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Beto Morais — 22/08/2019
O acesso a plataformas de pornografia, a redes voltadas para produção e consumo de conteúdos eróticos e aplicativos para relações extraconjugais tem causado diversas demissões. Até um juiz dos EUA perdeu o cargo devido a esse comportamento.As dispensas, contudo, ocorrem em todo o mundo, inclusive no Espírito Santo, onde pelo menos 50 são demitidos todos os meses, conforme levantamento realizado pela reportagem junto a empresários e especialistas em gestão de pessoas e equipes da área de Recursos Humanos. Eles apontam que normalmente as empresas optam pela demissão sem justa causa. Uma das especialistas em pessoas e carreiras ouvidas, Gisélia Freitas contou um fato ocorrido em Vitória. Um profissional foi demitido porque a empresa identificou que ele estava entrando em site de pornografia durante o expediente. “Ele estava não só colocando em risco a segurança da empresa, devido aos vírus presentes nesses sites, como estava fazendo isso durante o expediente”, frisou. Ele foi demitido sem justa causa, embora coubesse a justa causa, segundo ela.Já em relação a quem se expõe produzindo conteúdo para sites adultos, ela pontuou que o Estado é muito pequeno e que as empresas têm medo da repercussão nos bastidores, por mais que seja velada. “As pessoas fazem isso por renda extra e podem se prejudicar no trabalho.”Para o CEO da Heach EUA e América Latina, Élcio Paulo Teixeira, o número de dispensas por causa de sites adultos e de namoro é ainda maior, podendo chegar a mil por ano. Quanto a redes como OnlyFans ou Privacy — sites para produção e consumo de conteúdo erótico — ele afirmou que legalmente a empresa nada pode fazer. “Mas ela demite, principalmente se lida com o público, e essa situação cria constrangimento”.Em Vitória, segundo ele, um profissional de educação física foi desligado de uma academia por fazer vídeos de sexo no OnlyFans. A situação chegou ao conhecimento da academia pelos próprios alunos. “Se alguém da conexão descobre, isso se espalha muito rapidamente”, alertou o especialista. Atividades que prejudicam a imagem da empresa, violam políticas internas ou utilizam recursos corporativos podem justificar demissão, inclusive por justa causa, segundo a CEO da Kato, Roberta Kato. “É fundamental conhecer e seguir as políticas internas para evitar complicações na carreira”.É possível justa causa em alguns casos, afirma juiz O uso de sites adultos em local de trabalho ou a exposição da imagem do colaborador de forma não alinhada aos valores da empresa em que atua, prejudicando sua imagem corporativa, pode resultar em demissão por justa causa, segundo o juiz da 3ª Vara do Trabalho de Vitória, Marcelo Tolomei Teixeira. O magistrado ressaltou que o limite é muito claro. Ele esclarece que, na vida privada dos empregados, o empregador raramente pode se intrometer.Já no ambiente de trabalho, ele explica que o empregado que faz uso de sites pornográficos pode estar incurso na chamada incontinência de conduta, que nada mais é do que o desregramento sexual, capaz de gerar a justa causa. “Como qualquer justa causa, se questionada em juízo, o empregador é que deve provar os fatos”.Mas se o empregado vender a própria imagem para sites eróticos, por exemplo, e o empregador entender que isso afeta a imagem dele enquanto profissional, ele pode perder o emprego.De acordo com o juiz, tudo depende do tipo do empregador, da clientela que ele atende. “Dependendo da repercussão, pode ser natural a demissão por justa causa”. No entanto, frisou que é necessário analisar caso a caso.Alerta para uso de serviços famosos, como o TinderPopulares no Brasil, o uso de aplicativos de paquera como Tinder e Happn podem levar à demissão quando feito de forma inapropriada ou durante o expediente. Especialistas explicam que as empresas buscam profissionais cuja imagem seja compatível com seus valores.Alguns profissionais relatam receio de entrar no aplicativo e encontrar gente conhecida, colegas de trabalho e até mesmo superiores. CEO do Grupo Kato, Roberta Kato explicou que se houver um código de ética descrevendo o comportamento adequado dos profissionais, o colaborador pode ser demitido por justa causa caso seu comportamento afete a imagem da empresa. A especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas detalhou que esses aplicativos são socialmente aceitos, sendo mais comum ainda em outras culturas. “Embora exista preconceitos, seu uso adequado não abala a vida do profissional em termos de carreira”, observou.Mas pontuou que, como ocorre em todas as redes sociais, tudo depende da forma como a pessoa se expõe. “Mesmo sendo algo socialmente aceito, tem que tomar cuidado com a postura”, frisou. O uso desses aplicativos é normal, mas não cabível durante o expediente, conforme explica o CEO da Heach EUA e América Latina, Élcio Paulo Teixeira. E mesmo que seja no próprio celular, a empresa percebe, segundo ele.Saiba maisProfissional tem direito à sua privacidade- Sites adultos O acesso a sites adultos, como XVideos, Pornhub, entre tantos outros, pode ser prejudicial ao empregado, do ponto de vista corporativo, quando feito dentro da empresa. Além disso, a produção de conteúdo para esses sites, envolvendo a imagem do colaborador, também pode trazer consequências caso repercuta sobre a imagem dele enquanto profissional e sobre a empresa. A avaliação deve ser feita caso a caso.O mesmo pode acontecer com o colaborador que decidir usar a própria imagem para produção e venda de conteúdo erótico em redes. Contudo, caberá ao empregador comprovar essas consequências. – Privacidade Todo cidadão tem direito à privacidade. Na vida privada dos empregados, o empregador raramente pode se intrometer, conforme explicou o juiz da 3ª Vara do Trabalho de Vitória, Marcelo Tolomei Teixeira.- Aplicativos de paquera Se utilizado durante o expediente, trazendo repercussão sobre o rendimento do funcionário, o aplicativo de paquera também pode ser um problema. Contudo, se utilizado em momentos apropriados, ele tende a não trazer repercussões sobre a vida profissional do empregado. Embora tudo dependa do posicionamento do cidadão no aplicativo.- Relacionamentos A presença em aplicativos de paquera muitas vezes é a forma que as pessoas encontram para se relacionar, por diversos motivos, tais como falta de tempo e oportunidade para sair e conhecer pessoas novas, timidez, entre tantos outros. Há, inclusive, pessoas que constituem família, com parceiros que conheceram por meio do recurso. A presença em si nessas redes não é problema: “É vida pessoal”, destacou a Ceo do Grupo Kato, Roberta Kato. Mas é possível sim que, no aplicativo, o profissional encontre outros colegas de trabalho e até mesmo profissionais da empresa hierarquicamente superiores. Fonte: Roberta Kato, Elcio Paulo Teixeira, Gisélia Freitas, Marcelo Tolomei.