Psicólogo e torcedores reprovam vaias ao time durante a partida

Sair de casa, ficar exposto ao sol ou chuva, pagar ingresso caro, criar expectativas e, muitas vezes, não ver o time corresponder em campo, pode ser um gatilho para alguns torcedores expressarem com vaias, ainda durante a partida, as frustrações. Para tentar entender como e porquê isso acontece, o PORTAL A TARDE ouviu torcedores da dupla BaVi e o psicólogo e médico do esporte Victor Soragi. Ambos são enfáticos e afirmam que essa atitude, além de prejudicar o time, fortalece o adversário.Dentre vários outros fatores, o futebol é o esporte mais popular do mundo por ser tão imprevisível e emocionante. Mesmo com times com a folha salarial milionária, não é raro ver clubes com poder aquisitivo menor vencer esses duelos. Mesmo assim, há quem acredite que futebol tem lógica, que o melhor time, diga-se mais rico, sempre vencerá.

Eduardo Seixas, torcedor do E.C Bahia, disse ser contra vaiar o time durante a partida

|  Foto: Acervo pessoal

Eduardo Seixas, torcedor do E.C Bahia, disse ser contra vaiar o time durante a partida. “Sou terminantemente contra, enquanto o jogo não acabar, a torcida vaiar. Porque isso cria um problema, cria uma dificuldade. Em vez de ajudar, dificulta, prejudica. Futebol não é só físico ou estratégico é, também, psicológico. E quando os jogadores recebem a vaia de quem deve apoiar, principalmente num jogo que ainda não terminou, só atrapalha, só cria um desconforto, só cria uma agonia, só cria uma pressa de tentar resolver logo e normalmente sempre dá errado”, opinou o torcedor do tricolor baiano.Seixas também falou que essa postura prejudica não só o time, mas todo o staff do clube. “Não vaio no intervalo ou em qualquer momento do jogo. A não ser no final se o resultado não for o esperado. Porque muitas vezes você joga bem e o resultado não vem. E muitas vezes, mesmo assim, o torcedor vaia. Não é o meu caso. Então, eu acho que isso é super prejudicial, só faz dificultar ainda mais o jogo. E isso abala os jogadores, a comissão técnica, abala todo mundo”, finalizou Eduardo.

Tácio disse ser contra vaias durante e depois do jogo.

|  Foto: Acervo pessoal

Já Tácio Oliveira da Silva Tambone, torcedor do E.C Vitória, é contra vaias durante e depois do jogo. “Respeito quem vaia, pelo simples fato de respeitar a conduta de cada um, mas se, por exemplo, em jogos como de ontem (quarta, 23), que o resultado não veio, eu simplesmente não vaio nem bato palmas, sigo meu caminho de volta para casa normalmente”, revelou o torcedor do Leão.

|  Foto: Acervo pessoal

Victor Soragi, psicólogo e médico do esporte, explica que a primeira coisa que as pessoas precisam entender, é que o rendimento do atleta não define caráter e que vaia não apaga o esforço.“O esporte, em especial o futebol, infelizmente, ainda carrega uma cultura que cobra perfeição, mas esquece que quem está ali, dentro das quatro linhas, é um ser humano. E é justamente por isso que trabalhar a saúde mental dos nossos atletas é prioridade”, explica Dr. VictorAinda segundo o especialista, não dá pra controlar a torcida, mas dá pra fortalecer quem está em campo. E isso passa por criar um ambiente de confiança, com acompanhamento psicológico, com escuta ativa e com apoio real“Não só quando o resultado vem, mas principalmente quando ele não vem. Porque são nesses momentos que o atleta precisa se lembrar de quem ele é e de tudo que o trouxe até ali. Acredito que investir em saúde mental é tão importante quanto investir em equipamento ou técnica. E mais do que isso: é essencial para formar seres humanos inteiros, que entendem que sua jornada vale mais do que qualquer aplauso ou vaia”, pondera o médico e psicólogo do esporte.Saúde mental no esporte: por que fortalecer a mente virou questão de performance

Simone Biles e Richarlyson tornaram pública a importância do apoio psicológico para manter o equilíbrio em meio à pressão e aos desafios da carreira

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A preparação física ainda é essencial, mas não basta: cada vez mais, a saúde mental é reconhecida como fator determinante para o desempenho de atletas de alto rendimento. Dados da PubMed Central apontam que a prevalência de depressão entre esportistas pode variar de 3,6% a 37%, dependendo da modalidade e do nível competitivo, enquanto quadros de ansiedade se tornam cada vez mais frequentes nesse universo.O tema, antes considerado tabu, ganhou espaço após declarações de grandes nomes do esporte, como o ex-jogador Richarlyson e a ginasta norte-americana Simone Biles, que tornaram pública a importância do apoio psicológico para manter o equilíbrio em meio à pressão e aos desafios da carreira. Essa mudança de mentalidade vem abrindo caminhos também entre jovens atletas brasileiros, especialmente nos esportes radicais, onde a adrenalina e a exigência emocional são constantes.Segundo Dr. Victor Soragi, a atuação da psicologia vai além do tratamento de crises: “Atletas com um bom suporte mental tendem a ser mais resilientes, manter a consistência nos treinos e lidar melhor com as frustrações, fatores determinantes para a alta performance a longo prazo”.Na prática, esse olhar para o emocional tem transformado a rotina de atletas como Andrey Toledo, jovem promessa do BMX Freestyle. “Com a ajuda da psicologia, aprendi a controlar minha ansiedade, lidar melhor com as derrotas e aprimorar meu desempenho. Isso fez toda a diferença na minha carreira”, conta.Toledo faz parte da Ursofrango, uma iniciativa brasileira que vem se destacando por acelerar talentos em esportes radicais e oferecer apoio técnico e psicológico aos atletas. A empresa, que também atua no segmento de streetwear, destina os lucros das vendas para financiar a carreira dos esportistas que representa. Fundada por Stefan Santille, a Ursofrango adota um modelo inédito no país ao integrar gestão de carreira, suporte emocional e visibilidade para atletas em início de jornada.“Entendemos que não basta treinar o corpo – é preciso fortalecer a mente. O psicológico é parte estratégica da preparação de um atleta, especialmente quando ele precisa lidar com expectativas, lesões, vitórias e derrotas. Nosso trabalho é garantir que esses jovens tenham estrutura para crescer de forma sustentável”, comenta Santille que também é atleta de snowboard.Com o avanço dessa conscientização, o cenário esportivo brasileiro passa a caminhar em sintonia com uma tendência global: a de que saúde mental é performance. Ao abandonar estigmas e investir no equilíbrio emocional dos atletas, o esporte não apenas humaniza suas trajetórias, mas também constrói caminhos mais sólidos para o alto rendimento.Sobre a UrsofrangoA Ursofrango, fundada por Stefan Santille, é um projeto focado em acelerar o desenvolviemento de atletas de modalidades radicais. A empresa reverte 100% do lucro da venda das peças de vestuário de produção própria aos atletas do time em forma de incentivo, manutenção de equipamentos e auxílio viagem. Inicialmente focada em vestuário, a Ursofrango identificou uma grande lacuna no processo de profissionalização dos esportes radicais no Brasil. De forma pioneira no país, implementou um formato de gestão de carreira, possibilitando que talentos tenham a oportunidade de progredir no esporte.

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