Ministério da Justiça pede que PF apure caso de imigrante que morreu após passar mal em Aeroporto Internacional de SP


Evans Osei Wusu, de 39 anos, fazia parte do grupo que estava retido no aeroporto, em Guarulhos, à espera de refúgio. Ele morreu em decorrência de uma infecção generalizada e enfrentou dificuldades para conseguir auxílio, diz família. Evans Osei Wusu, de 39 anos, fazia parte do grupo que estava retido no Aeroporto Internacional de SP
Arquivo Pessoal

O Ministério da Justiça e da Segurança solicitou nesta terça-feira (10) que a Polícia Federal apure a morte do imigrante Evans Osei Wusu, de 39 anos, após passar mal no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Ele estava na área restrita à espera de refúgio no Brasil.
O g1 mostrou o caso de Evans na última quarta-feira (4). A família relatou à reportagem que descobriu que o corpo do ganês estava sepultado no cemitério municipal de Guarulhos sem concentimento e, por isso, pede justiça.
Os parentes também disseram que ele chegou a pedir ajuda e enfrentou dificuldade para receber auxílio (leia relato da prima mais abaixo). A certidão de óbito de Evans, à qual o g1 teve acesso, aponta que o ganense morreu de infecção generalizada, após um quadro inicial de infecção urinária.
Jean Keiji Uema, secretário Nacional de Justiça, encaminhou o pedido de apuração para a Diretoria de Polícia Administrativa da Polícia Federal. No documento, ele solicita “a adoção das providências necessárias à apuração dos fatos no âmbito das competências da Polícia Federal”.
Na última quarta-feira (4), a Polícia Federal afirmou à reportagem do g1 que não cabia investigação por parte do órgão, ressaltando que se houvesse apuração seria feita pela Polícia Civil.
“O fato ocorreu quando ele [Evans] ainda estava sob responsabilidade da companhia aérea, em razão do impedimento por ausência de visto para entrar no Brasil. E ainda que o óbito tivesse ocorrido em área restrita, a Polícia Civil possui credencial para apurar ocorrências neste local”, afirmou a PF, em nota.
E complementou: “Desta feita, não há nada que atraia a atuação da União, para o fato, o que seria diferente se tivesse ocorrido a bordo de uma aeronave. Adicionalmente o óbito em decorrência de problema cardíaco, já afasta qualquer atuação criminal”.
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A Polícia Civil instaurou inquérito na última sexta-feira (6) para investigar a morte de Evans. A investigação está sendo conduzida pela Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur).
“O caso inicialmente havia sido registrado como não-criminal, mas diante de novos fatos, a unidade reabriu as investigações. Diligências estão em andamento para recolher e analisar imagens de câmeras de segurança e promover a oitiva de testemunhas e partes do inquérito. A unidade segue à disposição da família ou de seu representante legal para a formalização dos trâmites legais”, afirmou a nota encaminhada pela Secretaria da Segurança Pública.
Anteriormente à abertura do inquérito na Civil, o g1 havia informado que o caso estava sendo tratado como jogo de empurra entre as autoridades responsáveis pela entrada de imigrantes no país.
Diante disso, a Defensoria Pública da União (DPU) abriu procedimento interno para apurar, e passou a acompanhar a família.
Na sexta (6), a Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados do Congresso Nacional enviou um ofício ao Ministério da Justiça pedindo informações sobre as circunstâncias da morte do imigrante.
O documento foi assinado pela senadora Mara Gabrilli, pelo deputado Túlio Gadelha e pelo senador Paulo Paim.
O Ministério Público Federal também abriu na sexta-feira (6) uma notícia de fato sobre a morte. Em 30 dias, o órgão decidirá se será instaurada investigação ou se será arquivada.
Vídeo mostra últimos momentos de Evans
Veja momento em que imigrante de Gana é atendido no Aeroporto de SP dias antes de morrer
Vídeos obtidos com exclusividade pela TV Globo e g1 mostram o momento em que o imigrante Evans Osei Wusu, de 39 anos, foi atendido por uma equipe de saúde e levado a um hospital.
As imagens são do dia 11 de agosto. Nelas, é possível ver Evans sentado sem camisa na área restrita para imigrantes, quando funcionários da saúde chegam ao local e vão em sua direção (veja acima).
Um grupo de imigrantes, ao ver a equipe, fica ao redor dos profissionais e fala com eles. O diálogo não é possível ouvir. Na sequência, os funcionários colocam Evans em uma cadeira de rodas e saem da área restrita com ele (veja acima).
O imigrante foi levado até o Hospital Geral de Guarulhos. A morte foi registrada no dia 13 de agosto, dois dias depois de se internar.
Evans Wusu recebendo atendimento médico no dia 11 de agosto no Aeroporto de SP
Reprodução
A GRU Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos, questionada se iria abrir apuração sobre as circustâncias que se deram a morte de Evans disse, em nota, “que os passageiros que aguardam o processo de admissão no país pela Polícia Federal ficam sob os cuidados das Companhias Aéreas até a sua conclusão”.
Informou ainda, que, “no dia 11/08, a equipe de atendimento a urgências/emergências do Aeroporto, ao ser acionada, imediatamente providenciou atendimento e encaminhamento do passageiro ao Hospital Geral de Guarulhos”.
