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MARK SCHIEFELBEIN/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O governo do presidente Donald Trump decidiu na noite desta sexta-feira (11) pela exclusão de smartphones, computadores e outros eletrônicos das tarifas em vigor hoje, de 145% sobre importações da China e de 10% sobre outros países.A lista de exceções foi publicada pela US Customs and Border Protection, a alfândega americana. Além de smartphones, estão isentos laptops, discos rígidos, processadores de computador e chips de memória, entre outros — itens que em geral não são fabricados pelos Estados Unidos.Um alto funcionário do governo ouvido pelo New York Times disse que as isenções visam manter o fornecimento americano de semicondutores, uma tecnologia fundamental usada em smartphones, carros, torradeiras e dezenas de outros produtos.Segundo o jornal, o alívio pode ser de curta duração, já que o governo Trump está preparando outra investigação comercial relacionada à segurança nacional sobre semicondutores. Isso também se aplicará a alguns produtos derivados, como eletrônicos, já que muitos semicondutores entram nos Estados Unidos dentro de outros dispositivos.Entre os prejuízos das tarifas para as grandes empresas de tecnologia, o caso do iPhone é emblemático. Em relatório publicado antes da decisão, a consultoria TechInsights, voltada à indústria de semicondutores, afirmou que a fabricação nos EUA de um iPhone, hoje enraizada na China, poderia elevar o preço do smartphone a US$ 3.500 (R$ 20,5 mil).A análise usa como base o iPhone 16 Pro com 256 GB de armazenamento. Nos EUA, o produto custa hoje US$ 1.099 (R$ 6.450, sem considerar impostos) .Um dos objetivos de Trump é forçar as empresas a fabricar produtos —e gerar empregos— nos Estados Unidos. Mas a consultoria considera improvável a mudança da produção do celular para solo americano. Isso exigiria anos de investimento em automação e infraestrutura para se alcançar o patamar de 200 milhões de smartphones fabricados.A mera importação do produto, com as taxas estabelecidas antes da exclusão dos smartphones, já faria com que o produto aumentasse de preço nos Estados Unidos. Com a taxa de 145%, o valor poderia saltar quase 70% e chegar a US$ 1.850 (R$ 10,8 mil), afirma a TechInsights.Entre os produtos que não estarão sujeitos às novas tarifas, estão ainda máquinas usadas para fabricação de semicondutores, o que segundo a Bloomberg beneficiaria a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., que anunciou um novo investimento nos EUA, bem como para outros fabricantes de chips.As tarifas de Trump vêm atingindo com força as empresas de tecnologia. Desde março, a Apple fretou seis aviões cargueiros para transportar 600 toneladas de iPhones, totalizando cerca 1,5 milhão de unidades do smartphone, da Índia para os Estados Unidos.As exceções, que se somam a produtos essenciais que não haviam sido incluídos no tarifaço, como os farmacêuticos, não são um alívio completo, já que outras tarifas se aplicam a eletrônicos e smartphones, como a sobretaxa de 20% aplicada em fevereiro a bens importados da China.RECUO NA GUERRA COMERCIALO Financial Times lembrou que a administração Trump está moderando sua abordagem à guerra comercial, e que a suspensão acontece após semana de intensa turbulência nos mercados.Para o jornal, a isenção de eletrônicos das tarifas anunciadas pelo presidente americano, Donald Trump, é uma grande vitória para empresas como Apple, Nvidia e Microsoft, além de um primeiro sinal de abrandamento das tarifas do presidente dos EUA contra a China.A avaliação é a de que a dispensa para smartphones e computadores será especialmente bem-vinda pela Apple, já que a maior parte de sua cadeia de suprimentos está centrada na China. Analistas estimam que cerca de 80% de seus iPhones ainda são fabricados no país, apesar dos esforços para diversificar a produção para a Índia nos últimos anos.IMPACTO NA INFLAÇÃOO objetivo do tarifaço de Trump, que em 2 de abril anunciou a imposição de tarifas recíprocas —na prática, sobretaxas— sobre produtos comprados de outros países, é trazer empregos e fábricas de volta aos EUA.O presidente americano justifica as medidas afirmando que outros países defendem suas indústrias cobrando dos EUA tarifas elevadas e que impor um sobrepreço a produtos hoje importados pelos americanos atrairia a produção de manufaturados de volta ao país.Mas os economistas alertam que as tarifas podem impulsionar os preços americanos, impactar o crescimento econômico e prejudicar relações internacionais.O alerta mais recente foi feito pelo chefe do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de Nova York, John Williams, que afirmou nesta sexta-feira (11) que o tarifaço de Trump fará a inflação nos EUA disparar para até 4% este ano. Esse patamar seria muito acima do mandato de 2% do Fed.Williams também disse que espera que o crescimento “desacelere consideravelmente em relação ao ritmo do ano passado, provavelmente para um pouco abaixo de 1%”, enquanto o desemprego pode subir dos atuais 4,2% para entre 4,5 e 5%.De acordo com ele, um “sentimento de incerteza está se tornando cada vez mais evidente, especialmente em dados, como pesquisas e informações de contatos empresariais”. Ele acrescentou que houve “uma queda acentuada na percepção do consumidor, e as medidas da perspectiva empresarial também enfraqueceram”.Na semana anterior, Jerome Powell, presidente do Fed, já havia alertado que as tarifas propostas pela administração foram maiores do que o esperado e o resultado provavelmente seria uma inflação mais alta e um crescimento mais lento.