
Especialista de Sorocaba (SP) explica que conteúdos ASMR causam sensações de relaxamento e conforto para algumas pessoas. Influenciadora de Jundiaí (SP) faz vídeos experimentando temakis crocantes e acumula milhares de visualizações e curtidas. Vídeos satisfatórios de ASMR podem causar relaxamento e ajudar a ‘pegar no sono’, de acordo com neuropsicóloga de Sorocaba (SP)
satisfying.coloring.asmr/Tik Tok
Ter o feed das redes socias invadido por um vídeo com a hashtag “ASMR” já se tornou algo corriqueiro. Mas você já se perguntou o que essa sigla significa? Para responder a esta pergunta e entender o motivo destes vídeos serem tão populares entre os internautas, o g1 conversou com uma neuropsicóloga, que explicou que consumir estes conteúdos pode trazer benefícios terapêuticos.
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ASMR é uma sigla do termo em inglês Autonomous Sensory Meridian Response, que pode ser traduzido como resposta sensorial autônoma dos meridianos. Os vídeos com essa hashtag normalmente são produções com algum tipo de ação considerada satisfatória pelos usuários, que é apreciada visualmente ou por meio do áudio.
Pode ser um vídeo de alguém cortando sabonetes, limpando algo, amassando um objeto, mastigando, contando uma história sussurrando, batendo as unhas em superfícies diferentes e, até mesmo, espremendo cravos e espinhas.
Vídeos satisfatórios de ASMR podem trazer benefícios terapêuticos, segundo neuropsicóloga de Sorocaba (SP)
soapsoul.asmr/Tik Tok
“Hoje, o ASMR promove as sensações mediante os vídeos que temos acompanhado na internet. Essas sensações, entre sussurros, sons, toques leves, escovação de cabelo, acabam prendendo muito a atenção de quem está ali ‘linkado’ ao vídeo. Isso acontece porque a gente tem uma ativação do sistema nervoso autônomo, sensações sem controle consciente, ou seja, você está assistindo ao vídeo, você não tem controle sobre aquilo que você está visualizando e ouvindo”, explicou Andrielle Conceição de Carvalho Viana, neuropsicóloga de Sorocaba (SP).
Segundo Andrielle, os vídeos ativam o sistema parassimpático do nosso corpo, que é responsável pelo relaxamento após uma sensação estressante ou perigosa, além de auxiliar na gestão do sono. O consumo deste conteúdo permite a sensibilização do circuito de recompensa e acaba “viciando” o cérebro em estímulos suaves para sentir prazer.
Vídeos ASMR também consistem em unhas tocando superfícies
jociebasmr/Tik Tok
A profissional também pontua que estes estímulos alteram a sensibilidade natural à dopamina, o neurotransmissor que está ligado à sensação de prazer e motivação. Outra área do cérebro afetada por estes vídeos é o córtex somatossensorial, que causa a sensação de formigamento, como se sentíssemos um “toque” ou cócegas, mas virtual.
Conforme a especialista, os neurotransmissores envolvidos nessa condição são a dopamina, que traz o prazer e a recompensa; a serotonina, que regula o humor; a ocitocina, de sensação de vínculo e cuidado; e a endorfina, que é o relaxamento e alívio de dor.
“Nesse conteúdo, se a gente olhar para o aspecto neurocientífico, a gente tem essas respostas sensoriais involuntárias, geradas por estímulos suaves que ativam áreas específicas do cérebro, ligadas a uma percepção sensorial. Elas promovem a liberação de neurotransmissores que induzem à calma, ao prazer, ao sono, especificamente através da ativação do sistema nervoso parassimpático”, descreve.
Andrielle Conceição de Carvalho Viana, neuropsicóloga de Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Experimentando temakis 🍣
A influenciadora digital Gabriela Coghetto, de Jundiaí (SP), produz conteúdos para o nicho do ASMR. Nas produções, ela come diferentes comidas e compartilha suas impressões com os seguidores. Seu principal ASMR é o de comer temakis fritos depois de passar um batom. Ela já acumulou mais de cinco milhões de curtidas no TikTok com suas gravações.
