Exposição na Pinacoteca celebra cultura de comunidade em Gostoso

A exposição Faces do Reduto, instalada na Pinacoteca do Estado, celebra a memória, identidade e resistência da comunidade do Reduto, localizada em São Miguel do Gostoso, no litoral norte potiguar. A abertura aconteceu em 15 de abril e segue até 16 de maio. A entrada é gratuita.

Inspirada na trilogia documental da cineasta Mônica Mac Dowell, composta pelos curtas Rosa de Aroeira (2020), A Deus Querer (2022) e Julião, Filhos da Praia (2024), a exposição amplia a experiência cinematográfica e proporciona uma travessia sensorial por práticas como a pesca artesanal, a produção de farinha, a apicultura e o bordado de labirinto, além de aspectos simbólicos do território e das relações afetivas que o moldam.

São cinco instalações principais — Minha Terra, Minha Farinha, Meu Labirinto, Meu Mel e Minha Jangada — com objetos, palavras e imagens que carregam a memória coletiva da comunidade. Entre os itens, placas de cerâmica feitas com argila e com barro do Reduto, sacos de farinha e de goma produzidas artesanalmente com etiquetas narrativas, rendas costuradas pelas artesãs locais, quadros de melgueira com falas de moradores extraídas dos filmes da Trilogia do Reduto e velas de jangada suspensas como se dançassem ao vento compõem um conjunto que evoca permanência, resistência e afeto.

Tudo começou quando Mac Dowell percebeu que, atrás da sua casa na comunidade do Reduto, havia uma casa de farinha. Se impactou com as imagens: mulheres da comunidade reunidas, uma montanha de mandioca, mãos ágeis descascando, em um ritual que vai além do trabalho. Daí veio o primeiro filme, o Rosa de Aroeira, obra que começou de maneira espontânea, segundo a artista, mas virou documentário e circulou por alguns festivais.

“E cada vez mais eu fui me aprofundando na comunidade, conhecendo as pessoas e me encantando com todas. E aí fiz o segundo filme e o terceiro, compondo uma trilogia do Reduto que, de uma maneira geral, enfoca nos patrimônios culturais e imateriais da comunidade, além do enfoque nessas pessoas que em comum têm muito da força, do trabalho, da resiliência e da dignidade”, resume Mac Dowell.

Junto a isso, a cineasta também passou a desenvolver, a mais de dois anos, uma série de atividades na comunidade, como consultorias, inclusive para fortalecer o bordado labirinto, reconhecido oficialmente desde o ano passado como Patrimônio Cultural e Imaterial pelo Governo do Rio Grande do Norte. 

O bordado envolve uma técnica artesanal e tradicional da comunidade e é uma importante fonte de renda para as artesãs locais. Com o reconhecimento, as bordadeiras ganharam mais visibilidade e seus trabalhos passaram a ser reconhecidos pelo valor cultural, identidade do povo potiguar, herança artesanal e a beleza estética que carregam.

“E a ideia da exposição surgiu justamente para a gente poder ampliar o alcance dessas ações e dos filmes da trilogia para outros públicos, especificamente no que diz respeito a esses patrimônios”, diz a cineasta.

Salas

Os elementos fotográficos presentes na exposição também dialogam com o território retratado, e os suportes foram escolhidos de forma a ampliar essa conexão. Na Sala Rosa de Aroeira, a impressão FineArt sobre canvas em algodão remete aos saberes manuais retratados no filme, como a produção da farinha e o bordado de labirinto — com duas imagens sustentadas, inclusive, por varas de faxina e renda de labirinto.

Já na Sala A Deus Querer, impressões em papel fosco com molduras de paspatur em diferentes tamanhos criam um ritmo ondulante, em sintonia com a fluidez da natureza. O brilho do metacrilato na Sala Filhos da Praia remete ao mar e ao céu aberto, com imagens organizadas como o voo das garças. 

Ao final, a fotografia isolada Trabalho à Deriva, impressa em papel metálico, mostra a destruição das barracas de Tourinhos. Por causa das obras de urbanização da orla da Praia de Tourinhos, no ano passado, os barraqueiros da praia tiveram que, de uma hora para outra, deixar seus locais de trabalho e seus sustentos. Na previsão inicial da construção, o serviço duraria seis meses. No entanto, pela falta de licenças ambientais, o serviço foi paralisado por determinação da Justiça e segue causando transtornos.

“Uma situação que se estende até hoje por mais de um ano, sem nenhum tipo de solução, de apoio”, resume Mônica.

Experiência imersiva

A experiência da exposição Faces do Reduto se completa com uma sala imersiva concebida pelo artista visual Wil Amaral a partir de roteiro assinado por Mônica Mac Dowell. São sons, imagens e poesia que se fundem em um ambiente sensorial que transporta os visitantes para a paisagem da comunidade que inspirou o evento. 

“A ideia é levar o público a, de fato, emergir na comunidade do Reduto. Está sensacional essa sala. As pessoas vão poder sentir ali dentro das abelhas, dentro do roçado, fazendo o labirinto, na jangada pescando. Está bem bacana”, diz a artista. 

Serviço: Exposição Faces do Reduto

Data: de 16 de abril até 16 de maio

Funcionamento: terça a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados e domingos, das 9h às 16h

Local: Palácio Potengi – Pinacoteca do Estado – Praça Sete de Setembro, Cidade Alta. Natal (RN).

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