A persistência do racismo estrutural no Brasil: reflexos no mercado de trabalho

O racismo estrutural é uma realidade que afeta o Brasil de maneira profunda, impactando principalmente o mercado de trabalho. Embora a população negra representa mais da metade dos brasileiros, ainda enfrenta dificuldades para acessar oportunidades, especialmente em cargos de liderança e em setores mais bem remunerados.

Sub-representação e desigualdades salariais

Segundo dados do IBGE, enquanto os negros compõem aproximadamente 56% da
população, eles ocupam apenas 30% dos cargos de gerência e menos de 5% dos postos de liderança nas maiores empresas do país. Além disso, o rendimento médio da população negra ainda é significativamente inferior ao da população branca — uma diferença que pode
ultrapassar 40% em funções semelhantes.

Preconceito na seleção de candidatos
O processo seletivo é uma das principais barreiras enfrentadas por candidatos negros. Muitos relatam que são preteridos ainda na fase inicial da seleção, seja pela cor da pele ou por estereótipos ligados a ela. “Eu fiz quatro entrevistas para uma vaga de recepcionista, e nas três primeiras, senti que fui descartada só pela minha aparência”, conta Renata Souza, de 27 anos, moradora da Zona Leste de São Paulo. “Na quarta tentativa, uma amiga branca indicou meu currículo sem foto, e aí consegui a vaga.”

Impacto das cotas raciais e iniciativas empresariais
As cotas raciais têm ampliado o acesso da população negra ao ensino superior e, gradualmente, ao mercado de trabalho qualificado. No entanto, especialistas apontam que as empresas precisam ir além, implementando políticas de inclusão que garantam a permanência e o crescimento desses profissionais. Empresas como Magazine Luiza e Bayer, por exemplo, já adotaram programas de trainee exclusivos para pessoas negras, uma forma de combater o histórico de desigualdades e promover uma maior diversidade no mercado corporativo.

Depoimentos de discriminação no ambiente de trabalho
Além das dificuldades para ingressar nas empresas, muitos trabalhadores negros convivem com situações de preconceito no dia a dia.
“Um colega me chamou de ‘escurinho da TI’ na frente de todo mundo”, relata Vinícius Oliveira, técnico em informática de 32 anos. “Eu sabia que era uma piada racista, mas não sabia como reagir sem parecer que estava ‘exagerando’.” Casos como o de Vinícius revelam que, além de políticas de inclusão, é essencial investir em treinamentos e campanhas educativas dentro das organizações para combater o racismo velado.

Entrevista com uma profissional que vivenciou o racismo no mercado de trabalho
Conversamos com Ana Paula Martins, auxiliar administrativa de uma empresa de logística em São Paulo.

Você já passou por situações de preconceito durante sua trajetória profissional?
“Sim, várias vezes. No meu primeiro emprego, percebi que sempre me colocavam nas funções que não envolviam contato direto com clientes. Certa vez, ouvi um colega dizendo que eu tinha ‘cara de que não inspira confiança’. Foi doloroso perceber que minha cor de
pele estava sendo um fator limitante.”
Como você lidou com essas situações?
“No começo, eu achava que precisava ignorar para manter meu emprego. Mas com o tempo, percebi que é importante se posicionar. Hoje, se vejo uma situação assim, busco conversar com a liderança ou com o setor de recursos humanos.”
Que mudanças você acredita que são necessárias para combater esse tipo de discriminação?
“As empresas precisam ouvir mais os funcionários negros e criar espaços seguros para denúncias. Além disso, acredito que contratar pessoas negras para cargos de liderança pode ajudar a mudar essa realidade.”
Conclusão
O combate ao racismo estrutural no mercado de trabalho exige um compromisso firme e contínuo por parte da sociedade, das empresas e das instituições públicas. É preciso que as organizações vão além de ações pontuais e implementem políticas robustas que promovam não apenas a inclusão, mas também a valorização e o crescimento dos profissionais negros. Programas de capacitação, treinamentos antirracistas e a criação de espaços seguros para denúncias são medidas fundamentais para desconstruir preconceitos e garantir ambientes corporativos mais justos.

Além disso, é essencial que as empresas compreendam que a diversidade não é apenas uma questão social, mas também uma poderosa ferramenta de inovação e crescimento. Promover a inclusão de pessoas negras em cargos de liderança contribui para ampliar
perspectivas, melhorar a tomada de decisões e fortalecer a cultura organizacional. As histórias de Renata, Vinícius e Ana Paula mostram que o racismo ainda é uma realidade presente, mas também evidenciam a importância da resistência, do diálogo e da construção de redes de apoio. Superar essas barreiras é um passo essencial para que o Brasil se torne um país mais igualitário, onde todos tenham oportunidades reais de desenvolvimento profissional e pessoal, independentemente de sua cor de pele.

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