O humor e a fé foram essenciais na vida da atriz e humorista Heloisa Périssé, 58, durante sua luta contra um câncer raro nas glândulas salivares.A notícia de que a artista carioca estava curada veio em agosto, cinco anos depois do fim do tratamento inicial. Toda essa jornada pessoal de enfrentamento da doença pode ser conferida no livro “Cheia de Graça”. “Foi o momento de usar a fé que tive durante todo o tempo da minha existência. Não é fácil, é delicado. Mas também é o momento em que a gente tem a oportunidade de transcender e viver o sobrenatural. Sou muito religiosa. Não pelo lado do dogma. Hoje, digo que não tenho religião. Me autodenomino cristã”, conta ela, em bate-papo por telefone com A Tribuna. Já o humor sempre foi muito utilizado durante sua vida, não só em seu cotidiano, como também na profissão, marcada por trabalhos cômicos na televisão e no teatro. “Uma dose cavalar de humor foi importante nesse momento. O que é contrário a tudo que a gente passa, mas é o que a gente deve nesse momento procurar. No livro, falo da minha vida desde pequena, do fato do humor ser algo vivo em mim e como ele foi providencial”.Para aqueles que precisam de uma boa quantidade de graça, uma sugestão é conferir a comédia “Avesso do Avesso”, estrelada por Heloisa ao lado do ator Marcelo Serrado, também de 58 anos. No espetáculo inédito, que estará na capital capixaba domingo em três sessões, a dupla interpreta seis casais em situações inusitadas e surreais. “É a primeira vez que trabalhamos juntos no teatro. Conheço o Marcelo há mais de 30 anos, sempre fomos amigos. Ano passado fizemos o programa ‘Tem que Suar’ e tivemos a ideia da peça”, lembra. Há outros motivos para a artista celebrar ainda mais a vida. Ela volta às novelas em junho, como a vilã Zulma, de “Êta Mundo Melhor!” (Globo), e também tem visto as filhas brilharem profissionalmente. Ela é mãe da atriz e comediante Luisa, 25, e da atriz e cantora Antônia, a Tontom, 17. “Sou feliz porque elas estão felizes com as escolhas que fizeram. Não incentivo, nem desencorajo. Elas felizes é o que vale”. “Amo fazer peça em Vitória”A Tribuna – chega a Vitória com a peça “Avesso do Avesso”, no próximo domingo. Tem tempo que não vem ao Espírito Santo? Heloisa Périssé – A última vez que fui ao Espírito Santo acho que foi com o monólogo “A Iluminada”. Sempre levo todas as minhas peças para aí. A gente que faz peça pelo Brasil percebe que cada público tem sua característica e, para mim, aí tem o público mais carinhoso. É um estado muito acolhedor, querido, eu amo fazer peça em Vitória e estou muito ansiosa para chegar aí com mais um espetáculo e com esse grande colega de cena, o Doutor Peitão. (Risos) Estou muito animada para ir a Vitória. Pena que vai ser um bate e volta.Não deve ser moleza fazer três sessões no mesmo dia, né?A gente já fez três sessões em outros lugares. É puxadíssimo! Mas fazer o que, né? Tem demanda, a gente vai! (Risos)Interpretam seis casais em situações inusitadas e surreais. Como essas histórias chegaram até vocês? Vocês deram um direcionamento?Fomos esperando os textos chegarem. A gente só falou para os autores que tinham de ser textos sobre casais. E cada um foi mandando na paleta que quisesse. Definiria esses relacionamentos como tintas fortes.Tem espaço para mau humor numa viagem com duas pessoas que são craques na arte de fazer rir? Como é viajar com esse amigo?Eu amo. Fizemos cinco sessões lotadas em Salvador, fizemos Brasília, Niterói, Recife, ficamos em cartaz 3 meses no Shopping da Gávea. É uma delícia!É um espetáculo composto por várias esquetes. Já tinha estrelado um espetáculo nesse formato?Já tinha feito “Cócegas”, que também eram esquetes. Mas nunca tinha feito uma peça ao lado de um homem. E está sendo uma experiência maravilhosa.O foco da peça está nas relações entre esses casais, certo? Qual dessas seis histórias você mais se enxerga vivendo ou já viveu fora dos palcos?Eu acho que tem uma que todo mundo se enxerga. Uma que a mulher fala: “Eu te amo! Você é o homem da minha vida. Só queria te pedir uma coisa: para você não ser você”. E às vezes é o que a gente quer. (Risos)Onde você se sente mais à vontade: no teatro ou na televisão?Eu amo tudo. Acho que cada um tem sua particularidade, peculiaridade. São veículos tão diferentes. Amo os dois, amo o que faço!A novela “Êta Mundo Melhor” estreia em junho. O que pode adiantar dessa trama? E de sua personagem?Vou viver minha primeira vilã, que é uma dona do orfanato, a Zulma. Ela é uma crápula com as crianças, mas ela também tem um lado engraçado.É uma vilã parecida com o Doutor Peitão, de Marcelo Serrado, em “Beleza Fatal” (TV Tribuna/Band)? Pegou dicas com ele?Não peguei porque nossos vilões são muito diferentes. Não é a mesma paleta de vilania. Mas o vilão dele foi maravilhoso, foi só o que se falou no Brasil, né? A minha vilã vai ser mais “light”, digamos assim. Está ansiosa para voltar às novelas depois de quase 10 anos?Estava com saudade de fazer novela, sim. Fiquei muito tempo fazendo “Cine Holliúdy”, e agora volto para as novelas. Adoro fazer novela e o elenco é maravilhoso. O texto de Walcyr Carrasco é incrível. E a direção é de Amora Mautner, que foi a primeira pessoa com quem fiz novela. Estou muito feliz!Tem outros planos?A novela vai tomar bastante do meu tempo, então eu vou focar nisso.Vamos falar sobre o sucesso que Luisa, sua filha, está fazendo por conta da música “Trap do Trepa Trepa”? Sente que alcançou um novo público?Hoje eu sou a mãe da “trepa trepa”. Mas fico muito feliz. Ah, a Luisa vai lançar outra música agora. E, vamos ver, quem sabe ela não faz um show pelo Brasil todo cantando as doideiras dela? Porque a Luisa é doidinha! (Risos)Se vê nela e na Tontom, sua outra filha?Muito! A Luisa é minha versão 2.0. As duas são as minhas melhores versões, cada uma numa paleta diferente.
Heloisa Périssé com as filhas Tontom e Luisa: família de artistas.
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