Influenciadora digital de Jundiaí faz vídeos com conteúdo ASMR
“Iniciei na internet em 2023 com vídeos de reviews de gastronomia e, em 2024, tive a ideia de trazer o ASMR para o meu estilo de publicidade, mais especificamente para os vídeos experimentando temakis. Eu sempre quis trabalhar com a internet e não sabia como começar, então, por influência do meu irmão, tomei coragem e iniciei no Instagram e TikTok, com foco na gastronomia”, contou a jovem.
Em seus vídeos, Gabiela experimenta comidas aleatórias de restaurantes para os quais está fazendo publicidade ou que simplesmente teve curiosidade em provar. Todo o momento de preparação do vídeo, desde o passar do gloss até a abertura do pacote e a degustação, são gravados no estilo ASMR, com as unhas tocando as embalagens e a textura dos alimentos. Assista a alguns dos vídeos dela acima.
“Muitas pessoas gostam do vídeo apenas com ASMR, sem a minha opinião falada no meio, mas muita gente também gosta quando falo sobre alguma comida, textura, como veio, o que eu achei. É bem legal, porque as pessoas participam bastante”, disse.
Gabriela Coghetto, de Jundiaí (SP), faz vídeos com conteúdo ASMR
Reprodução/Instagram
A influenciadora também contou ao g1 que, em todos os seus vídeos, o áudio que registra a “crocância” dos temakis é captado apenas pelo seu celular, diferente da maioria dos outros produtores deste tipo de conteúdo, que usam microfones específicos para captar sons e detalhes de forma precisa.
“Nos vídeos, principalmente no carro, que é o meu cenário principal, eu utilizo apenas o microfone do próprio celular. Publico no Instagram e TikTok, mas com certeza o público do TikTok consome muito mais o conteúdo no estilo ASMR. Meu maior público são pessoas entre 25 e 35 anos”, declarou.
Gabriela Coghetto é influencidora digital de Jundiaí (SP)
Arquivo pessoal
Dia a dia ‘sem graça’
Apesar do alívio e relaxamento causados pelos conteúdos ASMR, a neuropsicóloga alerta que também existem resultados negativos vindos do consumo destes vídeos. Um deles é quando as pessoas passam a sentir menos prazer em outras atividades do dia a dia, além de ser um hábito que contribui para o isolamento social.
“O indivíduo que é exposto a um uso excessivo acaba buscando cada vez mais conteúdos e, aí, atividades da vida diária parecem não oferecer mais prazer. Um fator muito importante também, que a gente pode classificar como efeito a longo prazo, é a tolerância de sensibilização, porque, com o tempo, o cérebro começa a exigir estímulos mais intensos, mais longos ou mais específicos para gerar as mesmas respostas de prazer, o relaxamento”, pontuou.
Influenciador Gui Foneca faz vídeos ASMR com sua cachorrinha chamada Dirce
guiifonsca/Tik Tok
Outro fator destacado por Andrielle é o impacto na plasticidade cerebral, que consiste na capacidade do cérebro de se adaptar e se organizar em resposta às experiências e estímulos.
Segundo ela, ainda não há um consenso científico, mas o consumo excessivo e diário de vídeos ASMR pode influenciar na habilidade do cérebro de criar padrões, não necessariamente negativos, mas que, caso a pessoa se torne dependente, funções como dormir ou regular o humor serão reprogramadas a partir desta necessidade de ver vídeos.
“De um modo geral, o conteúdo não é totalmente prejudicial à saúde. Pode ser uma ferramenta legal, porque tem vários benefícios quando usada com equilíbrio, como a qualidade no sono, reduzir o critério da ansiedade, porque tem alguns conteúdos que conseguem ser trabalhados, como a questão da respiração, mas é necessário ter atenção, principalmente para o uso excessivo, não só para adultos, mas para crianças, que não têm maturidade para lidar com esse conteúdo”, finaliza.
Vídeo de ASMR com areia
sand.tagious/Tik Tok
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