A Câmara Municipal de Natal é cúmplice do cartel que controla o transporte público da capital potiguar, segundo o professor da UFRN e ex-vereador Robério Paulino. Ele acusou a maioria dos parlamentares de blindar os interesses do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Seturn), permitindo que Natal permaneça refém de um sistema ineficiente.
“A boa parte dos ônibus que circulam em Natal são veículos comprados usados de outras capitais, reformados aqui, sem ar-condicionado, e operando de forma degradante. Isso é uma vergonha para uma cidade quente como a nossa”, afirmou.
Robério afirmou que, durante o seu mandato, enfrentou a resistência sistemática da base governista a qualquer proposta que mexesse na lógica de favorecimento das empresas. Segundo ele, quando propôs a criação de uma empresa pública municipal de transporte, vereadores riram da ideia.
“Mas há cidades no Brasil que já implantaram esse modelo. O transporte que serve à população trabalhadora não pode ser pensado apenas como uma fonte de lucro”, defendeu ele, em entrevista ao programa De Volta Pra Casa, da 105 FM.
Para o professor, o colapso do sistema de transporte afeta diretamente a vida da população, especialmente das periferias. “A Zona Norte, por exemplo, tem linhas suprimidas. Tem gente que chega do trabalho à noite e precisa caminhar mais de um quilômetro até chegar em casa. Uma jovem que estuda à noite, depois de um dia inteiro de trabalho, sai da UFRN, atravessa a cidade e ainda enfrenta esse sofrimento. É desumano”, disse.
Robério criticou ainda a falta de transparência e de licitação no setor, afirmando que as empresas fazem o que querem com a cidade. “As linhas são cortadas sem aviso, os horários são escassos, os ônibus andam superlotados como latas de sardinha. O poder público não regula, não fiscaliza, não propõe nada. O que existe hoje é uma conivência da Câmara com esse cartel que domina a mobilidade em Natal”, afirmou. Segundo ele, o sistema atual penaliza os mais pobres e representa um dos maiores gargalos urbanos da cidade.
O ex-parlamentar também mencionou sua luta por um modelo alternativo de transporte, criticando o descaso das autoridades com propostas populares e acessíveis. Disse que, durante seu mandato, chegou a propor audiências públicas, encontros com especialistas e alternativas para modernização da frota e revisão da política tarifária, sem qualquer avanço.
“Não há interesse político em romper com esse esquema. Eles preferem manter a cidade engarrafada, atrasada e submissa aos empresários do setor”, resumiu.
Robério disse que sua experiência como vereador foi marcada por tentativas frustradas de romper esse ciclo de poder. E comparou: “em Porto Alegre, cidade fria, todos os ônibus têm ar-condicionado. Em Natal, sequer há cobertura nas paradas. Aqui, o trabalhador espera sob sol e chuva sem qualquer dignidade. Isso é retrato da desigualdade e da omissão política”.
