Memória histórica, cultural e científica recebe investimento

Detentora de uma coleção preciosa de jornais que circularam no sul da Bahia e de registros sobre a cultura do cacau, entre outros documentos importantes, a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) foi uma das cinco instituições baianas contempladas na chamada pública da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).Dois projetos selecionados, ambos na área de acervos históricos e culturais, receberão cerca de R$ 8 milhões, o valor mais alto destinado entre as universidades do estado, que será utilizado para conservação, pesquisa, ampliação e divulgação do Laboratório de Memória e Cultura e do Centro de Documentação e Memória Regional.O mesmo será feito na Universidade Federal da Bahia (Ufba), que receberá R$ 7,4 milhões para quatro projetos; na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), também com quatro projetos e R$ 6,8 milhões; e pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba) e pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), com um projeto cada e que vão receber R$ 3,1 milhões e R$ 715 mil, respectivamente. Os doze projetos abocanharam R$ 26,4 milhões em recursos não reembolsáveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).“A Bahia foi muito bem. Nós sabemos a importância da Ufba, mas é muito bom termos universidades de outras regiões contempladas”, afirma o diretor Financeiro, de Crédito e Captação da Finep, Márcio Stefanni. Ele explica que o edital, no valor total de R$ 500 milhões, aprovou 108 propostas de todo o País, e conseguiu garantir que 46% dos recursos ficassem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O executivo destaca a importância de um financiamento governamental exclusivo para a preservação da memória científica e cultural. “O FNDCT estava prestes a acabar no governo anterior, mas teve sua integridade recomposta pelo presidente Lula e há dois anos opera com força total. O valor aprovado para este ano é 16% maior do que o de 2024”, garante.Coordenador do Centro de Documentação e Memória Regional da Uesc, o professor Marcelo Dias afirma que os recursos chegaram em boa hora, em um contexto de muita dificuldade para a manutenção dos importantes acervos reunidos a partir de 1993. São documentos como jornais, fotografias, fundos do poder judiciário, arquivos empresariais, sindicais, entre outros, além da produção da comunidade universitária. Marcelo explica que, pela origem diversa de suas coleções, o Cedoc ajuda a preservar e reconstruir a história e a memória para além das elites, inscrevendo as experiências de diferentes grupos sociais e étnicos da região cacaueira. Os recursos serão utilizados na requalificação do espaço físico, no processo de digitalização do acervo e sua disponibilização on-line, além da qualificação da equipe técnica. Segundo Marcelo, a compra de equipamentos como estantes deslizantes, vai permitir a ampliação da capacidade do acervo.Já a digitalização ampliará a consulta aos exemplares dos 25 jornais do acervo, que somam cerca de 200 mil páginas. “Essa coleção é a mais demandada por pesquisadores, sobretudo os títulos referentes aos municípios do litoral sul, constituindo-se em fonte de informações para inúmeros trabalhos a respeito da história regional do século XX”, afirma. Responsável pelo projeto Acervos do Semiárido Baiano, um dos contemplados da Uefs, o professor Patrício Barreiros esclarece que os recursos terão destinação semelhante, com objetivo de criação de uma plataforma digital de acesso público aos conteúdos de acervos pessoais e institucionais. “A ideia é criar uma rede colaborativa para recuperar estes acervos”, pontua Patrício.No caso dos documentos deixados pelo educador, escritor e historiador Afrânio Peixoto, dois pesquisadores já se dedicam ao conjunto, abrigado na Uefs. “Depois vamos devolver para a cidade, se ela tiver condições de recebê-lo, pois é preciso condições físicas adequadas e uma equipe qualificada para o manuseio”, ilustra o professor.Preservação Os projetos de preservação da memória cultural predominaram entre as propostas baianas, mas quatro delas são voltadas para acervos científicos. É o caso do Museu de História Natural, que funciona no Instituto de Biologia da Ufba, e dedica-se à pesquisa da fauna e da flora através do Herbário Alexandre Leal Costa e do Museu de Zoologia. A professora Adriana Oliveira Medeiros, que está à frente da proposta, destaca a importância da grande biodiversidade presente no acervo, um dos poucos museus científicos da Bahia. “A maioria dos museus deste tipo fica no Sul e no Sudeste”, reforça. Entre as melhorias que serão feitas estão a aquisição de equipamentos preventivos contra incêndio, como uma porta corta-fogo, climatizadores e umidificadores, além de móveis específicos. “Esse edital representa um grande salto, pois são equipamentos caros e fundamentais para ampliar a nossa atuação”, pontua Adriana, acrescentando que o espaço recebe estudantes e pesquisadores externos através da Sala de Exposições e que interessados em conhecer o museu podem agendar uma visita. A contrapartida é uma das exigências do edital, como explica a Coordenadora do Memória Institucional do Ifba, Tassila Ramos. No caso do projeto Preserva Ifba, a ideia é disponibilizar também para o público externo a “massa documental” acumulada pela instituição em seus 115 anos de história e muitas transformações. Localizado no prédio da reitoria, no Canela, o memorial passa por reforma para abrigar os novos equipamentos que serão comprados com o dinheiro do edital. A proposta também contempla a instalação de um laboratório de digitalização para materiais de grandes dimensões – que será disponibilizado para outras instituições – e a contratação de uma empresa para organizar o memorial. “Nosso acervo é bem diverso e reúne matrizes curriculares de diferentes períodos, um rico conjunto fotográfico dos anos 30 e 40, objetos e artefatos que servem de fonte para várias pesquisas”, detalha Tarssila.
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