Igrejas são marcos da história e da fé do povo de Belém

A partir do núcleo inicial da cidade de Belém, no entorno do Forte do Castelo, o caminho que se estende em direção ao bairro da Campina guarda templos religiosos cujas histórias se misturam com a da própria fundação da capital paraense. Mais do que templos religiosos, tais construções também são bens culturais e patrimoniais que ajudam a contar parte da memória da cidade.A historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz considera que quando se analisa a paisagem da cidade é possível identificar que ela passou por transformações ao longo dos séculos por meio do processo de urbanização, de novos usos e formas de viver a cidade. Apesar disso, a permanência de algumas construções, como algumas igrejas, por exemplo, permite conhecer um pouco dessa memória.Leia mais:Igreja e Hemopa celebram Páscoa com campanha de doaçãoPáscoa: fiéis de igreja se reúnem para doação de sangue“Se olharmos cuidadosamente edificações, largos, praças podemos fazer uma ‘arqueologia da paisagem’ e perceber também as permanências. O que permanece na panorâmica da cidade, sobrevivendo aos seus construtores e chegando até nossos dias, se traduz na memória histórica do lugar narrada pela sua materialidade. As igrejas antigas, ou coloniais são ‘rugosidades’, como diria Milton Santos acerca dos prédios antigos”, explica. “Por meio delas podemos lembrar o que um dia foi a Feliz Lusitânia – primeiro nome do núcleo embrionário da cidade – onde existiu a ermida dentro do Forte do Presépio e que depois foi transferida para fora da fortificação, dando origem à Catedral de Belém, a Sé”.Também através da resistência e permanência dessas igrejas coloniais, a professora destaca que é possível rememorar a chegada missionários franciscanos, carmelitas, mercedários, jesuítas e o impacto de suas atividades no território que viria a se tornar a cidade de Belém. Essas edificações de seus respectivos templos, hoje, fazem parte do patrimônio histórico da capital paraense. “Mais do que pedra e cal, estes prédios fazem lembrar a ocupação e conquista portuguesa, o trabalho e a catequese a que foram submetidos os povos indígenas, a cristianização dentre outros processos”.Quer ler mais notícias do Pará? Acesse o nosso canal no WhatsApp!Dayseane explica que o núcleo inicial de Belém, outrora chamado de Feliz Lusitânia, foi marcado pela ocupação militar e pela ocupação religiosa, referências que marcaram o processo de colonização e conquista do território. Daí a presença tão significativa de igrejas naquela área da cidade. “Para efetivar a ocupação e garantir a expansão da fé cristã, o clero – regular e secular – ou seja padres e missionários erigiram suas ermidas, que depois se transformaram em capelas e igrejas monumentais, acompanhando a evolução e a expansão da cidade”, pontua a historiadora. “Assim, no Centro Histórico de Belém – atuais bairros da Cidade Velha e Campina – parte mais antiga da cidade, se concentram as mais antigas Igrejas: Catedral ( 1617), Igreja do Carmo (1626), Convento e Capela de Santo Antônio ( 1627), Igreja das Mercês ( 1640), Igreja jesuítica de São Francisco Xavier, agora chamada de Santo Alexandre (1653) dente outras”.Além dessas, a forte presença dos missionários, das ordens terceiras e das irmandades que atuaram na então Belém colonial ainda estão representadas através de outras igrejas, como a Capela da Ordem Terceira contígua à Igreja do Carmo; a igreja do Rosário dos Homens Pretos, no bairro da Campina; além da Igreja do Rosário dos Homens Brancos, que já não existe mais, mas que ficava no local onde hoje se encontra a Praça do Carmo. “Estas igrejas são monumentos tombados pelos órgãos de preservação do patrimônio cultural e são História e Memória, documentos materiais que nos fazem rememorar mais de quatro séculos de História. Estes bens culturais estão no domínio do sagrado para grupos sociais, mas também são exemplares de diversos estilos arquitetônicos, espaços musealizados e de usufruto de toda a comunidade”.IGREJAS HISTÓRICASIgreja da Sé (Catedral Metropolitana de Belém)

