Poluição do ar muda paisagem da Grande SP; Brasil adota padrão com níveis de poluentes 3 vezes maior do que recomendado pela OMS, diz estudo

‘Nossos padrões estão defasados tanto para ozônio e dióxido de oxigênio quanto para material particulado, isso traz consequências sérias’, explicou Pedro Hartung, diretor do Instituto Alana. Poluição do ar muda paisagem da RMSP
A poluição do ar está mudando a paisagem da região metropolitana de São Paulo. Na manhã desta terça-feira (3), o céu estava com uma névoa mais densa que o normal. À tarde, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) registrou qualidade do ar ruim em quatro estações de medição.
No entanto, os valores de referência dos poluentes adotados pelo Brasil são maiores do que os recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (leia mais abaixo).
Moradores registraram imagens do céu esbranquiçado em várias partes da Grande São Paulo. Na Zona Sul, a represa de Guarapiranga desapareceu do horizonte de Santo Amaro. Era esse o cenário poucos antes das 11h da manhã. Na Zona Leste, na região de Aricanduva, mal dava para ver os prédios do bairro vizinho. Em Cotia, a faixa verde das montanhas também ficou encoberta.
“Tenho asma, rinite, vários problemas respiratórios. Uso algumas coisas para ajudar, mas é bem complicado… Sorinho para melhorar a respiração, mas é difícil”, relatou a psicóloga Ana Paula Rui.
Por recomendação médica, o gerente de condomínios José Silva está bebendo muita água e deixou de voltar para casa a pé, uma caminhada de 4 km entre Pinheiros e Butantã.
“Garganta seca, coriza, nariz tampado. Eu me sinto triste e doente, você não pode fazer nada, a gente se sente mais cansado, dá fadiga, menos disposição para o trabalho”, contou.
Esses sintomas são causados por uma combinação perigosa para a saúde: ar seco, escassez de chuva e emissão de poluentes, principalmente dos veículos. Além disso, a poluição nos últimos dias foi engrossada pela fumaça das queimadas no interior do estado, que contribuiu com a mudança da paisagem.
A Cetesb possui 29 estações que medem a qualidade do ar na região metropolitana. Elas simulam o funcionamento do nariz humano e a quantidade de ar que passa pelos pulmões em 24 horas. Às 17h desta terça (3), o mapa da Cetesb indicava 4 estações com qualidade do ar ruim: Ponte dos Remédios, Nossa Senhora do Ó, Osasco e Pico do Jaraguá.
Níveis maiores de concentração de poluentes
Uma pesquisa feita pelo Instituto Ar e pelo Instituto Alana analisou os níveis de concentração de poluentes no Brasil e em oito países e comparou os valores de referência adotados para determinar se a qualidade do ar está boa, ruim ou péssima. O estudo mostra que o Brasil adota um padrão com níveis de concentrações de poluentes cerca de três vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
“Isso quer dizer que nossos padrões estão defasados, não estão de acordo com os níveis da OMS, tanto para ozônio e dióxido de oxigênio quanto para material particulado. Isso traz consequências sérias”, explicou Pedro Hartung, diretor do Instituto Alana.
“Enquanto outras cidades, como Paris, têm fechamento do trânsito, do movimento de carros, quando atingem um valor específico, em São Paulo, a gente está num alerta ainda mediano. Isso é significativo, porque a gente não tem as informações claras do efeito que isso tem na nossa própria saúde”, afirmou o especialista.
Por outro lado, a gerente de qualidade do ar da Cetesb diz que os parâmetros de São Paulo são seguros.
“Pela lei do nosso decreto de 2013, a população está segura quanto aos índices de qualidade do ar, porque quando a qualidade é péssima, que realmente compromete a saúde de todos, nós temos os estados de atenção, alerta e emergência, que são ações que o próprio governo toma para minimizar essas concentrações. Hoje, nós temos qualidade moderada, ruim, perto de avenidas, o que é muito comum na nossa cidade”, garantiu Lúcia Guardani, gerente de divisão de qualidade do ar da Cetesb.
O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) aprovou em junho deste ano uma nova resolução que estabelece prazos para que os estados reduzam a poluição do ar, a partir de 2025, até os patamares estabelecidos pela ONU em 2021. A diminuição das emissões de poluentes vai ser feita em etapas durante os próximos 20 anos.
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