosempre existiu e sua maiorconsequência é aceitar eacreditar em intervençõesabsurdas e não saudáveis”,alerta a nutricionista Caroline Costa. O uso indiscriminado de anabolizantes,canetas emagrecedoras, suplementos vendidos por influenciadores “é o que maisme assusta como profissional de saúde”,desabafa a nutricionista. Já a psicóloga clínica da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Paula ReginaNascimento Carvalho destaca o perigo por trás na buscapor aceitação que serve debase para hábitos perigosos.“Observamos que muitosdesses comportamentos sãoimpulsionados por pensamentos disfuncionais, como:’só serei aceito se meu corpofor assim’ ou ‘meu valor estáno meu corpo’”, explica. Hoje, explica a nutricionista Caroline Santos Costa, 90%de seus pacientes chegamcom a intenção de melhorara saúde e ter uma longevidade saudável, mas a parcelados 10% ainda acredita emsuplementos milagrosos,dietas da moda e medicaçãodesregrada. Ela ressalta quehá muitos conteúdos corretos e responsáveis sendo divulgados. “Abuscapelasaúdetem crescido. Hoje muito sefala sobre longevidade, saúdeintestinal, equilíbrio vital e aimportância da massa muscular além da estética, e comisso vamos conscientizando apopulação”, completa. .
Especialistas alertam sobre o mau uso de substâncias em atividades físicas
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