Onde? Praça Dom Frei Caetano Brandão – Cidade Velhal Erguida no núcleo inicial da cidade de Belém, a Igreja da Sé passou por várias reformas até que chegasse à configuração atual. A primeira igreja erguida no local data do período de 1616 a 1618 e era consagrada a Nossa Senhora da Graça. A segunda construção, erguida para ser a Igreja Matriz da Cidade, é de 1718 ou 1719. Já a igreja atual foi inaugurada parcialmente em 1755 e concluída em 1782. Acréscimos decorativos importantes foram realizados no interior da Igreja no final do século XIX, com a participação de artistas italianos. Alguns detalhes do seu interior são atribuídos ao arquiteto Antônio Landi, tendo sua participação invocada também nas obras de finalização da fachada.l Entre os destaques da igreja, está o altar elaborado em diferentes tipos de mármore italiano sob autoria de Luca Carimini, membro da Academia de San Luca, e ainda três telas de autoria do pintor italiano Domenico De Angelis, retratando São Sebastião, Maria Madalena e São Jerônimo. As pinturas executadas em 1891 seguem até hoje nas capelas laterais do interior da igreja.Igreja de Santo Alexandre

Onde? Praça Dom Frei Caetano Brandão – Cidade Velhal Marco da presença dos Jesuítas em Belém, a Igreja de Santo Alexandre é considerada o maior monumento jesuíta do Norte do Brasil. Inicialmente dedicada a São Francisco Xavier, a primeira construção foi erguida em 1653 e tinha apenas um altar. Já em 1668 é erguida a segunda igreja, já anexa ao colégio. A construção atual foi inaugurada entre 1718 e 1719, tendo passado, posteriormente, por reformas e ampliação até a expulsão dos jesuítas das terras portuguesas, em 1749.l Dentre os destaques do interior da igreja, estão os púlpitos e o altar-mor talhados em madeira. Para tal decoração, os jesuítas utilizaram-se de mão de obra indígena treinada nas escolas de talha e pintura mantidas pela ordem religiosa à época. Outro grande destaque são as pinturas do forro da sacristia. Hoje a Igreja de Santo Alexandre, assim como o arcebispado anexo à igreja, abriga o Museu de Arte Sacra de Belém, com um acervo formado por obras e objetos sacros.Igreja Nossa Senhora do Carmo

Onde? Tv. Dom Bôsco, 69-109 – Cidade Velha (Praça do Carmo)l Apontada como a única construção religiosa de Belém com fachada em pedra – fachada essa importada de Lisboa na metade do século XVIII -, a Igreja do Carmo foi construída em terreno doado pelo então governador da Capitania do Pará, o capitão-mor Bento Parente. A primeira construção data de 1626, porém a edificação foi reconstruída em 1696. Em uma das reformas realizadas, ocorreram danos à nave já existente, sendo responsável pelas obras de recuperação o arquiteto italiano Antônio Landi, que realizou intervenções na nave e em outros elementos.l Além da fachada, estão entre os destaques da construção os retábulos do altar mor em talha dourada feita por artesãos indígenas e que data de 1720.Capela de São João Batista

Onde? Rua João Diogo – Cidade Velhal A primeira construção data de 1622, fazendo com que a Capela de São João seja considerada uma das primeiras de Belém. A construção atual é de autoria do arquiteto Antônio Landi, tendo sido inaugurada em 1777. Dentre os destaques da construção estão, além da cúpula, que só se observa de dentro da igreja, as chamadas ‘pinturas de ilusão’, técnica artística de desenho que produz a sensação de profundidade. Obra única no Brasil, tais desenhos ficaram escondidos até a década de 90, quando, sob a intervenção do então diretor da Superintendência do Iphan, Jorge Derenji, descobriu-se que as pinturas documentadas ainda existiam na igreja por debaixo de camadas de outras pinturas que haviam sido realizadas posteriormente ao longo dos anos. Hoje, tais desenhos podem ser vistos por toda a igreja.

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