Para superar as longas filas do Sistema Único de Saúde (SUS) e a dificuldade de acesso a exames de alta complexidade, o Governo Federal discute levar cirurgias e exames do SUS para hospitais da rede privada como pagamento por dívidas a órgãos, como Receita Federal e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Instituições de saúde do estado e hospitais da rede privada da Bahia aprovam ampliação do atendimento, porém ressaltam que para a medida emplacar é preciso que haja uma atualização dos valores pagos do SUS por essas operações e exames, que tem valores considerados defasados.O grande desafio da proposta é a revisão do sistema de pagamento dos serviços prestados pelo SUS, de acordo com o presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AHSEB), Mauro Adan. Ele inclusive pontua que a ideia já é apresentada ao Governo Federal há alguns anos por entidades associativas de saúde. “Não há porque muitos brasileiros ficarem esperando na fila do SUS se nós temos equipamentos suficientes, mão de obra, estrutura para poder fazer as cirurgias, consultas, os atendimentos”, diz.“O que temos que encontrar é um equilíbrio entre os custos dos procedimentos e os preços que o governo está disposto a pagar. Na maioria das vezes, nós não vamos conseguir fazer na tabela do SUS, que tem uma defasagem. Esse preço negociado não pode ser inferior ao custo operacional do serviço”, afirma.Essa é a perspectiva também de Antônio Neto, gerente executivo do Hospital Português da Bahia, uma instituição filantrópica que já opera com a parceria do SUS e atende alta e média complexidade por meio do Sistema Único de Saúde.“Hoje nas instituições filantrópicas, o SUS faz uma remuneração, como a gente chama, por medição ou por contratualização, em que uma determinada instituição pactua uma quantidade de atendimentos com o SUS e ela tem uma parte dessa remuneração, que é variável de acordo com as métricas e com as metas alcançadas”, explica. No caso de uma cirurgia de hérnia, por exemplo, ele chega a remunerar ao médico 30, 40 reais do honorário médico, conforme exemplo dado por Antônio Neto.“Você hoje conceber que um indivíduo altamente especializado vai fazer um procedimento dessa magnitude e dessa complexidade, como abrir a barriga de um paciente, promover a saúde, curar um paciente por 30, 40 reais é absurdo. Tem procedimentos que chegam a ter valor 10 vezes menor no SUS em comparação com outros convênios”, afirma.Ele reforça que é a favor da iniciativa, mas que é preciso que haja uma adequação da remuneração da tabela do SUS. “Se a proposta for bem construída pode realmente ajudar a destravar gargalos históricos do SUS”, comenta.Outra instituição que aprova a iniciativa é o Conselho Estadual de Saúde da Bahia, na figura de seu presidente, Marcos Gêmeos. “Vemos com bons olhos dado que a rede privada também faz parte do sistema de saúde complementar, então a gente já convive com a rede privada de alguma forma prestando serviços ao SUS, à população. Há possibilidade de que dessa forma possamos ofertar mais especialidades, inclusive cirurgias que a população fica aguardando por muito tempo”, diz. Porém ele ressalta que caso a ação se torne realidade é preciso garantir que isso não mine investimentos na saúde.Pacientes aprovamEntre os pacientes que já utilizam convênios do SUS com a rede privada o resultado observado é dito como satisfatório, como no caso de Adriana Cerqueira, de 46 anos, que faz transporte escolar e por meio do Sistema Único de Saúde é atendida no Hospital Português. “Meu atendimento foi rápido. Não tive que esperar muito. Dependo exclusivamente do SUS e já fiz minha hemodiálise, agora estou fazendo o pós transplante”, conta.Com problemas renais, a decoradora de festas Cristiane Cabral, 50, veio de Portugal para o Brasil para ser atendida pelo SUS e fazer seu tratamento acompanhada da família. Na mesma situação que Adriana, Cristiane também é atendida no Hospital Português por meio do SUS. “Nesse momento da vida o SUS é tudo pra mim. Não tenho do que me queixar, só agradecer”, fala.
Governo quer usar hospitais privados para desafogar o SUS na Bahia
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