Costura é tendência entre a Geração Z; conheça produtores potiguares

Na contramão da lógica fast fashion, um movimento de retorno às práticas artesanais tem ganhado força entre jovens da Geração Z, faixa etária que compreende pessoas nascidas entre 1995 e 2010. Em Natal e região metropolitana, um novo fôlego da moda autoral vem sendo costurado por mãos que desafiam tendências globais com identidade, propósito e um toque de rebeldia.

O viral que começou como passatempo durante a pandemia se transformou em fonte de renda, expressão artística e até manifesto político. Entre agulhas, linhas e máquinas herdadas de avós, jovens potiguares têm usado a costura como ferramenta para reconstruir narrativas e costurar futuros mais sustentáveis.

Escolas de corte e costura em Natal confirmam que a procura por cursos na área aumentou significativamente nos últimos anos, impulsionada pelo interesse crescente na moda. No entanto, apesar da alta demanda inicial, muitas pessoas acabam não efetivando a matrícula. De acordo com profissionais do setor, esse movimento pode estar relacionado à popularização de tutoriais gratuitos em redes sociais e plataformas de vídeo.

Plataformas como TikTok e Instagram e Youtube têm impulsionado a cultura do did it yourself (DIY), “faça você mesmo”, na tradução livre, tornando a costura mais acessível e descomplicada. Vídeos curtos que apresentam transformações de roupas, truques de modelagem e ajustes criativos alcançam milhões de visualizações, inspirando um número crescente de pessoas a se aventurarem na arte de costurar, sem a necessidade de conhecimentos técnicos aprofundados.

Conheça jovens produtores de moda potiguares:

Moda de Cajju

Moda de Cajju começou ainda na infância de Giovanne Rodrigues, produtor de moda que, entre os 11 e 12 anos, já rabiscava vestidos e sonhava em ser estilista. Inspirado pela avó costureira e pela mãe empreendedora, ele deu os primeiros passos produzindo bolsas simples, que logo evoluíram para ecobags pintadas à mão. Sem formação formal em moda, Cajju aprendeu tudo de forma autodidata, adaptando ferramentas e materiais acessíveis à sua realidade, e consolidou uma marca autoral que exalta a estética das praias, a ancestralidade e a criatividade nascida da periferia. “Minha vida foi trabalhando para sobreviver, e isso me fez valorizar o que eu podia criar com o que estava ao meu alcance”, conta.

Cajju é um artista autodidata e produz todas suas peças em casa. | Foto: CLEO

Hoje, a produção da “Moda de Cajju” é marcada pelo cuidado artesanal, com peças únicas, pintadas à mão e criadas com materiais reaproveitados, como redes de pesca e moldes improvisados. Integrante da comunidade Ballroom potiguar, Cajju expandiu sua atuação com desfiles, parcerias com bandas de reggae e coleções que misturam a sofisticação da alta costura com a vivência das ruas. Sua moda é uma extensão de sua história — afetiva, política e criativa — e seu sonho é levar essa narrativa para além das fronteiras do RN, com coleções de upcycling e uma loja física em Pipa.

LMX

A produção de moda potiguar de Lucas Matheus teve um início em 2016, quando ainda cursava Design na UFRN. Durante uma disciplina sobre movimentos artísticos, ele escolheu o Glam Rock como tema e decidiu criar seu primeiro vestido inspirado nesse estilo. Embora o curso não fosse voltado à moda, Lucas aproveitou a oportunidade para se aventurar na área, aplicando o que aprendia na matéria de desenho de moda no setor têxtil. Com a ajuda de uma costureira vizinha, ele confeccionou a peça do zero, desenvolvendo o modelo, criando o croqui e escolhendo os materiais. Ele lembra: “Foi minha primeira vez indo a uma costureira, minha primeira vez fazendo do zero uma peça de roupa. Quando vi ela pronta, foi uma experiência revolucionária na minha vida”. A experiência foi transformadora para Lucas, que, pela primeira vez, percebeu que era possível criar uma peça de roupa em sua própria cidade, desmistificando a ideia de que a moda só poderia ser produzida em grandes centros como São Paulo ou Paris. “Entender que a moda existia e se fazia ali no meu bairro, em Natal, no nordeste, foi um divisor de águas na minha vida.”

O vestido pronto foi fotografado por uma amiga e utilizado como parte de seu projeto acadêmico, o qual recebeu nota máxima. Lucas afirma: “Ali vi que era aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida, criar e contar histórias através do poder do tecido, da modelagem, da costura, da imagem”. Desde então, ele nunca mais parou de criar e produzir, encontrando na moda uma forma de expressão e comunicação com o mundo. Hoje, Lucas tem sua própria marca de roupas que funciona sob demanda, a LMX, que já vestiu artistas e bailarinos para festivais populares como o MADA.

LMX tem a proposta de ser uma produção slow fashion | Foto: Marcelo Moreira

Novos produtores

Adauto Júnior, consultor comercial de uma escola de inglês, adquiriu sua primeira máquina de costura no último mês, motivado pelos vídeos criativos que surgiam em sua página “Pra você” no TikTok. Embora o interesse pela costura tenha surgido há anos, inspirado pelas mulheres de sua família que sempre dominaram a arte, foi só agora, na fase adulta, que ele conseguiu investir em uma máquina e colocar seus sonhos em prática. “Tudo o que sei até agora sobre o manuseio da máquina e a confecção das peças aprendi pelas redes sociais”, revela Adauto, que ainda se mostra incerto sobre a ideia de comercializar ou não suas produções. Seu trabalho reflete uma nova geração de criadores, que, impulsionados pela acessibilidade das plataformas digitais, descobrem e desenvolvem suas habilidades de forma autônoma, explorando o universo da moda de maneira pessoal e criativa.

Costurar, nesse contexto, é mais do que um ato técnico: é gesto de criação, de reconstrução e de liberdade. E entre linhas, memes e likes, a Gen Z potiguar mostra que sabe, sim, costurar o futuro – à mão e com muita autencidade.

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