A companhia aérea Latam disse que “lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com os familiares do passageiro Evans Osei Wusu”.
“A companhia acompanhou o atendimento médico prestado ao passageiro pelo Hospital Geral de Guarulhos, e realizou o contato com as autoridades de Gana e do Brasil após a confirmação do óbito. No aeroporto de Guarulhos, a LATAM está oferecendo assistência aos passageiros que embarcaram em seus voos e solicitaram refúgio no Brasil. Em paralelo, a companhia tem dialogado com as autoridades brasileiras no aguardo de uma definição para esta situação”, finaliza a nota.
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Inicialmente, a Prefeitura de Guarulhos disse à reportagem que não tinha informações sobre o caso. Já na segunda nota enviada ao g1, a gestão municipal informou que “atuou somente como contratada para realizar o sepultamento do sr. Evans Osei Wusu pelo Hospital Geral de Guarulhos, que é estadual”.
“Diante do estado de deterioração do corpo e da falta de retorno da família à respectiva embaixada, providenciou toda a documentação para o enterro, por sua vez liberado pelo IML, também sob responsabilidade do governo estadual”, afirmou o texto.
A Secretaria da Saúde estadual informou, também em nota, que “o Hospital Geral de Guarulhos, após constatar o óbito, comunicou às autoridades competentes, incluindo o Consulado e a Embaixada de Gana, para que a família do paciente fosse devidamente informada sobre o falecimento e orientada quanto aos procedimentos para o sepultamento”.
“No entanto, diante da ausência de resposta após 16 dias e com o corpo apresentando sinais de deterioração, o serviço funerário municipal foi acionado, e os procedimentos necessários para garantir um enterro digno ao paciente foram adotados.”
Entenda a morte de Evans
Evans Wusu enquanto estava retido no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos
Arquivo Pessoal
Ao g1, uma prima de Evans, Priscilla Osei Wusu, explicou que ele chegou ao aeroporto em 4 de agosto, depois de ter sido deportado do México em 2 de agosto. Segundo ela, Evans havia embarcado em Gana e deveria fazer uma cirurgia na coluna em território mexicano.
“Não sei o motivo de ele não ter conseguido entrar no México. Até o médico que deveria operá-lo conversou com a imigração e pediu que o acompanhassem ao hospital. Nós até pagamos o hotel dele naquela noite. [Evans] Voltou para São Paulo e ficou retido após pedir refúgio para ir a um hospital. Ele queria que as autoridades [brasileiras] o mandassem [de volta] para lá”, disse Priscilla.
A rota original previa que, após a cirurgia, Evans deveria pegar um voo que fizesse conexões no Brasil e no Catar antes de, finalmente, retornar a Gana. Mas, ao chegar a Guarulhos, ele decidiu tentar entrar em território brasileiro para ser encaminhado a um hospital daqui. Segundo a família, Evans disse que não teria condições de saúde para retornar ao seu país sem ser atendido.
Imigrante que morreu após passar mal no Aeroporto de SP tentou pedir ajuda e foi enterrado no Brasil sem autorização, diz família
Priscilla relata que, na segunda semana de agosto, ainda retido no terminal de Guarulhos, o primo passou a encaminhar mensagens a um tio informando que estava com muita dor e precisava ir ao hospital urgentemente. Ele afirmou também que só foi atendido após outros imigrantes terem se manifestado para que houvesse algum auxílio.
O g1 teve acesso a essas mensagens (veja abaixo). Em um áudio, Evans reclamou que estava sentindo uma dor no peito e que não entendiam o que ele estava falando.
“Preciso urgentemente de sua ajuda. Estou com uma dor insuportável na coluna, viajei de Gana para o México para fazer uma cirurgia, mas infelizmente não fui internado, não sei o motivo. Estou humildemente solicitando uma cirurgia urgente na coluna aqui no Brasil, tenho dinheiro para pagar. Não posso viajar com segurança de volta para Gana por causa da minha condição”, afirmou ele.
E complementou: “Paguei por uma passagem de classe executiva de Gana para o México porque a econômica não era segura para mim. Meu retorno é em classe econômica porque sei que estarei forte e saudável após a cirurgia. Minha situação agora não me permitiria voar com segurança na econômica para Gana e minha dor está ficando insuportável. Por favor, me ajude a marcar uma consulta aqui no Brasil para minha cirurgia na coluna. Obrigado. É isso que devo apresentar a eles”.
A certidão de óbito de Evans, à qual o g1 teve acesso, aponta que o ganense morreu de infecção generalizada, após um quadro inicial de infecção urinária. Como endereço, aparece apenas “Aeroporto de Guarulhos”. Evans foi enterrado no Cemitério Necrópole do Campo Santo, que é municipal.
Mensagem enviada por imigrante Evans para a família
Arquivo Pessoal
Conforme o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a morte do imigrante foi registrada em 13 de agosto no Hospital Geral de Guarulhos. No entanto, a família alega que enterraram o corpo sem que fossem avisados.
“Como o hospital pode ter enterrado meu primo sem o consentimento da família? Como puderam fazer isso? Para nós, isso não é algo trivial. Nós temos que prestar uma homenagem aos mortos, é algo muito importante e sério em nossa cultura”, diz Priscilla.

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