A sensação de insegurança escalou com a entrada no estádio, cerca de uma hora antes do apito inicial. Victoria relatou provocações constantes por parte dos torcedores do Colo-Colo, incluindo o arremesso de pedras e copos de bebida em direção aos brasileiros, além de ameaças de invasão ao setor visitante. “A gente tinha certeza absoluta que algo muito ruim ia acontecer. A gente praticamente não conseguiu acompanhar o primeiro tempo da partida com medo. Tivemos de implorar por ajuda da segurança do estádio, mas eles só olhavam para a gente e diziam ‘tranquilo, tranquilo’”, lamentou.O advogado Bismarck Fernando Araruna Macedo, de 25 anos, que acompanhava seu segundo jogo internacional do Fortaleza, também presenciou o ambiente de hostilidade. “Antes do jogo começar já notamos algo estranho porque alguns torcedores do Colo Colo passavam atrás do nosso setor, alguns de balaclava, sem mostrar o rosto. Chegaram a arremessar pedras, mas sem machucar ninguém”, relatou.
No segundo tempo, a atmosfera se tornou ainda mais carregada. Igor da Silveira Holanda, engenheiro eletricista e narrador de futebol, de 32 anos, percebeu uma mudança repentina no comportamento da torcida organizada do Colo-Colo. “Nunca tinha visto algo assim, de repente eles pararam de cantar. Ficou um silêncio, como se estivessem de luto mesmo. Depois fomos saber da morte dos torcedores fora do estádio”, contou.Os torcedores do Fortaleza estavam posicionados no lado oposto ao da invasão ao gramado por parte da torcida do Colo-Colo. Bismarck Macedo descreveu o momento da confusão: “Vimos quando começou uma confusão ali onde estava a organizada, uma confusão que parecia ser entre os torcedores do Colo Colo mesmo. Mas o jogo continuou rolando. Foi quando eles quebraram aquela proteção e entraram no campo. Foi tudo bem rápido, os jogadores do Fortaleza indo ao vestiário. Ficou a tensão por ali”.
Após a confirmação das mortes e a paralisação da partida, os torcedores do Fortaleza permaneceram entre 1h30 e 2h dentro do estádio, aguardando a liberação. A saída ocorreu sem escolta policial, o que gerou surpresa e receio. “Saímos com bastante receio, mas conseguimos chegar aos ônibus. Depois nos falaram que a decisão de não ter escolta foi proposital, para evitar ataque da torcida do Colo Colo porque o alvo deles eram os policiais”, explicou Silveira. Um funcionário do Fortaleza prestou suporte aos torcedores brasileiros durante a tensa espera.Victoria expressou solidariedade em relação às mortes, mas ressaltou a vulnerabilidade da torcida visitante. “A gente se compadece muito pela situação dos dois torcedores que faleceram. Mas não foi a nossa culpa, né. Eles invadiram o campo, e a segurança continuou sem fazer nada”, concluiu a torcedora, ecoando o sentimento de insegurança e apreensão que marcou a experiência dos brasileiros em Santiago.